Londres – O novo relatório anual de hábitos de consumo de mídia do Ofcom, órgão regulador de comunicações britânico, constatou pela primeira vez desde que o acompanhamento passou a ser feito que mais pessoas se informam pela internet do que pela TV, um resultado que impressiona em um país que durante décadas teve seu jornalismo dominado pela emissora pública BBC.
O resultado de 2024 reflete a conhecida diferença de hábitos entre gerações já registrada em centenas de pesquisas mundo afora, apontando diferenças grandes entre o comportamento de jovens e de pessoas mais maduras.
Mas a boa notícia para o jornalismo é que uma esmagadora maioria (96%) dos adultos do Reino Unido disse ao Ofcom que consome notícias de alguma forma, tranquilizando aqueles que temem o fenômeno que ficou conhecido como ‘evasão do noticiário’ – pessoas que não querem mais se informar por motivos como falta de confiança nas fontes ou efeitos negativos sobre o bem-estar emocional.
O impacto do avanço do online sobre o meio TV no Reino Unido constatado pelo Ofcom foi grande porque ela reinava soberana no país desde a década de 1960, quando desbancou os jornais e o rádio.
E isso tem a ver com a BBC, uma potência que domina o ecossistema de mídia do país e segue forte apesar de crises sucessivas.
Nas últimas semanas ela teve que lidar com mais uma: o ex-âncora Huw Edwards, uma das maiores estrelas da casa, foi condenado por posse de imagens pornográficas de crianças, um choque para a população que se acostumou a vê-lo todas as noites apresentando o telejornal das 22 horas.
A condução da BBC no caso tem sido fortemente criticada, e manifestantes diante do prédio do Tribunal, quando o veredito foi anunciado, atacaram mais a rede do que o apresentador.
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Hábitos de consumo de mídia diferentes entre gerações
No entanto, mesmo que a BBC não enfrentasse nenhuma crise reputacional ela estaria de qualquer forma sendo vítima da mudança geracional nos hábitos de consumo de notícias pelas diversas formas de mídia atestada pelo Ofcom.
- Sete em cada dez (71%) adultos do Reino Unido passaram a se informar por fontes online, que ultrapassaram a televisão por um ponto percentual.
A categoria online engloba não apenas as mídias sociais mas também podcasts, serviços de mensagens, sites e aplicativos acessados através de qualquer dispositivo − incluindo os da BBC.
Isso acaba criando uma certa confusão, pois conteúdo de veículos de imprensa tradicionais e de jornalistas influenciadores estão nesse conjunto.
- Entre os jovens de 16 a 24 anos, 88% acessam notícias online, segundo o órgão regulador.
- Apenas 34% das pessoas com mais de 75 anos fazem o mesmo.
Considerando o envelhecimento natural da população, o futuro não parece promissor para os canais tradicionais de notícias. O rádio permaneceu estável e os jornais impressos continuaram a cair.
O site da BBC aparece como o preferido para os adultos que acessam diretamente as plataformas online, citado por 59% do público. A força da rede pode ser medida pela distância para os que vêm em seguida: Sky News e The Guardian são citados por 20% e a versão online do tabloide Daily Mail, por 19%.
O problema para ela e para as demais reside na idade. As redes sociais foram mais uma vez confirmadas como um componente significativo do consumo de notícias via internet.
- Mais da metade dos entrevistados acima de 16 anos (52%) as utilizam atualmente para essa finalidade, cinco pontos percentuais acima do resultado de 2023.
- Oito em cada dez entrevistados com idade entre 16 a 24 anos disseram informar-se por elas, enquanto menos da metade (49%) dessa faixa etária usa a TV para notícias.
Consumo de notícias por adolescentes
O órgão regulador britânico procurou ainda entender o que pensa uma parcela do público pouco observada: os adolescentes entre 12 e 15 anos.
TikTok (30%), YouTube (27%) e Facebook/Instagram (ambos com 21%) foram apontados como as fontes individuais de notícias mais usadas por eles, sendo que 12% dos adolescentes citaram o TikTok como sua principal fonte.
Embora os dados acentuem as preocupações da mídia tradicional, há notícias boas para o jornalismo. A taxa alta de pessoas que não abrem mão de se informar, 96% é uma delas.
Outra é a constatação de que as plataformas tradicionais superam as mídias sociais em uma série de atributos, segundo o relatório do Ofcom − em particular confiança, precisão e imparcialidade.
Há clientela interessada em bom conteúdo. O desafio para a indústria de mídia é entregar notícias no canal e no formato apropriados, acompanhando a tendência geracional sem enfiar a cabeça na areia.
O relatório completo pode ser visto aqui.
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