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‘Breaking up with the news’: maioria dos jornalistas americanos já pensou em largar a profissão devido ao burnout

Invasão do Capitólio

Radicais de direita invadiram o Capitólio em Washington, em 6/01/21. (TapTheForwardAssist, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons)

Los Angeles – O jornalismo não acaba no ponto final, mas há muitos jornalistas nos Estados Unidos que andam pensando em colocar um ponto final no jornalismo como profissão por causa do burnout.

Um levantamento da Hussman School of Journalism and Media mostrou que 72% dos respondentes afirmaram ter cogitado abandonar a carreira justamente por terem sofrido algum tipo de esgotamento, seja ele pessoal ou profissional – uma linha sempre borrada nessa carreira.

O descontentamento generalizado é justificado pela precarização do ofício, que está, na maioria dos casos, mal remunerado e cada vez mais exigente.

Para entender melhor o abismo da precarização do jornalismo nos Estados Unidos, basta olhar para o aumento da distância que separa um repórter de um relações públicas no país.

Em 2001, para cada dólar pago a um RP, pagava-se 71 centavos de dólar a um repórter. Agora, para um dólar pago a um especialista de relações públicas, paga-se apenas 61 centavos de dólar a um repórter.

Ainda nesta questão da precarização, vale lembrar que a ascensão do jornalismo digital e a consequente queda nas receitas de publicidade têm levado muitos veículos de comunicação a adotar práticas de trabalho cada vez mais exigentes e desgastantes.

Cada um no seu quadrado: o efeito Trump

Outro fator crucial que contribui para o aumento do burnout entre jornalistas é a polarização política e ideológica que permeia o cenário midiático contemporâneo.

Em um mundo onde os limites entre fatos e opiniões muitas vezes se confundem, os jornalistas enfrentam a difícil tarefa de manter a imparcialidade e a objetividade em meio a pressões políticas e ideológicas.

A ascensão de figuras políticas polarizadoras, como o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desencadeou um ambiente de hostilidade e desconfiança em relação à imprensa.

Jornalistas são frequentemente alvos de ataques verbais e até mesmo físicos por parte de grupos políticos e movimentos extremistas, o que gera um clima de insegurança e ansiedade.

Além disso, a constante exposição a conteúdos violentos, perturbadores e emocionalmente desgastantes tem se demonstrado capaz de causar impacto significativo na saúde mental dos jornalistas.

Nessa linha, a cobertura de eventos como desastres naturais, atentados terroristas e conflitos armados destaca-se como motor para o estresse pós-traumático.

Há luz no fim do túnel?

Sim, mas é preciso que alguém pague a conta da energia.

O burnout entre jornalistas é um problema multifacetado que requer uma abordagem holística e colaborativa.

Para combater esse mal, é essencial que as empresas de mídia adotem políticas que promovam o bem-estar e a saúde mental de seus funcionários, como a implementação de programas de apoio psicológico e a redução da carga de trabalho.

Além disso, é fundamental que a sociedade reconheça o valor do jornalismo independente e apóie os profissionais da mídia em sua busca pela verdade e pela transparência.

Quem mais sofre com orçamentos enxutos são empresas locais de jornalismo, que quase não atraem grandes anunciantes e contratos.

O cenário é tão grave que, em 2023, a perda de jornais locais aumentou para uma média de 2,5 por semana, contra dois por semana no ano anterior. Houve mais de 130 fechamentos ou fusões de jornais no ano passado.

Desde 2005, os EUA perderam quase 2,9 mil jornais locais.

Ignorar a relevância e o papel do jornalzinho de bairro sobre uma comunidade, por exemplo, é renegar a lição mais certeira ensinada pelo escritor russo Leon Tolstoi:

“Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.

 

Reportagem Especial MediaTalks – Comunicação, Imprensa, Redes Sociais e a crise da Saúde Mental

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