Los Angeles – Psicóloga especializada no atendimento a jornalistas desde 2015, Emily Sachs trabalha como consultora do Dart Center for Journalism and Trauma, da Columbia University.

PhD pela Fordham University, ela vive em São Francisco, e há vários anos apoia redações de todo o pais.

Sachs acha que é mais desafiador ser um jornalista nos dias atuais, devido à hiperconectividade e à facilidade de o público acessar os profissionais por meio das redes sociais.

A interação muitas vezes resulta em ofensas, abuso e até agressões, que não atinge a todos igualmente e afeta a saúde mental

Emily Sachs psicóloga
Emily Sachs

“Jornalistas mulheres, negros e não-binários tendem a ser mais afetados pelo ódio online, e isso pode ser bem difícil de gerenciar emocionalmente”, afirma a psicóloga.

Nesta entrevista ela falou sobre a era Trump, o apego às redes sociais, o efeito do estado emocional sobre o trabalho, o empreendedorismo e a solidariedade.

Instabilidade da carreira

“Todo mundo que conhece um jornalista sabe que existe medo dos cortes nas redações, seja por ajustes financeiros ou porque o jornal foi vendido para uma outra organização, por exemplo.

Esse apequenamento das redações me preocupa porque os jovens perdem o acesso aos mentores ou aos profissionais mais experientes, que poderiam ajudá-los a se desenvolver.”

O jornalismo americano

“Durante a era Trump vimos o governo de certa forma normalizando a hostilidade contra a mídia, com jornalistas tratados como inimigos da nação.

Houve uma perda de credibilidade da mídia e isso é desmoralizante.”

Coragem para empreender

“Tem sido bastante comum os jornalistas contemplarem a alternativa de apostar em negócios próprios, como um podcast, um canal no YouTube ou uma newsletter, sobretudo porque esta profissão pede uma certa dose de independência e rebeldia.

Mas requer coragem deixar uma empresa de mídia estabelecida e reconhecida, porque a sociedade tem a visão de que é um “privilégio” estar ali.”

Ataque de nervos

“Jornalistas à beira de um ataque de nervos não são capazes de fazer um bom trabalho.

O tempo de recuperação emocional é uma parte essencial para uma boa performance, bem como para ser um ser humano funcional.”

‘Vício’ em redes sociais

“Sou cautelosa com a palavra vicio. Acho que existe um sistema de recompensa que estimula a dopamina, sim.

O estímulo desses likes pode, às vezes, criar um desequilibrio. Mas mais do que likes, acho que jornalistas se preocupam com números de seguidores. Esses detalhes viraram uma métrica de sucesso e leva jornalistas a se compararem com os colegas.”

Competição x solidariedade

“Percebo que muitos jornalistas compartilham técnicas e ferramentas. Vejo que são excelentes na arte de absorver informação e compartilha-las – e isso não se resume às reportagens.

Eles fazem isso também quando o assunto é saúde mental.”

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Reportagem Especial MediaTalks – Comunicação, Imprensa, Redes Sociais e a crise da Saúde Mental