Londres – Como se manter firme diante dos “ventos destrutivos anti-ESG” e do sentimento contrário a políticas corporativas que causam impacto positivo na sociedade, movimento rotulado como “anti-woke” (contra o politicamente correto)?
Sally Uren, diretora-executiva da organização não-governamental Forum for the Future, apresentou durante a Trust Conference 2024 promovida pela Fundação Thomson Reuters em Londres um plano para reverter essa tendência, presente em nível global e com mais força nos Estados Unidos.
Os opositores dos pilares ESG afirmam que a cobrança das práticas ambientais, sociais e de governança (Environment, Social, Governance, em inglês), fundamentais para o desenvolvimento sustentável, estaria prejudicando o crescimento e os lucros das empresas.
Onda anti-ESG coloca sociedade em risco
Para Uren, no entanto, no longo prazo essa visão não se sustenta, pois perpetua desigualdades sociais e econômicas a fim de favorecer um grupo de acionistas em detrimento do restante da coletividade.
O Forum for the Future, onde Sally Uren atua desde 2002, nasceu no Reino Unido e hoje desenvolve projetos nos Estados Unidos, Sudeste Asiático e Índia.
Os objetivos são transformar a forma como o mundo pensa, produz, consome e valoriza tanto os alimentos como a energia, e repensar o propósito dos negócios frente aos desafios sociais, ambientais e econômicos.
Atuando como membro independente de conselhos consultivos de diversas empresas globais, a diretora-executiva destaca que o setor privado está no centro da estratégia de sua organização:
“Por ser um grande empregador, possuir cadeias de abastecimento globais, influenciar o comportamento do consumidor com suas marcas e ter acesso ao capital, o setor privado tem papel fundamental na transformação dos sistemas alimentares, energéticos e econômicos”.
Não se conformando com a visão dos defensores da onda anti-ESG de que “o negócio das empresas é o negócio”, desconsiderando pessoas e o meio ambiente, Sally Uren apresentou um plano de 5 passos a fim de incentivar que o mundo corporativo se mantenha firme no compromisso de seguir a pauta dos três pilares do desenvolvimento sustentável.
Um plano de cinco passos para manter o ESG vivo
1. Foque no contexto atual e na impossibilidade de retroceder
“Atualmente, é quase impossível para uma empresa obter empréstimos de bancos sem apresentar um plano de avaliação climática. Além disso, a própria economia de mercado obriga à transição para a energia renovável. No Reino Unido, o custo da energia eólica e solar é 99% menor do que era há 15 anos. Não podemos acreditar na retórica de quem se opõe ao desenvolvimento sustentável. Os fatos mostram que para cada resolução de acionistas nos EUA de cunho anti-ESG são tomadas 10 resoluções pró-ESG”.
2. Reformule a narrativa e tire a política da conversa
“Particularmente nos Estados Unidos, em círculos onde há restrições à sigla ESG, podemos usar termos ligados ao conceito, como a justiça climática, por exemplo. E mostrar como ela é importante para a vida das pessoas, incluindo um emprego de longo prazo e a segurança da família, tanto financeira como contra eventos climáticos extremos, eliminando a ideologia política da conversa”.
3. Fale a linguagem de negócios dos acionistas
“A linguagem dos negócios dos acionistas é muito baseada em riscos e resiliência. Uma cadeia de suprimentos descarbonizada, que tem adaptação climática embutida, é uma estrutura resiliente, o que faz todo o sentido comercial. Assim como o custo da energia renovável cada vez menor.”
4. Aproveite o sentimento dos funcionários
“Os funcionários realmente se preocupam com os pilares ESG e a sustentabilidade. Estatísticas demonstram que empresas que não se preocupam com essa agenda estão perdendo funcionários e sua atratividade como empregador, principalmente junto aos mais jovens. Por outro lado, se você é um CEO de uma empresa comprometida com o desenvolvimento sustentável, aproveite esse dado a seu favor”.
5. Planos de implementação podem ser recalibrados
“Quando muitas organizações estabeleceram suas metas ambientais, não tínhamos as opções de descarbonização que temos hoje. Não há problema em uma empresa recalibrar seu plano com base no que está aprendendo, desde que mantenha-se focada nos impactos que causa. Há uma relutância em admitir a dificuldade desses desafios. Os líderes empresariais devem ser mais honestos com os dados que mostram onde estão fazendo a diferença e onde não estão indo bem.”
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