Londres – O famoso chef britânico Jamie Oliver retirou de circulação o seu primeiro livro infantil após ser duramente criticado por ofender e reforçar estereótipos sobre os povos originários da Austrália.
Segundo a Comissão Nacional de Educação Aborígene e dos Insulares do Estreito de Torres (Natsiec), que assumiu a dianteira dos protestos no país, o romance “Billy and the Epic Escape” contribui para o “apagamento, banalização e estereótipos dos povos e experiências” dos aborígenes.
A trama é ambientada na Inglaterra, mas uma passagem retrata o vilão da história sequestrando uma menina que vive em um orfanato em uma comunidade em Alice Springs, cidade na região central da Austrália.
Jamie Oliver se diz “devastado” e retira livro das prateleiras
O livro infantil de Jamie Oliver foi publicado no ano passado, mas a Natsiec reforçou as críticas durante o fim de semana aproveitando a presença do chef no país, que divulga seu novo livro de receitas, colocando um balde de água fria em seu marketing e afetando sua reputação pessoal.
A associação destacou que nem o autor o autor nem a editora, Penguin Random House, consultaram representantes dos povos originários para a publicação da obra.
Ao The Guardian, a diretora executiva do Natsiec, Sharon Davis, disse que o livro perpetua “estereótipos prejudiciais” e banaliza histórias dolorosas para a comunidade dos povos originários.
“[O livro] ignora a opressão violenta dos povos originários, levantando sérias preocupações sobre a segurança cultural dos leitores do país — especialmente os jovens”.
Davis acrescentou que a representação da personagem e práticas culturais feita por Oliver foi “irresponsável e prejudicial, refletindo uma profunda falta de compreensão e respeito”.
“Isso perpetua um estereótipo racista que tem sido usado para justificar a remoção de crianças por mais de um século. Esta representação não é apenas ofensiva, mas também reforça preconceitos prejudiciais.”
O livro também foi condenado por misturar e usar palavras indígenas de diferentes povos.
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Oliver e sua editora admitiram que não fizeram nenhuma consulta com qualquer organização, comunidade ou indivídu relacionado aos povos originários antes da publicação do livro.
“Estou arrasado por saber que ofendi [povos originários] e peço desculpas por isso”, disse Oliver em um comunicado à imprensa. E acrescentou:
“Nunca foi minha intenção interpretar mal esta questão profundamente dolorosa. Junto com meus editores, decidimos retirar o livro de circulação.”
A editora também assumiu responsabilidade pelos erros cometidos no livro, destacando que os “os padrões de publicação foram inferiores neste caso”:
“Precisamos aprender com isso e tomar medida, por isso concordamos com nosso autor, Jamie Oliver, em retirar o livro das lojas.”
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