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Inundações, incêndios, secas: 10 imagens retratam as mudanças climáticas no Brasil e no mundo  

Londres – Participante da COP29 como observadora, a Royal Meteorological Society lançou durante a conferência que está sendo realizada no Azerbaijão uma nova “galeria do clima”, reunindo fotos  premiadas e finalistas de seu concurso anual que colocam as mudanças climáticas em foco. 

Uma delas é o registro das enchentes do Rio Grande do Sul feito pelo brasileiro Gerson Turelli, que ficou em primeiro lugar na categoria Mudanças Climáticas da edição 2024 do concurso e foi a foto mais votada pelo público. 

Foto premiada mostra caiaque indo resgatar pessoas no centro de Porto Alegre durante enchentes
Gerson Turelly registrou o caiaque seguindo para resgatar pessoas em Porto Alegre

As dez imagens mostram como a fotografia é um meio visual poderoso para documentar tanto os eventos climáticos extremos tornados mais prováveis ​​pelas mudanças climáticas, como inundações e incêndios florestais, quanto as mudanças mais lentas percebidas pelo mundo, como o derretimento tardio do gelo nas montanhas ou um rio que seca com mais frequência.

Como uma coleção, as imagens ilustram como as mudanças globais no clima estão afetando a vida diária, a agricultura, a saúde e os meios de subsistência, e destacam a necessidade urgente de ação, diz a Royal Meteorological Society. 

Confira as fotos e as histórias de mudanças climáticas contadas por elas

Enchentes em Porto Alegre

Capturada pelo fotógrafo local Gerson Turelly, a imagem mostra o centro de Porto Alegre durante as devastadoras enchentes do início de 2024. Uma rua se transformou em um curso d’água, no qual um jovem rema seu caiaque para resgatar pessoas isoladas. 

A composição e a iluminação da foto foram elogiadas pelo painel de jurados, assim como a poderosa combinação de impactos climáticos e de tempo retratados na cena. Os jurados comentaram como a imagem mostra “passado, presente e futuro”; inundações sempre foram algo com o qual precisamos lidar e nos adaptar, no entanto, à medida que as mudanças climáticas aumentam a intensidade de chuvas pesadas, as inundações se tornarão ainda mais comuns.

Gerson Turelly registrou o caiaque seguindo para resgatar pessoas em Porto Alegre

Observando o período de dez dias mais intenso durante este evento, a World Weather Attribution mostrou que a mudança climática tornou a inundação pelo menos duas vezes mais provável, e seis a nove por cento mais intensa.

Até então, Porto Alegre tinha sido geralmente poupada de inundações significativas, o que significa que a manutenção de suas defesas contra inundações tinha sido negligenciada. Este evento atua como um lembrete de que, sob as mudanças climáticas, eventos extremos ocorrerão em novos lugares ou com maior intensidade ou frequência do que antes.


Inundações na Malásia

O fotógrafo Ng Wei Chean tirou esta foto enquanto seu pai, do lado de fora de sua casa, no estado de Perak, na Malásia, buscava evitar que a inundação entrasse em sua sala de estar após fortes chuvas.

A ocorrência de inundações que ameaçam pessoas e propriedades aumentará à medida que a atmosfera se aquece. O Sudeste Asiático já está passando por chuvas mais intensas do que nas décadas anteriores. Com mais inundações, o risco aumentará, de modo que a previsão de chuvas extremas se tornará cada vez mais importante.

A presença na foto de uma criança que observa de dentro da casa é um lembrete de como a mudança climática afetará diferentes gerações, com o maior fardo recaindo sobre a juventude de hoje.

Mesmo que o aquecimento médio da Terra seja limitado a 1,5°C, as crianças nascidas após 2010 provavelmente experimentarão quatro vezes mais eventos climáticos extremos em sua vida em comparação com seus avós. Na verdade, qualquer pessoa nascida depois de 1980 enfrentará extremos climáticos que seriam inimagináveis sem as mudanças climáticas causadas pelo homem.


Fogo na Califórnia

Nesta imagem, o fotógrafo Josh Edelson capturou um bombeiro solitário tentando conter as chamas enquanto elas começavam a ameaçar as casas das pessoas no Condado de Madera, na Califórnia.

 Captada durante o Creek Fire de setembro de 2020, a imagem é um lembrete gritante de que a mudança climática requer ação. No oeste dos EUA, o número de grandes incêndios dobrou entre 1984 e 2015.

Temperaturas mais altas levam a uma maior disponibilidade de matéria orgânica seca, como folhas e galhos, responsáveis por iniciar e espalhar incêndios. Esse combustível orgânico não apenas torna os incêndios florestais mais prováveis, como também libera mais carbono na atmosfera, criando um ciclo vicioso.

Estima-se que, a cada ano, os incêndios florestais no estado da Califórnia liberam para a atmosfera uma quantidade de carbono equivalente ao emitido no mesmo período por 2 milhões de carros.


Chuvas torrenciais na Índia

Capturar a cena com o uso de drone durante as chuvas torrenciais que atingiram a Índia foi uma tarefa desafiadora para o fotógrafo Basheer Pattambi.

Aproveitando uma janela de dois minutos de calmaria, ele foi capaz de captar a cena da inundação devastadora de Edappalam, uma vila do distrito de Palakkad, em Kerala, no sudoeste do país, e assim descreveu a situação: “As fortes chuvas criaram uma ilha de isolamento. O contraste entre as águas e a vila isolada ressalta o profundo impacto da inundação e a força implacável da natureza.”

 

Kerala foi atingida por inundações devastadoras em 2018 e 2019. O evento de 2019 foi diferente das chuvas geralmente experimentadas na região porque incluiu uma “explosão de nuvens em mesoescala”, caracterizada por uma precipitação muito intensa numa pequena área, capaz de acarretar inundações repentinas e deslizamentos de terra. 

Tais eventos geralmente ocorrem no norte da Índia durante o período de monção de verão, mas esta foi a primeira vez que foi observado no sul. As temperaturas da superfície do mar perto da costa sudoeste da Índia foram particularmente quentes durante esse período, fazendo com que a atmosfera fosse mais instável do que o normal, contribuindo para a explosão de nuvens. Esse é um dos riscos do aquecimento dos oceanos devido às mudanças climáticas.


Bolhas de metano em lago do Canadá

O fotógrafo Rajani Ramanathan capturou a beleza enganosa das bolhas de metano congeladas na superfície do Lago Abraham, no Canadá. As bolhas se formam quando o metano é liberado da matéria orgânica em decomposição no fundo do lago.

Quando a água congela durante o inverno, geralmente o gás fica preso no gelo à medida que sobe em direção à superfície. Porém, devido ao aquecimento global, o gelo está derretendo mais cedo, permitindo que o metano chegue à superfície e seja liberado na atmosfera. Como mais metano liberado faz aumentar as temperaturas, e estas aumentam o derretimento do gelo, cria-se um círculo vicioso que faz aumentar cada vez mais a quantidade de metano.

O metano é um gás de efeito estufa que causa 80 vezes mais aquecimento por molécula do que o dióxico de carbono (CO2) nos primeiros 20 anos após os quais é emitido.

Apesar de haver menos metano na atmosfera em comparação com o CO2, estima-se que ele seja responsável por mais de 25% do aquecimento induzido pelo homem. Por isso, a redução rápida das emissões de metano pode causar um impacto mais imediato, já que ele permanece na atmosfera por cerca de uma década, enquanto o CO2 pode permanecer por séculos.


Fumaça das fábricas de tijolos em Bangladesh

Nesta imagem, Jubair Ahmed, concorrente ao prêmio de Jovem Fotógrafo Meteorológico do Ano, capturou a poluição prejudicial emitida pelos milhares de fornos de tijolos em Bangladesh.

A fumaça preta, que inclui partículas muito pequenas de dióxido de enxofre e o monóxido de carbono, pode ser inalada e causar danos aos pulmões, podendo entrar na corrente sanguínea em alguns casos.

Os fornos de tijolos não apenas prejudicam a saúde humana e o meio ambiente, mas também contribuem para as emissões de gases de efeito estufa.

Como tendem a ser aquecidos pela queima de carvão, o processo produz grandes quantidades de dióxido de carbono e óxidos nitrosos. Globalmente, os setores de manufatura e de  construção ocupam o terceiro lugar no ranking de emissões de gases de efeito estufa.


Derretimento precoce da neve nos picos da Polônia

Durante a escalada do Pico Wołowiec, nas Montanhas Tatra, na Polônia, o fotógrafo Adam Łada registrou essa visão de um cume, ao longo do qual os colegas alpinistas aparecem como manchas pretas na neve branca.

Nos Tatras, a queda de neve geralmente começa no final de outubro ou início de novembro. A cobertura de neve costumava persistir até maio nas partes mais altas e até julho em lugares sombreados. Esta imagem foi tirada em março de 2024, e Adam observou que a quantidade de neve era incomumente baixa para aquela época do ano. No dia em que a imagem foi tirada, havia manchas sem neve, mesmo a 1.800m acima do nível do mar.

Os moradores do local contaram a Adam que não conseguiam se lembrar de um momento em que não era possível esquiar de Kasprowy Wierch para Kuźnice naquela época do ano. Os invernos europeus estão se aquecendo devido às mudanças climáticas, levando à redução das estações de neve à medida que o derretimento da primavera chega mais cedo.

Isso afeta também a vegetação. Adam descreveu como nas áreas mais baixas a vegetação começou a crescer 2 a 3 semanas antes. Como resultado, as inflorescências de muitas árvores e arbustos já estão desenvolvidas quando as geadas acontecem no seu período habitual fazendo com que muitas flores congelem:  “Pela primeira vez na minha vida, a nogueira do meu jardim não tem uma única fruta”, constata Adam.


Rios secos em Bangladesh

A imagem é marcada pelo forte simbolismo de um rio que está secando, formando a forma de uma árvore sem folhas.

Usando um drone, o fotógrafo Md Shafiul Islam capturou a cena na região de Haripur, no distrito de Gaibandha, em Bangladesh. Ela mostra os efeitos da seca e da interferência humana no fluxo do rio Teesta, que percorre a Índia e Bangladesh até se fundir com o rio Brahmaputra.

Embora o rio Teesta esteja secando e o nível de água subterrânea caia em períodos de seca, a mudança climática está fazendo com que durante as chuvas, especialmente na estação das monções, ocorram inundações e a erosão das margens.

Medidas estão sendo realizadas, com a introdução de culturas que podem crescer em terreno arenoso, resistentes à seca e às inundações. As casas estão tendo a altura de suas bases elevadas e durante o período das monções a água da chuva é colhida para ser usada na estação seca. A união do conhecimento científico com a experiência local está sendo crucial para a superação do problema.


Terra seca em Mianmar

Nesta imagem, uma família pendura um pano de algodão tingido para secar enquanto o sol nasce no fundo, no município de Ma Hlaing, em Mianmar. O fotógrafo Pyinnya Thiri U Thitsar escolheu um ângulo que destaca a extensão da terra seca e rachada.

A terra seca é um lembrete de como é intensivo o uso de água no cultivo do algodão. Apenas uma camiseta de algodão requer quase 2.700 litros de água, o equivalente a 2,5 anos de água potável para uma pessoa.

 As secas são comuns na Zona Seca de Mianmar, onde grande parte do algodão do país é cultivado. Em todo o mundo, é importante encontrar maneiras mais sustentáveis de cultivar algodão.

As alternativas de fibra plástica para a produção de tecido são piores. Elas não apenas representam um risco maior para o meio ambiente, mas também tiram os meios de subsistência dos pequenos produtores de algodão em lugares como Mianmar.


Tempestades mais frequentes e intensas no Reino Unido

A foto de uma placa submersa, indicando o risco de pedestres caminharem numa trilha à margem de um rio, foi tirada pelo fotógrafo local Ian Knight enquanto vagava pela cidade tentando evitar as inundações causadas pelo rio Sow no centro de Staffordshire.

Ian lembra como o rio “só costumava inundar uma vez durante anos”, mas observa que “nos últimos dois anos inundou várias vezes”. A inundação agora é tão comum que as trilhas ao redor do rio passaram a ter placas de alerta, mas, como mostra a imagem, até mesmo elas acabam debaixo d’água.

A inundação retratada foi provocada pela Tempestade Henk, no início de janeiro de 2024, que provocou quase 300 avisos de inundação emitidos apenas na Inglaterra, porque os níveis dos rios já estavam altos e o solo saturado após uma série de tempestades significativas em dezembro de 2023.

Um estudo da World Weather Attribution revelou que, no Reino Unido e na Irlanda, as tempestades no inverno de 2023/24 se tornaram dez vezes mais prováveis e 20% mais intensos devido às mudanças climáticas.


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