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Jornalismo de soluções: uma luz no fim do túnel para a cobertura climática em declínio no mundo?

Duas mulheres observam uma foca indo em direção ao mar, um exemplo de projeto para proteger espécies ameaçadas que pode ser abordada pelo jornalismo de soluções

O jornalismo de soluções é aplicado em temas como meio ambiente, apresentando ideias para proteger o planeta

Londres – Apesar de suas dificuldades em gerar avanços práticos, as Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COPs) desempenham um papel crucial na visibilidade da questão do clima na mídia, como se viu novamente este ano em Baku. 

O encontro anual de líderes mundiais, ativistas, cientistas e jornalistas coloca o tema sob os holofotes, impulsionando a cobertura jornalística e o debate público. Mas, apesar de a temperatura do planeta estar subindo, o espaço dedicado à sustentabilidade ambiental vem caindo na imprensa global. 

A constatação foi feita por um estudo destacado na edição especial COP29 do MediaTalks, publicada após o encerramento da conferência da ONU no Azerbaijão. 

Projeto monitora clima na mídia há duas décadas

O MeCCO (Observatório de Mídia e Mudanças Climáticas) da Universidade do Colorado monitora há 20 anos a cobertura da imprensa em 59 países. 

O estudo aponta que todo mês de novembro, coincidindo com as COPs, há um aumento significativo nas menções à sustentabilidade e ao clima, principalmente nos países-sede e regiões próximas. 

Outro fator importante para impulsionar a cobertura ambiental global, segundo o MeCCO, é a divulgação de relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que costumam gerar grande repercussão. 

No entanto, o espaço para o tema vem caindo desde 2021, ano da cúpula histórica em Glasgow, quando alcançou seu ponto mais alto. 

A COP26, que aconteceu quando o mundo saía da pandemia do coronavírus, foi palco de grandes manifestações públicas e reuniu os mais importantes líderes globais.

Isso não aconteceu nas edições seguintes, no Egito e nos Emirados Árabes Unidos. 

Espaço dedicado ao clima caiu em 2022, 2023 e 2024 

Coincidência ou não, em 2022 houve uma redução anual de 10% na cobertura. Em 2023 a queda foi de 4%, segundo o MeCOO. 

Essa tendência intensificou-se em 2024, com os primeiros dez meses do ano registrando 12% menos cobertura em comparação com 2023.

É impressionante isso ter acontecido mesmo em um período de temperaturas recordes e eventos climáticos devastadores. 

No caso da América Latina, a cobertura climática teve um aumento recorde entre janeiro e maio e entre julho e setembro de 2023, continuando em 2024.

Os pesquisadores do MeCCO sugerem que a queda global pode estar relacionada a uma “acomodação” do público à ameaça das mudanças climáticas, após um período de intensa conscientização em 2021.

Ela reflete também a dificuldade de incluir questões científicas no noticiário sobre tragédias como enchentes e furacões, que acaba se concentrando em questões mais imediatas, como socorro às vítimas e brigas politicas em torno de prevenção e ajuda.

Jornalismo de soluções: um caminho para mobilizar 

Diante da queda, o jornalismo de soluções emerge como uma ferramenta poderosa para reacender o interesse do público e mobilizar ações efetivas.

Essa abordagem se propõe a ir além do “o que deu errado”, explorando as respostas e iniciativas que buscam solucionar problemas sociais, como a crise climática, em vez de se concentrar apenas nos aspectos negativos. 

Ao apresentar soluções e iniciativas inspiradoras, o jornalismo de soluções pode mobilizar o público a se engajar na busca de soluções e direcionar políticas públicas ou ações corporativas, criando impacto real. 

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