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Democracia em declínio: 5,7 bilhões de pessoas vivem sob autocracias, revela relatório global

Protesto em Mianmar, um dos países com regime autocrático no mundo

Protestos em Mianmar, após golpe militar de 2021 (Foto: Pyae Sone Htun/Unsplash)

Londres – Cerca de 5,7 bilhões de pessoas, ou 71% da população mundial, vive em regimes autocráticos. É o 15º anos consecutivo em que o número supera o dos que vivem em democracias.

Os dados fazem parte do Relatório da Democracia, um estudo em larga escala feito pela organização sueca V-Dem Institute, da Universidade de Gotemburgo. 

Staffan Lindberg, V-Dem Institute
Staffan Lindberg, V-Dem Institute (foto: MediaTalks)

O diretor do V-Dem, Staffan Lindberg, afirmou que a liberdade de expressão foi o componente mais afetado no processo global de erosão da democracia nos últimos anos, e apontou a desinformação como forte influência para esse resultado.

Ela piorou em 35 países em 2023. Em seguida, os componentes democráticos mais afetados foram a lisura dos processos eleitorais e a liberdade de associação.

Onde a democracia está mais ameaçada

O declínio democrático é mais acentuado no Leste Europeu e na Ásia do Sul e Central, enquanto a América Latina e o Caribe contrariam a tendência global. 

Dos países pesquisados, 91 foram classificados como democracias e 88 como autocracias, mas a população que vive nesses últimos é bem maior do que nos primeiros.

O mapa mostra a situação em 2023. Quanto mais forte o azul, mais forte a democracia. Quanto mais forte o vermelho, mais fechada a autocracia.

Mudanças de Regime

A terça parte dos países pesquisados (60) foi identificada como vivendo uma transição de regime.

  • Processos de reforço de componentes autocráticos estão em curso em 42 países, onde vivem cerca de 35% da população global.
  • A India, com 18% da população mundial, responde por cerca de metade da população que vive em países em processo de autocratização.
  • Processos de reforço de componentes democráticos ocorrem em 18 países, onde vivem apenas 5% da população mundial.
  • O Brasil corresponde a mais da metade dos países em processo de reforço da democracia. 

Em 20 anos, de 2003 a 2023, o número de países em processo de autocratização quase quadruplicou, passando de 11 para 42, enquanto a quantidade em processo de reforço de componentes democráticos caiu pela metade, de 35 para 18.

Retrato dos países que realizaram eleições em 2024

As eleições são  consideradas pelos pesquisadores do V-Dem como eventos críticos que podem desencadear democratização ou reforçá-la, ou, por outro lado, abrir caminho para a autocratização ou estabilizar regimes autocráticos.

Dos 34 países que realizaram eleições em 2024, a pesquisa revela que 31 deles pioraram seus níveis democráticos.

Democracia liberal é o regime mais comum e autocracias eleitorais são as que abrigam mais pessoas

Do total de 71% da população global que vive em autocracias, o estudo aponta que a maior parte, correspondente a uma parcela de 44%, reside em autocracias eleitorais, o que inclui países populosos como a India, o Paquistão, o Bangladesh, a Rússia, as Filipinas e a Turquia.

A outra parcela, de 27%, vive em autocracias fechadas, como países de população numerosa como China, Irã, Mianmar e Vietnam. 

Em contrapartida, apesar de ser o tipo de regime mais comum no mundo, 59 democracias eleitorais acolhem apenas 16% da população mundial. O Brasil está incluído nessa categoria.

As 32 democracias liberais repondem por 13% da população mundial. Os Estados Unidos são, de longe, a maior democracia liberal, representando 4% da população mundial e cerca de um terço da população total desse tipo de regime.

A grande maioria dos latino-americanos (86%) vive em democracias eleitorais, como a Argentina e o Brasil, e 4% vive em democracias liberais, como o Chile e o Uruguai. Os únicos regimes autocráticos da América Latina assim classificados pelo estudo são os de Cuba, Nicarágua e Venezuela, onde vivem 10% da população da região.

Embora considerados democracias eleitorais, México, Guatemala, Guiana e Honduras são países da América Latina considerados pelo estudo como numa “zona cinzenta”, devido à incerteza dessa classificação.

Desinformação e regimes autocráticos 

O professor Staffan Lindberg explica que a disseminação da desinformação é usada buscando a polarização do eleitorado, para assim dividí-lo e daí passar a controlá-lo.

‘Aspirantes a ditadores espalham desinformação em casa e no exterior.’

O relatório completo pode ser visto aqui


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