Londres – A exibição espontânea de violência real e conteúdos gráficos nas redes sociais está deixando crianças e adolescentes com medo do “mundo real” e inclinados a usarem armas para garantir proteção ao sair de casa, segundo um novo estudo sobre conteúdo nocivo online.
A pesquisa foi feita pela ONG britânica Youth Endowment Fund (YEF) envolveu 10 mil jovens de 13 a 17 anos no Reino Unido, mas suas revelações não se restringem ao país, já que as redes sociais têm parâmetros globais de operação.
O TikTok foi apontado como o que mais exibe conteúdo violento: 44% dos jovens entrevistados disseram ter visto cenas reais chocantes na plataforma. Em seguida aparecem X (43%), Facebook (33%) e Snapchat (32%).
A vivência no mundo online tem graves impactos para a vida offline dos jovens, com muitos afirmando que têm medo de sair de casa enquanto outros até pensam em adquirir armas para se proteger dos perigos que temem encontrar nas ruas.
TikTok é a plataforma que mais exibe violência pelo 2º ano consecutivo
A pesquisa da YEF revelou que 70% dos jovens afirmaram que viram conteúdos violentos em seus feeds nos últimos 12 meses.
O conteúdo mais frequente visto por crianças e adolescentes foi brigas envolvendo jovens, com 56% dos entrevistados alegando que se depararam com vídeos assim.
Ameaças físicas (43%), conteúdos relacionados a atividades de gangues (33%) e armas (35%) também aparecem como as violências mais frequentes exibidas para os jovens. Conteúdo sexualmente violento ou com ameaças foram reportados por 27%.
A ONG destaca que 1 em cada 9 crianças viram conteúdo violento com facas ou facões – número significativamente maior do que o 1% dos jovens da faixa etária pesquisada que afirmaram possuir esse tipo de arma.
Para a YEF, isso significa que as redes sociais amplificam o medo em jovens ao fazer com que certos comportamentos pareçam mais difundidos do que realmente são.
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Violência faz jovens apoiarem restrições a redes sociais
A pesquisa traz outro dado importante. Os jovens não estão buscando por violência nas redes sociais: ela foi exibida de forma espontânea nos feeds, stories ou nas abas “For You” e “Notícias” para 25% dos entrevistados.
Consumir todo esse conteúdo violento traz impactos para a vida fora da tela.
A maioria dos jovens (80%) que viu armas nas redes sociais afirmou que se sente menos segura em sua comunidade.
Já 68% dos entrevistados expostos a esse tipo de conteúdo disseram que têm menos disposição para sair de casa, e 39% afirmaram que isso despertou a vontade deles próprios portarem uma arma.
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Dentre os adolescentes que relataram já terem desempenhado comportamento violento no “mundo real”, 64% apontam que as redes sociais tiveram um importante papel para essas ações.
Discussões online também foram citadas como impulsionadoras para a violência offline.
Toda essa agressividade e violência fazem com que crianças e adolescentes apoiem que o uso de telefones e redes sociais seja limitado:
- 24% dos jovens acreditam que o acesso a smartphone que acontecer somente aos 13 anos;
- 45% acham que o acesso às mídias sociais só deve ser permitido aos 13 anos;
- 20% acreditam que a idade de acesso às mídias sociais deve ser de pelo menos 16 anos.
“Nossas descobertas destacam a responsabilidade das empresas de mídia social de remover ou restringir conteúdo prejudicial”, afirma a YEF.
“Também é necessário suporte e educação eficazes para ajudar as crianças a navegarem por esses perigos enquanto ainda se beneficiam dos aspectos positivos que a mídia social pode oferecer.”
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