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Visibilidade das mudanças climáticas na imprensa vem diminuindo no mundo desde 2021, mas cresce na América Latina

Londres – Apesar de 2023 ter sido marcado por recordes de temperatura e de concentração de dióxido de carbono, a cobertura da imprensa sobre as mudanças climáticas e o aquecimento global vem diminuindo globalmente desde 2021, quando atingiu seu pico.

A constatação é do projeto MeCCO (Media and Climate Change Observatory), uma iniciativa multiuniversitária sediada na Universidade do Colorado, que reúne pesquisadores de 15 instituições. Há 20 anos, essa estrutura monitora a cobertura de imprensa de sete regiões do globo, envolvendo 59 países, incluindo o Brasil.

Desde que foi atingida a maior cobertura anual de todos os tempos em 2021, o levantamento doMeCCO demonstra que ela caiu 10% em 2022, e que o resultado de 2023 tornou a cair, desta vez 4% em relação ao ano anterior. 

O patamar porém, se mantém acima do nível da cobertura da década anterior, com a cobertura de 2023 posicionando-se como a terceira maior do levantamento, que é realizado desde 2004.

O problema é a tendência de queda, que continua em 2024, de acordo com os monitoramentos mensais já divulgados pelo MeCCO de janeiro a outubro. A cobertura verificada nesses 10 primeiros meses encontra-se nível 12% abaixo daquela do mesmo período de 2023.

Cobertura das mudanças climáticas vem aumentando na América Latina

O monitoramento do MeCCO compara anualmente a variação da cobertura considerando sempre os mesmos veículos noticiosos, cuja lista inclui as agências internacionais de notícias e as principais corporações de notícias dos 59 países monitorados.

Dessa maneira, o relatório permite avaliar o comportamento da cobertura pelas sete regiões em que o estudo divide o mundo.

Em 2023, a cobertura das mudanças climáticas da América Latina atingiu os maiores patamares já registrados nos meses de janeiro a maio e de julho a setembro.

Logo depois da América Latina, a cobertura sobre mudanças climáticas e aquecimento global bateu recordes em sete meses do ano passado no Oriente Médio e em seis na Ásia.

Embora a cobertura anual de 2013 tenha caído em relação aos dois anos anteriores, a cobertura do mês de março foi a maior registrada nesse mês de toda a série histórica.

Esses recordes têm um lado bom e outro ruim. Significa que as mídias dessas regiões resolveram dar mais atenção ao tema, e assim superaram os números de uma base que não era tão alta.

Pelo motivo inverso, não foram registrados recordes na América do Norte e na Oceania porque essas duas regiões se revezam como as de maior cobertura dedicada ao assunto. 

Para os latino-americanos, a boa notícia é que a tendência de alta da cobertura das mudanças climáticas na região continua em 2024, de acordo com os monitoramentos mensais já divulgados pelo MeCCO de janeiro a outubro.

A cobertura verificada nesses 10 primeiros meses encontra-se nível 72% acima daquela registrada no mesmo período de 2023, graças, principalmente, a uma aceleração nos meses de setembro e outubro.

Porém, a subida de algumas regiões não compensa a queda de 12% verificada na cobertura global em 2024, até outubro. 

Essa tendência de queda global é preocupante porque, como enfatizam os autores do monitoramento, os cidadãos comuns não costumam acessar diretamente os estudos científicos, e sua conscientização – e mobilização para a ação climática – depende das informações que recebem da cobertura da imprensa.

Assim, quanto menor a cobertura, menor a probabilidade de mobilização e menor a pressão sobre os que detêm o poder.

A tendência de queda após um pico parece demonstrar que o mundo tomou um susto ao se conscientizar do perigo real das mudanças climáticas, mas já vem se acostumando com a ideia.

Mais do que nunca, vale o alerta do jornalista ambiental britânico David Attenborough, um dos mais importantes do setor em todo mundo, que alerta: “salvar nosso planeta é agora um desafio de comunicação”.

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