Londres – Com a popularização do ChatGPT e das demais ferramentas que disputam esse mercado, o caminho é sem volta: goste-se ou não, tema-se ou não, a IA generativa vai continuar transformando a produção de notícias e a maneira como o público as consome. 

Um painel da Trust Conference discutiu como a integração cada vez maior da IA ao universo da mídia digital vai modificar a indústria de notícias. 

Esse futuro já se aproxima. A moderadora do painel, a pesquisadora Courtney Radsh, Diretora do Center for Journalism and Liberty, dos Estados Unidos, informou que 56% dos textos disponíveis na Internet já são gerados por IA.

Um dos participantes do painel foi Rasmus Nielsen, que entre 2018 e setembro deste ano dirigiu o Reuters Institute for the Study of Journalism, na Universidade de Oxford, e hoje leciona no Departamento de Comunicação da Universidade de Copenhague.

Painel sobre IA generativa na indústria de notícias durante a Trust Conference em Londres
Courtney Radsh, Ginny Badanes, Graham Brookie e Rasmus Nielsen, em painel da Trust Conference (Foto: divulgação TRF)

Ele fala com propriedade sobre o tema, por ser um dos co-autores do Reuters Institute Digital News Report, que analisa anualmente a situação da indústria global de notícias.

IA generativa na produção de notícias

O pesquisador alertou que usar a lA generativa para produzir mais conteúdo de baixo valor, de forma barata, além de acentuar a erosão de confiança, não resolverá o problema central da indústria.

“O desafio é criar valor percebido pelo leitor, de modo a fazê-lo pagar pelo que recebe. Ninguém paga para receber mais lixo”.

Porém, usada da maneira certa, a lA generativa tem potencial para aumentar a percepção de valor, reconhece o pesquisador.

Ele ressaltou que os veículos podem usá-la para a produção de notícias confiáveis e personalizadas ao leitor. E distribuí-las sob medida, no formato e canal que o público  quiser, gerando assim um maior valor percebido do serviço oferecido.

Testando os chatbots para acessar notícias

Mas os desafios ainda são grandes. Nielsen relatou uma experiência de pedir a chatbots que fornecessem as cinco principais notícias de veículos selecionados. Alguns não conseguiram trazer as reportagens, possivelmente devido ao bloqueio automático ou por cautela.

Mesmo quando o conteúdo foi fornecido, sua qualidade e precisão foram questionáveis. Certos conteúdos eram inexistentes ou falsos. Outros foram obtidos de veículos diferentes dos solicitados. Houve ainda resultados genéricos, difíceis de interpretar.

No entanto, quando testados em questões factuais específicas relacionadas a eleições, os chatbots tiveram melhor desempenho, com cerca de 80% dos resultados corretos.

Isso sugere que usar chatbots para consultas relacionadas a eleições, onde informações confiáveis de domínio público estão disponíveis, pode fornecer uma experiência mais satistatória e útil para os cidadãos, em comparação com resultados de notícias genéricas.

Oportunidades para uns, riscos para outros

Nielsen expressou preocupações sobre o impacto da IA generativa no setor.

Ele acredita que, à medida que a tecnologia se torne mais relevante para acesso a notícias, ela intensificará as pressões já existentes, reforçando a dinâmica em que algumas grandes organizações retêm o público disposto a pagar, enquanto as demais ficam para trás na corrida pela receita.

O pesquisador prevê que haverá uma série de nichos e necessidades de informações altamente especializadas, criando boas oportunidades, por serem geralmente baseadas em pacotes de assinatura B2B.

Mas nem tudo serão flores, ele alerta.

“Veículos que não quiserem ou puderem se adaptar ao novo cenário que se desenha terão seus problemas intensificados. Para estes, as perspectivas são bastante sombrias, eu diria”.