Los Angeles – O jornalismo nรฃo acaba no ponto final, mas hรก muitos jornalistas nos Estados Unidos que andam pensando em colocar um ponto final no jornalismo como profissรฃo por causa do burnout.

Um levantamento da Hussman School of Journalism and Media mostrou que 72% dos respondentes afirmaram ter cogitado abandonar a carreira justamente por terem sofrido algum tipo de esgotamento, seja ele pessoal ou profissional – uma linha sempre borrada nessa carreira.

O descontentamento generalizado รฉ justificado pela precarizaรงรฃo do ofรญcio, que estรก, na maioria dos casos, mal remunerado e cada vez mais exigente.

Para entender melhor o abismo da precarizaรงรฃo do jornalismo nos Estados Unidos, basta olhar para o aumento da distรขncia que separa um repรณrter de um relaรงรตes pรบblicas no paรญs.

Em 2001, para cada dรณlar pago a um RP, pagava-se 71 centavos de dรณlar a um repรณrter. Agora, para um dรณlar pago a um especialista de relaรงรตes pรบblicas, paga-se apenas 61 centavos de dรณlar a um repรณrter.

Ainda nesta questรฃo da precarizaรงรฃo, vale lembrar que a ascensรฃo do jornalismo digital e a consequente queda nas receitas de publicidade tรชm levado muitos veรญculos de comunicaรงรฃo a adotar prรกticas de trabalho cada vez mais exigentes e desgastantes.

Cada um no seu quadrado: o efeito Trump

Outro fator crucial que contribui para o aumento do burnout entre jornalistas รฉ a polarizaรงรฃo polรญtica e ideolรณgica que permeia o cenรกrio midiรกtico contemporรขneo.

Em um mundo onde os limites entre fatos e opiniรตes muitas vezes se confundem, os jornalistas enfrentam a difรญcil tarefa de manter a imparcialidade e a objetividade em meio a pressรตes polรญticas e ideolรณgicas.

A ascensรฃo de figuras polรญticas polarizadoras, como o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desencadeou um ambiente de hostilidade e desconfianรงa em relaรงรฃo ร  imprensa.

Jornalistas sรฃo frequentemente alvos de ataques verbais e atรฉ mesmo fรญsicos por parte de grupos polรญticos e movimentos extremistas, o que gera um clima de inseguranรงa e ansiedade.

Alรฉm disso, a constante exposiรงรฃo a conteรบdos violentos, perturbadores e emocionalmente desgastantes tem se demonstrado capaz de causar impacto significativo na saรบde mental dos jornalistas.

Nessa linha, a cobertura de eventos como desastres naturais, atentados terroristas e conflitos armados destaca-se como motor para o estresse pรณs-traumรกtico.

Hรก luz no fim do tรบnel?

Sim, mas รฉ preciso que alguรฉm pague a conta da energia.

O burnout entre jornalistas รฉ um problema multifacetado que requer uma abordagem holรญstica e colaborativa.

Para combater esse mal, รฉ essencial que as empresas de mรญdia adotem polรญticas que promovam o bem-estar e a saรบde mental de seus funcionรกrios, como a implementaรงรฃo de programas de apoio psicolรณgico e a reduรงรฃo da carga de trabalho.

Alรฉm disso, รฉ fundamental que a sociedade reconheรงa o valor do jornalismo independente e apรณie os profissionais da mรญdia em sua busca pela verdade e pela transparรชncia.

Quem mais sofre com orรงamentos enxutos sรฃo empresas locais de jornalismo, que quase nรฃo atraem grandes anunciantes e contratos.

O cenรกrio รฉ tรฃo grave que, em 2023, a perda de jornais locais aumentou para uma mรฉdia de 2,5 por semana, contra dois por semana no ano anterior. Houve mais de 130 fechamentos ou fusรตes de jornais no ano passado.

Desde 2005, os EUA perderam quase 2,9 mil jornais locais.

Ignorar a relevรขncia e o papel do jornalzinho de bairro sobre uma comunidade, por exemplo, รฉ renegar a liรงรฃo mais certeira ensinada pelo escritor russo Leon Tolstoi:

“Se queres ser universal, comeรงa por pintar a tua aldeia”.

Logomarca Reportagem Especial sobre Saรบde Mental, Comunicaรงรฃo e Mรญdia

 

Reportagem Especial MediaTalks – Comunicaรงรฃo, Imprensa, Redes Sociais e a crise da Saรบde Mental