Ao menos cinco jornalistas morreram no norte de Gaza desde o início de outubro, quando Israel intensificou o que ONGs e entidades, incluindo a ONU, estão classificando como uma limpeza étnica de palestinos na região, segundo informações do Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ).
Os ataques israelenses também vêm em forma de intimidação contra a mídia que ainda resiste em Gaza: seis jornalistas da rede árabe Al Jazeera foram alvos de uma campanha de difamação pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), disse o CPJ.
Sem a autorização de Israel para que a imprensa internacional entre em Gaza desde o início da guerra, a região vive um “deserto de notícias”, afirmam ao CPJ os poucos jornalistas no local, que não dão conta de reportar a situação dos palestinos.
ONG de jornalistas denuncia política de ‘morra de fome ou vá embora’ em Gaza
Em 5 de outubro, Israel atacou a cidade de Jabalia, considerada o maior campo de refugiados palestinos em Gaza, para “impedir que os combatentes militantes do Hamas se reagrupassem”, afirmou o governo.
O ataque, no entanto, foi apenas mais um que atingiu a região bombardeada quase que diariamente.
O CPJ confirmou a morte de pelo menos cinco jornalistas em Jabalia e na Cidade de Gaza desde então:
- AlHassan Hamad, fotógrafo freelancer palestino de 18 anos, morto em ataque de drone;
- Mohammed Al-Tanani, operador de câmera palestino de 26 anos da Al-Aqsa TV, de propriedade do Hamas, também morto por um drone israelense;
- Os jornalistas palestinos Nadia Emad Al Sayed, Saed Radwan e Haneen Baroud, mortos um ataque aéreo israelense a uma escola que abrigava famílias palestinas. No total, 8 pessoas morreram nesse bombardeio.
“Israel adota uma política de ‘morrer de fome ou ir embora’ para forçar os palestinos a saírem do norte de Gaza”, afirma o Carlos Martinez de la Serna, diretor do CPJ. E acrescentou:
“Os ataques sistemáticos à mídia e a campanha para desacreditar os poucos jornalistas que permanecem são uma tática deliberada para impedir que o mundo veja o que Israel está fazendo lá.”
Em resposta ao CPJ, as IDF afirmaram por e-mail que “direcionam seus ataques apenas a alvos e agentes militares, e não tem como alvo civis, incluindo organizações de mídia e jornalistas”.
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Mas, em 23 de outubro, as IDF acusaram seis jornalistas palestinos que trabalhavam para a Al Jazeera em Gaza de serem membros dos Hamas e da Jihad Islâmica, colocando-os sob risco de virarem alvos das forças israelenses.
Os profissionais Anas al-Sharif, Talal Aruki, Ismail Farid, Alaa Salama, Ashraf Saraj e Hossam Shabat condenaram as falsas alegações. A Al Jazeera também rebateu as alegações de Israel.
“Nós somos cidadãos, e transmitimos as vozes dos palestinos. Nosso único crime é que transmitimos a verdade e não pertencemos ao movimento Hamas”, declarou Shabat.
Gaza vive ‘deserto de notícias’, dizem jornalistas
Além dos frequentes bombardeios, jornalistas que estão em Gaza também precisam driblar as dificuldades de comunicação impostas por Israel por meio de desligamentos de energia e internet, apontou o CPJ.
Há poucos repórteres no local para registrar e noticiar tudo o que acontece diariamente no norte da região, afirmam ao CPJ.
O jornalista Al-Zwaidi, da Al-Ghad TV, relatou à ONG a situação precária que ele e outros enfrentam para trabalhar em Gaza:
“Não há comida ou água limpa para beber há mais de 20 dias. Tentamos comer o mínimo para nos manter vivos e bebemos água semi-residual contaminada.”
“Eu enfrento a morte toda vez que tento transmitir notícias e manter o norte da Faixa de Gaza no centro das atenções [do mundo]”.
Os profissionais de imprensa em Gaza também enfrentam a escassez de equipamentos como câmeras, capacetes e coletes à prova de balas.
“Estamos nos sentido ignorados pelo resto do mundo”, desabafa o correspondente da Al Jazeera, Mohammed Quraiqi.
“A falta de interesse e assistência aos jornalistas tanto por Israel como pelo restante do mundo permitem que eles sejam alvos e mortos continuamente.”
O norte de Gaza “se tornou um dos ambientes mais difíceis e perigosos para o trabalho jornalístico no mundo”, afirma Osama Al Ashi, operador de câmera da estatal chinesa CCTV e produtor freelancer de documentários.
“O sentimento de medo e ansiedade [ocorre] o tempo todo. Temo pela minha família e temo estar entre eles; é um sentimento muito difícil”, disse Al Ashi ao CPJ.
“Mas estou convencido de que minha presença como jornalista no norte da Faixa de Gaza é muito importante. Caso contrário, a Cidade de Gaza e o norte da Faixa de Gaza ficariam isolados de todo o mundo exterior.”
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