Londres – A jornalista freelance ucraniana Victoria Roshchyna morreu em uma prisão na Rússia mais de um ano depois de ter desaparecido durante uma viagem para documentar a guerra nos territórios ocupados da Ucrânia.
Roshchyna, de 27 anos, escrevia para veículos locais e internacionais como Ukrayinska Pravda, Hromadske e Radio Free Europe. Ela foi reconhecida em 2022 com o prêmio Coragem no Jornalismo pela International Women’s Media Foundation (IWMF).
A morte foi confirmada em uma carta do Ministério da Defesa russo recebida por sua família em 10 de outubro.
A Federação Internacional de Jornalistas informou que ela morreu em uma prisão russa, mas as circunstâncias de sua morte permanecem desconhecidas. Apenas em maio deste ano a Rússia confirmou que ela havia sido detida e estava em solo russo, disse em nota o ombudsman ucraniano de direitos humanos Dmytro Lubinets.
Andrii Yusov, porta-voz da agência de inteligência militar da Ucrânia, revelou à imprensa do país que Roshchyna seria incluída em uma futura troca de prisioneiros e estava sendo transferida para a prisão de Lefortovo, em Moscou, de onde seria autorizada a retornar à Ucrânia.
O gabinete do promotor geral ucraniano declarou que o caso será investigado como “crime de guerra e assassinato”.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, Roshcyna é a 13ªa jornalista a morrer devido ao seu trabalho desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022.
A RSF afirma que cerca de cem jornalistas ucranianos e estrangeiros foram vítimas de abusos por parte das forças de ocupação russas.
Dezenove ainda estão detidos pela Rússia, que se recusa a fornecer informações sobre a detenção de alguns deles, como foi o caso de Victoria Roshchyna.
Jornalista já tinha ido para a prisão
Ao longo da sua carreira, a ucraniana Victoria Roshchyna cobriu temas complexos e perigosos, incluindo crimes, julgamentos e violações dos direitos humanos.
No início da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, em março de 2022, ela chegou a ser presa pelo exército da Rússia e permaneceu detida durante 10 dias em Berdyansk.
Durante sua detenção, a agência forçou Roshchyna a gravar um vídeo dizendo que não tinha queixas sobre as condições da prisão e que as forças russas tinham “salvado sua vida”
Em sua última missão, a jornalista havia partido da Polônia para territórios ocupados na Ucrânia passando pela Rússia no dia 27 de julho.
Em 3 de agosto ela relatou à família que tinha sido submetida a verificações na fronteira, sem especificar de qual país. Em 12 de agosto a família notificou o governo ucraniano sobre o desaparecimento depois de vários dias sem notícias sobre o seu paradeiro.
Logo após a perda de contato com a filha, em agosto do ano passado, o pai da jornalista, Vladimir Roshchyn, disse à imprensa estar “com o coração partido”, e que havia recomendado que ela não se expusesse tanto após a primeira prisão.
“Mas ela foi firme – não consegue parar de cobrir as notícias desta guerra nos territórios ocupados para seus leitores”, afirmou.
Ucrânia confirmou a prisão pela Rússia
O pai informou na época que a Ucrânia confirmou que ela teria sido capturada pela Rússia, como mais um dos prisioneiros chamados de “congelados”, por não haver notícias oficiais sobre eles.
O presidente da União de Jornalistas da Ucrânia, Sergiy Tomilenko, disse:
“Estamos profundamente chocados com a morte de nossa colega Viktoria Roshchyna […]. Pedimos uma investigação internacional imediata e completa sobre o cativeiro russo e as circunstâncias que cercam sua morte.
Além disso, pedimos à comunidade internacional que intensifique a pressão sobre a Rússia para garantir a libertação de todos os jornalistas ucranianos detidos ilegalmente pelos ocupantes.”
Em nota, a International Women’s Media Foundation declarou estar “devastada” com a notícia da morte.
“Não é apenas a perda de uma mulher notável, mas de uma testemunha intrépida da história.
Independentemente da causa de sua morte, podemos dizer com certeza que sua vida foi tirada porque ela ousou dizer a verdade.
A entidade também cobrou da comunidade internacional pressão sobre a Rússia para “parar de atacar jornalistas e silenciar a liberdade de imprensa”.
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