Donald Trump passou duas campanhas eleitorais e um mandato de presidente dos EUA atacando jornalistas e incitando seguidores a fazerem o mesmo, mas há quem acredite que pode fazê-lo deixar de considerar a imprensa “inimiga do povo”: Jeff Bezos, fundador da Amazon e dono do jornal Washington Post. 

Ele deu a declaração nesta quarta-feira (4) em entrevista ao jornalista Andrew Ross Sorkin durante o encontro DealBook Summit, promovido anualmente pelo New York Times. 

O diário da capital federal americana foi alvo de críticas e perdeu assinantes quando decidiu não apoiar a candidata democrata, Kamala Harris, quebrando uma tradição de décadas. Bezos não manifestou seu voto, mas agora se diz otimista com a volta de Trump à presidência. 

O motivo do otimismo, segundo o empresário, é a promessa do futuro presidente de reduzir regulamentações, uma preocupação cada vez maior para as plataformas digitais. 

Na conversa, Bezos expressou também sua esperança de que o segundo governo Trump adote uma postura mais favorável em relação à imprensa. 

Em seu primeiro mandato, o então presidente tuitou ferozmente contra jornalistas e veículos, postura que manteve durante a campanha deste ano que culminou com sua vitória. 

Em comícios, Trump chegou a incitar apoiadores a se manifestarem contra os jornalistas que faziam a cobertura. 

Essa postura não parece assustar Jeff Bezos, um dos homens mais ricos e poderosos do mundo, que em 2013 comprou o Washington Post em meio a dívidas e queda de leitores. 

Ele afirmou acreditar que “a imprensa não é inimiga” e manifestou sua intenção de “convencer” Trump a abandonar essa visão. 

Relação tensa entre Bezos e Trump no primeiro mandato

O sucesso da ideia pode depender de Trump abandonar a visão anterior sobre o próprio Bezos e sobre seus negócios.

A relação entre os dois foi tensa durante o primeiro mandato de Donald Trump.

O então presidente criticava Bezos e a Amazon, além de rotular o Washington Post como “fake news” e “principal lobista” da gigante do comércio eletrônico.

Trump acusou a Amazon de sonegar impostos e seu governo impediu a empresa de fechar um contrato bilionário com o Pentágono, em um episódio visto como retaliação às reportagens do Post, segundo a CNN. 

Bezos reconheceu durante a entrevista a crise de confiança enfrentada pela mídia tradicional e falou sobre a decisão de seu jornal não endossar um candidato, junto com o Los Angeles Times. 

Para ele, isso poderia fortalecer a “percepção de parcialidade”. O bilionário negou que tenha seguido esse caminho por temer represálias do novo governo aos seus negócios.

O empresário admitiu que ser dono de um dos jornais mais influentes do país e do mundo pode gerar “aparência de conflito”, mas garantiu que o jornal continuará a cobrir todos os presidentes de forma “agressiva”. 

O empresário se diz otimista com o futuro do Washington Post, que enfrenta dificuldades com a queda de assinaturas e audiência.