Londres – O Kremlin dificilmente revelará o número real de soldados russos mortos na guerra da Ucrânia. Mas o russo Roman Anin, fundador e editor do site IStories pretende fazer isso. Com jornalismo investigativo turbinado pela IA.
O objetivo é revelar ao mundo, e principalmente à população russa, o preço real, em número de vidas, que o país está pagando “pelo desejo expansionista de Vladimir Putin”.
Trata-se de um trabalho de jornalismo investigativo de enorme dificuldade, apresentado por Anin em um dos painéis da Trust Conference, realizada no final de outubro em Londres.
“Para mim, é o exemplo perfeito da combinação da IA com jornalismo investigativo, para tornar possível uma informação de interesse mundial, que não seria possível de outra forma.”
Projeto é exemplo de como a IA pode impulsionar o jornalismo investigativo
Como não há, obviamente, dados oficiais disponíveis, Anin e sua equipe tiveram a ideia de pesquisar todas as menções a baixas militares no mundo digital russo, sejam elas avisos de missas, funerais, ou textos de despedida de familiares e amigos.
“A ideia era boa. No entanto, seria humanamente impossível, pois estamos falando de analisar milhões de postagens.”
Mas tornou-se viável a partir do desenvolvimento de uma ferramenta de AI, que foi concluída às vésperas da Trust Conference.
Anin, jornalista investigativo russo rotulado desde 2021 pelo governo de seu país como “agente estrangeiro”, já atuou no Novaya Gazeta, jornal do prêmio Nobel da Paz Dmitry Muratov, que fechou as portas após perseguição implacável do governo russo.
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Acesso ao banco de dados será público
A ferramenta do iStories está varrendo textos e vídeos de plataformas de mídias sociais russas como VK, a mais popular do país, Odnoklassniki e Telegram, bem como fóruns regionais.
Ela identifica as postagens que envolvem militares e as analisa para verificar se mencionam baixas ocorridas na guerra atual. Por fim, valida os nomes encontrados antes de incluí-los no banco de dados.
É um projeto extremamente ambicioso, mas Anin está acostumado a desafios. Desde 2009 ele trabalha com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e participou da investigação do escândalo Panama Papers.
“Nunca conseguiríamos realizar essa investigação sobre os soldados mortos sem a ajuda da IA. Não há comparação com o que eu e meus colegas conseguiríamos fazer manualmente.”
Anin ainda não sabe quando poderá divulgar o resultado dessa reportagem investigativa. Mas uma coisa ele já sabe: vai disponibilizar a qualquer cidadão interessado o banco de dados dos soldados russos sacrificados.
Com todos os nomes e sobrenomes, devidamente verificados.
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