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Cobertura negativa da mídia internacional impõe ‘perdas bilionárias’ às nações africanas, diz estudo

Meninos com câmera fotográfica na África

Foto: Unsplash

Londres – Um novo estudo conduzido pela organização Africa No Filter e pela empresa de investimentos Africa Practice revelou os prejuízos econômicos causados pela representação distorcida e cobertura “tendenciosa” dos países africanos pela mídia internacional, especialmente durante os períodos eleitorais. 

O estudo afirma que embora a representação tenha se tornado mais positiva nos últimos anos, ela ainda é carregada de estereótipos e contribui para desencorajar o investimento estrangeiro direto (IED) e encarecer o crédito internacional, entre outros efeitos. 

Como consequência, os países da África perdem uma média de US$ 4,2 bilhões por ano, quantia que poderia ser destinada à educação de mais de 12 milhões de crianças, à imunização de 73 milhões ou à garantia de água potável para dois terços da população da Nigéria, dizem os pesquisadores.  

Impacto econômico da cobertura tendenciosa sobre a África

O relatório, intitulado The Cost of Stereotypes to Africa, aponta que os países africanos pagam uma “taxa de preconceito” de bilhões de dólares somente no serviço da dívida, o que afeta diretamente o desenvolvimento econômico de nações como Nigéria, Quênia, África do Sul e Egito.

A pesquisa utilizou uma combinação de análise quantitativa e qualitativa para examinar as consequências financeiras do que os autores apontam como viés da mídia. 

A análise mostrou que a percepção negativa alimentada pela mídia pode elevar as taxas de juros de empréstimos em até 10%. Uma representação mais favorável ocasionaria uma redução de 1% nas taxas.

Cobertura melhorou, mais ainda não reflete a realidade 

O estudo admite que a cobertura da África pelos meios de comunicação melhorou significativamente nas últimas duas décadas. 

Análises revelaram que, em comparação com as décadas de 1990 e 2010, a narrativa sobre as economias africanas passou a incluir temas como “África em Ascensão”, em vez de se concentrar exclusivamente na pobreza.

Esse progresso pode ser atribuído a fatores como maior participação africana em assuntos internacionais, a globalização que facilitou a integração econômica e uma presença local mais robusta de mídias e empresas internacionais.

Apesar dessas melhorias, segundo o relatório, os meios de comunicação ainda tendem a enfatizar eventos negativos em relação aos positivos, resultando em uma representação desproporcional da África.

Ao focar em processos eleitorais em quatro países africanos, comparados a nações como Malásia, Dinamarca e Tailândia, o estudo revelou que a mídia global tende a retratar o cenário político africano de forma predominantemente negativa.

Por exemplo, 88% dos artigos sobre o Quênia em períodos eleitorais foram considerados negativos, em comparação com 48% na Malásia.

Um outro estudo  da Africa No Filter destaca que a cobertura da mídia ocidental frequentemente gira em torno de temas como pobreza, má liderança, corrupção, conflitos e doenças.

“Essa ênfase em narrativas negativas contribui para a perpetuação de estereótipos prejudiciais, muitas vezes apresentando a África como um único país, onde as dificuldades enfrentadas por uma nação são vistas como representativas de todo o continente”, afirma o relatório. 

Apelo por representações mais justas da África  

O relatório conclui com um apelo para que a mídia internacional e os setores financeiros colaborem em prol de uma representação mais precisa e justa da África.

“Retratos mais realistas e menos estereotipados poderiam desbloquear investimentos significativos e impulsionar o desenvolvimento econômico em toda a região”, defendem os autores. 

“Em um continente repleto de oportunidades, a mudança na percepção global é vista como uma chave essencial para a atração de mais investimentos e para o crescimento sustentável a longo prazo.”

O estudo completo pode ser visto aqui

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