Londres – A COP29, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, tentará até 22 de novembro delinear um futuro mais sustentável e obter de nações mais ricas compromissos financeiros para fazer a adaptação aos efeitos do aquecimento global, uma necessidade urgente em meio a um cenário de dificuldades para que os acordos aconteçam.
Enquanto líderes mundiais discutem metas e compromissos, paira no ar a sombra da contestação dos princípios ESG, que regem a atuação socialmente responsavel das empresas, e um declínio democrático global, temas foram debatidos na Trust Conference 2024, promovida pela Thomson Reuters Foundation em Londres em outubro.
Segundo Staffan Lindberg, diretor do V-Dem Institute, o mundo nunca experimentou uma quantidade tão grande de países em processo de se tornarem autocracias, ou em erosão de suas democracias.
Como declinio da democracia afeta compromissos buscados na COP29
A desinformação e a polarização, que encontram terreno fértil nesses ambientes para florescer, prejudicam o debate público. O professor Lindberg destacou a conexão entre a desinformação, a polarização e a erosão da democracia.
“Aspirantes a ditadores”, disse ele, utilizam a desinformação para polarizar a população, levando à desconfiança generalizada e à dificuldade de se alcançar consensos sobre questões complexas como as mudanças climáticas.
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A eleição de Donald Trump foi um baque nos que contavam com uma liderança dos EUA rumo à colaboração internacional almejada pela COP em Baku, e pode influenciar outros aliados políticos menos inclinados a adotar medidas que reduzam o impacto ambiental e a apoiar financeiramente outras nações.
A decisão do presidente argentino Javier Milei, de mandar de volta para casa a delegação do país que já estava em Baku, nesta quarta-feira (13) é um exemplo de como o autoritarismo pode influenciar políticas climáticas.
Confiança nas instituições, liberdade de imprensa e clima
E a erosão da confiança nas instituições afeta a credibilidade das políticas. O relatório anual Edelman Trust Barometer revela que a ansiedade em relação à inteligência artificial e à sua rápida evolução tem diminuído a confiança nas instituições, incluindo o governo e a mídia.
Essa falta de confiança se estende às políticas climáticas, dificultando a aceitação e o apoio público a medidas que exigem mudanças significativas no estilo de vida e na economia.
O enfraquecimento da imprensa livre, típica de regimes autoritários mesmo em países com líderes eleitos pelo povo, limita a responsabilização e a transparência.
E em consequência, a falta de transparência e o controle da informação dificultam a mobilização social e a pressão popular por políticas climáticas mais ambiciosas.
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COP29 em meio a questionamentos sobre o ESG
A COP29 acontece também no momento em que o ESG − a sigla que significa Environment, Social, Governance, e os princípios − estão sob questionamento, principalmente nos EUA, uma situação que tende a se agravar com a volta de Trump ao poder.
Esse foi outro tema debatido na Trust Conference. Antonio Zappulla, presidente da Fundação Thomson Reuters, expressou a inquietação de muitos: estaríamos presenciando o fim do ESG?
Ele destacou o retrocesso do ativismo de CEOs, que antes se posicionavam em questões sociais relevantes, e a crescente priorização do lucro dos acionistas em detrimento de causas sociais e ambientais.
Em contraponto, Lynn Forester de Rothschild, fundadora do Council for Inclusive Capitalism, argumenta que o movimento ESG está progredindo em áreas como mudanças climáticas e diversidade, equidade e inclusão (DEI) − e relatou exemplos de avanços até mesmo durante o primeiro mandato de Donald Trump.
Ela acredita que a visão de que o bem-estar dos trabalhadores e o lucro são incompatíveis é equivocada. E afirma que empresas que priorizam seus funcionários tendem a prosperar a longo prazo.
Para Rothschild, a mudança deve partir dos líderes empresariais, que precisam defender os princípios ESG e mostrar que responsabilidade social e sucesso nos negócios podem andar juntos.
Complementando essa visão, Sally Uren, diretora-executiva da ONG Forum for the Future, apresentou um plano de cinco passos para revitalizar o ESG, que envolve até o apoio dos funcionários, que se mostram cada vez mais engajados em causas sociais e ambientais.
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