Londres – Uma pesquisa feita nos EUA pelo Pew Research Center confirmou o avanço de dois grandes desafios do jornalismo: a perda de força da imprensa local e o desaparecimento da mídia impressa, tendências que também têm sido verificadas em estudos feitos em outros países. 

Um dos aspectos interessantes desse trabalho é o mapeamento da diferença entre o que os entrevistados relatam como sendo importante para eles e o que fazem na prática. 

 A grande maioria dos adultos (85%) afirma que os meios locais são pelo menos um pouco importantes para o bem-estar da comunidade, enquanto 44% afirmam que o jornalismo local é extremamente ou muito importante. 

Convencer o leitor a pagar é um dos desafios do jornalismo

Mas alguém tem que pagar por ele, em um momento em que a absorção das receitas publicitárias pelas plataformas digitais, sobretudo arregimentando pequenos negócios que usam as redes para atingir diretamente seus consumidores potenciais de forma mais direcionada, devastou a mídia local nos EUA e de muitos outros países. 

Só que os mesmos que dão valor ao jornalismo local preferem acessar notícias sem pagar. Apenas 15% dos entrevistados afirmaram ter pago por assinaturas de veículos locais no último ano, apesar de acharem que a imprensa da região está fazendo um bom trabalho. 

A percepção de que os jornalistas estão em contato com as pessoas que vivem na comunidade até aumentou. Cerca de sete em cada dez adultos norte-americanos (69%) afirmam que os jornalistas locais na sua área estão em contato com a sua comunidade, contra 63% que afirmaram isto em 2018. 

Os entrevistados destacam quatro aspectos positivos da cobertura local: a precisão das notícias (71%), a atenção aos fatos importantes (68%, a transparência (635) e o escrutínio sobre autoridades locais (61%), que veículos nacionais não conseguem fazer. 

Até os que se declaram eleitores do Partido Republicano, inclinados a demonstrar opiniões mais desfavoráveis sobre a imprensa tradicional, se disseram confiantes na precisão do jornalismo local: 66% deles pensam assim. 

O valor do jornalismo local ficou evidente na edição 2024 do prêmio Pulitzer, em que veículos regionais e nativos digitais derrotaram grandes organizações de mídia em categorias importantes. No entanto, esses vencedores são gotas d’água em um oceano de cortes de vagas, suspensão de impressos e fechamento total de veículos. 

Notícias online: um caminho sem volta 

A culpa da crise pode ser atribuída em parte justamente à pouca disposição em pagar pelo conteúdo aliada ao declínio de interesse nos formatos tradicionais. A pesquisa do Pew constatou que os americanos são agora mais propensos a receber notícias locais online, seja em sites de notícias (26%) ou redes sociais (23%). Ambos os números aumentaram em relação a 2018. 

E menos pessoas dizem agora que preferem se informar por um aparelho de TV (32%), em comparação a 41% que disseram o mesmo há seis anos. Mas as TVs não saem totalmente perdendo, pois há audiência que migra para seus canais digitais. 

Já o papel não migra. Os impressos declinaram de 13% para 9%, e sua audiência geral também.

Um terço dos americanos afirma que pelo menos às vezes recebe notícias locais de um jornal diário, seja por via impressa, online ou pelos canais oficiais nas redes – uma queda de 10 pontos em relação a 2018. 

A parcela dos que se informam localmente por jornais está no mesmo nível da taxa dos que recebem notícias locais de agências governamentais locais (35%) ou boletins informativos locais (31%).

Jornalismo ‘trocado’ por fóruns de redes sociais 

Já as redes sociais não têm do que reclamar. Grupos do Facebook ou o aplicativo Nextdoor são os preferidos: 52% dos adultos nos EUA dizem que, pelo menos às vezes recebem notícias locais desses fóruns, um aumento de 14 pontos em relação a 2018.

Segundo o Pew, ao serem perguntados por que não pagam por notícias, a resposta foi óbvia: a oferta de conteúdo gratuito em sites ou nas redes. 

Na conta das perdas entra também a evasão do noticiário. A taxa dos que acompanham notícias locais muito de perto nos EU passou de 37% para 22% desde 2016, ainda que a maioria dos entrevistados) 66% tenha dito que acompanha pelo menos um pouco o que acontece na região. 

Se serve de consolo, o percentual está em linha com o desinteresse dos americanos sobre notícias nacionais e internacionais, mostrando que o problema vai além da mídia local.