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Um mês após prisão na França, CEO do Telegram recua e admite repassar dados de usuários a autoridades

Pavel Durov, CEO do Telegram

Pavel Durov, CEO do Telegram (foto: X)

Londres – Um mês após ser preso na França, o CEO do Telegram, Pavel Durov, anunciou um recuo na política de privacidade que sempre defendeu: ele informou que o aplicativo passará a compartilhar dados como endereços IP e números de telefone de usuários com autoridades se houver mandados de busca ou “comunicações válidas legais”.

Em uma postagem no Telegram nesta segunda-feira (23) Durov justificou a mudança como uma medida para “desencorajar criminosos”.

Ele afirmou que embora 99,999% dos usuários do Telegram não estejam envolvidos em atividades ilícitas, “uma minoria prejudica a imagem da plataforma e coloca em risco a segurança dos milhões de usuários”. A rede diz ter 10 milhões de membros pagantes. 

Telegram acusado pela França de não fornecer dados de usuários suspeitos de crimes

O executivo de 39 anos, que tem cidadania francesa, foi preso ao desembarcar em Paris no dia 24 de agosto após investigação da promotoria pública da capital da França sobre crimes que incluem transações financeiras ilícitas, abuso sexual infantil, fraude e recusa em comunicar informações às autoridades. 

Ele ficou quatro dias detido e foi libertado sob fiança de 5 milhões de euros, mas não pode sair do país e precisa se apresentar duas vezes por semana em uma delegacia.

É a primeira prisão de um chefe de plataforma digital associada ao conteúdo postado por usuários.

Em uma postagem dias depois de ter sido preso, Pavel Durov havia chamado as acusações das autoridades francesas de “equivocadas”, admitindo que o  Telegram “não é perfeito”, mas contestando a acusação de que a rede social fosse um “paraíso anárquico”, como afirmaram as autoridades. 

Desde a detenção, no entanto, apesar de minimizar o volume de conteúdo ilegal que circula no Telegram, Pavel Durov, nascido na Rússia e hoje domiciliado em Dubai, anunciou medidas que indicam o reconhecimento de problemas. 

No dia 6 de setembro ele informou que o recurso Pessoas Próximas, usado por menos de 0,1% dos usuários do Telegram, seria removido por “problemas com bots e golpistas”, assim como novos uploads de mídia para a ferramenta de blog independente Telegraph “que parece ter sido mal utilizada por atores anônimos”.

Na postagem da segunda-feira, ele  informou que o Telegram designou “uma equipe dedicada de moderadores” que utilizou inteligência artificial para ocultar conteúdos problemáticos nos resultados de busca, em resposta ao uso abusivo da ferramenta para vender produtos ilegais.

“Nas últimas semanas, nossa equipe fez uma varredura no Telegram para garantir que todo o conteúdo problemático identificado na busca não esteja mais acessível”, afirmou ele. 

CEO da plataforma diz que agora detalhes de usuários serão entregues a autoridades

Os novos termos de serviço e a política de privacidade agora deixam claro que os detalhes dos infratores serão compartilhados com as autoridades, o que sempre foi um ponto de honra para o Telegram, que utiliza a criptografia de ponta a ponta. 

“Não permitiremos que atores mal-intencionados coloquem em risco a integridade de nossa plataforma”, disse ele. 

O uso de criptografia de ponta a ponta, como faz o Telegram, divide opiniões.

Enquanto muitos defendem esse sistema para permitir que pessoas perseguidas em regimes autoritários se manifestem e informações confiáveis circulem sem riscos para quem as dissemina, ao mesmo tempo ela protege criminosos. 

Ainda que o Telegram não seja a maior plataforma de rede social nem a única a usar a criptografia de ponta a ponta – o WhatsApp a utiliza – ele se tornou referência tanto para o bem quanto para o mal por permitir grupos de até 200 mil membros e pela recusa sistemática em colaborar com autoridades adotada até hoje pela empresa. 

Durov havia deixado aberta a possibilidade de diálogo

Tão logo foi preso, Pavel Durov endossou  a linha de argumentação dos que defendem a criptografia de ponta a ponta em redes sociais, mas havia deixado a porta aberta para conciliar, como parece estar fazendo agora. 

“Estamos comprometidos em nos envolver com reguladores para encontrar o equilíbrio certo. Sim, defendemos nossos princípios: nossa experiência é moldada por nossa missão de proteger nossos usuários em regimes autoritários.

Mas sempre estivemos abertos ao diálogo.”

Especialistas apontam que a prisão de Pavel Durov muda os parâmetros e coloca outros CEOs de empresas de mídia digital sob risco maior de serem responsabilizados pessoalmente por atos cometidos por usuários. 

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