Londres – Ao enumerar uma lista de fatos que apontam para os riscos reais enfrentados pela sigla de três letras que nos últimos anos colaborou para que as corporações criassem impacto positivo no mundo na abertura da Trust Conference, o CEO da Fundação Thomson Reuters, Antonio Zappulla, fez a pergunta que muitos têm feito: estamos vendo o fim do ESG como rótulo ou até como abordagem?
O papel dos líderes corporativos nesse ambiente de questionamento ao ESG foi abordado durante o encontro promovido no fim de outubro pela fundação em Londres, que teve como uma das participantes a empresária Lady Lynn Forester de Rothschild.
O título é pomposo, herdado de seu terceiro marido, Sir Evelyn de Rothschild, membro de uma das famílias mais associadas ao capitalismo na história. Ela é fundadora e CEO do Council for Inclusive Capitalism, que tem como objetivo estimular líderes corporativos a realizar ações que tornem a economia e a sociedades mais inclusivas, dinâmicas, sustentáveis e confiáveis.
A difícil missão de combater o fim do ESG
A missão não é simples, como destacou Antonio Zappulla.
“Há poucos anos, havia uma expectativa generalizada de que as empresas tomariam posição em algumas das questões mais relevantes do nosso tempo […]. Mas esses dias parecem ter acabado.
Nos EUA – mas também cada vez mais na Europa – estamos vendo uma reação contra o ativismo dos CEOs […]. A acusação é que se os CEOs defendem posições sociais importantes que não gerem lucros diretos, eles estão priorizando a ideologia em vez do lucro dos acionistas”.
Em sua apresentação, Lynn de Rothschild admitiu problemas que levaram à negatividade em torno do ESG, como fundos que se apresentavam com esse compromisso e por isso cobravam taxas mais altas, mas mantinham portfólio semelhante ao dos que não se vendiam como ESG.
Mas em sua opinião, isso não elimina a necessidade das práticas.
“Talvez percamos o termo. Não precisamos do termo ESG. Mas precisamos do que o Papa Francisco disse: temos que ouvir o grito da terra e o grito dos pobres.”
Otimismo com futuro do ESG
Apesar dos contratempos, Lynn de Rothschild permanece otimista sobre o progresso que está sendo feito em questões como mudança climática, diversidade, equidade e inclusão (DEI) e o papel das corporações na condução de mudanças positivas.
Ela enfatizou a necessidade de superar a percepção de que não se pode ser favorável ao mesmo tempo ao trabalhador e ao mercado.
“Não existe dicotomia. Empresas que priorizam o bem-estar de seus trabalhadores tendem a ter mais sucesso a longo prazo.”
A CEO do Council for Inclusive Capitalism acha que pode ter havido um “exagero no feedback negativo”, já que há progressos em questões ligadas à agenda ESG.
Ela citou avanços em responsabilidade corporativa e mudanças climáticas adotados por estados americanos durante a controvertida presidência de Donald Trump como exemplos positivos.
E disse acreditar que muitas empresas estão incorporando princípios de ESG em suas práticas principais, e não só como discurso em sua comunicação.
Mas a situação não é confortável, com pesquisas apontando para um retrocesso que pode resultar em menos investimentos em políticas positivas para a sociedade.
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‘A mudança empresarial deve vir dos líderes’
Essas tendências são confirmadas por um relatório da agência de comunicação Weber Shandwick citado por Antonio Zappulla, que mostra que 59% dos executivos seniores ainda acreditam que as empresas “têm a responsabilidade de se manifestar e agir sobre questões sociais, mesmo que sejam sensíveis ou controversas”.
O mesmo relatório também mostra como o público espera que as empresas liderem o caminho: 82% dos consumidores exigem que as empresas tomem posições públicas sobre questões sociais, como direitos humanos.
“Precisamos de um movimento. Precisamos de investidores que exijam entender o que as empresas estão fazendo com seus trabalhadores e com o planeta. A mudança empresarial deve vir dos líderes”, disse Lynn de Rothschild.
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