Londres – Organizações de liberdade de imprensa estão usando o marco de um ano desde os ataques do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2024, para chamar a atenção sobre o impacto sem precedentes da guerra que veio em seguida: esses 12 meses entraram para a história como o período mais mortal para jornalistas já registrado.   

Segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas, pelo menos 128 profissionais de imprensa morreram desde então – e todos os casos, exceto o de dois repórteres mortos no ataque de 7 de outubro, foram de autoria de forças israelenses, diz a entidade. 

A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) chamou esse ano de “o mais sangrento da história do jornalismo”, enquanto a Repórteres Sem Fronteiras denunciou o “apagão da imprensa” que ocorreu em Gaza desde o início da guerra, resultado de jornalistas mortos, presos, desalojados e de redações destruídas, além de cortes de eletricidade e sinal de internet. 

Em um ano, o drama dos jornalistas em Gaza

A contagem de mortos varia de acordo com as entidades, pois os critérios usados são diferentes. Porém, o número em torno de 130, incluindo os que morreram a serviço ou como vítimas colaterais de bombardeios, representa uma média de um a cada três dias. 

Além do número alto de mortes, as organizações de liberdade de imprensa e também de direitos humanos denunciam ataques deliberados de Israel contra jornalistas em vários casos. 

Em alguns deles, o governo de Israel admitiu que disparou contra carros ou locais onde jornalistas estavam, mesmo com identificação, alegando que estariam colocando as forças do país em risco ou atuando como combatentes. 

Da acordo com o CPJ, pelo menos 69 jornalistas palestinos foram presos desde o início da guerra, 66 por Israel e três por autoridades palestinas. Quarenta e três ainda estavam atrás das grades em 4 de outubro.

Em uma base per capita, as autoridades israelenses agora detêm o maior número de jornalistas detidos no mundo em um determinado ano nas últimas duas décadas, diz a organização. 

Os assassinatos, juntamente com a censura, as prisões, a proibição contínua do acesso da mídia independente a Gaza, os bloqueios persistentes da internet , a destruição de veículos de comunicação e o deslocamento da comunidade de mídia de Gaza restringiram severamente as reportagens sobre a guerra e dificultaram a documentação dos fatos, aponta o CPJ. 

Repressão a jornalistas também em Israel

Já em Israel, a liberdade de imprensa foi restringida pela aprovação de uma nova lei que autoriza o governo a proibir veículos de comunicação, um número crescente de artigos proibidos , retórica anti-imprensa de funcionários do governo, supostas tentativas de controlar veículos de notícias e ataques a repórteres internacionais e locais na Cisjordânia e em Israel , entre outras ameaças, salientou o Comitê. 

A Al Jazeera, rede internacional controlada pelo governo do Catar, tornou-se o principal alvo do governo. Ela foi proibida de operar em Israel e teve sua redação na Cisjordânia fechada.

As dificuldades de continuar informando o público não se restringem às grandes redes. A infraestrutura de mídia da Palestina foi destruída por ataques aéreos israelenses e “nenhuma redação ficou de pé em Gaza”, afirma a Federação Internacional de Jornalistas. 

Citando dados do sindicato local, a IFJ informou que as instalações de 21 estações de rádio locais, 15 agências de notícias locais e internacionais, 15 estações de TV, 6 jornais locais, 3 torres de transmissão, oito impressos e 13 instituições de mídia foram destruídas.

“Neste ano, apenas jornalistas locais puderam relatar a devastação de Gaza, por causa das políticas do governo israelense de aterrorizar e matar jornalistas e sua proibição de entrada da mídia estrangeira”, protestou a Federação em nota. 

Desde o início da guerra jornalistas estrangeiros estão proibidos de documentar a situação em Gaza, exceto em poucas incursões a locais controlados e acompanhados por soldados de Israel.