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Maioria dos influenciadores não checa as informações que compartilha, revela pesquisa da Unesco

Em um momento que o combate à desinformação é um desafio para a sociedade e uma parcela cada vez maior do público se informa pelas redes sociais, uma pesquisa da Unesco revela que a maioria dos influenciadores digitais não verifica as informações divulgadas aos seus seguidores, apesar de expressarem interesse em saber como fazê-lo para evitar a propagação de notícias falsas.

Realizada em 45 países, incluindo o Brasil, a pesquisa apontou que 62% dos influenciadores admitiram que não verificaram as informações que postam – o que pode acabar aumentando a propagação de desinformação e notícias falsas.

Um terço dos criadores de conteúdo (33,5%) relatou ainda que compartilha postagens de terceiros sem verificar a fonte.

O que motiva os influenciadores?

O “Behind the Screens” (Por Trás das Telas, em tradução livre) é resultado de entrevistas com 500 influenciadores para identificar as motivações, práticas e desafios desses criadores de conteúdo.

Para o estudo, a Unesco define “influenciadores” como pessoas criadoras de conteúdo em plataformas sociais (como YouTube, TikTok e Instagram) com pelo menos 1 mil seguidores.

A pesquisa descobriu que a principal motivação dos criadores de conteúdo é compartilhar conhecimento (26%), seguido pela geração de renda (23,8%) e pelo entretenimento (23,4%).

Expressar opinião ou emoção sobre um assunto (13,8%), promover o trabalho (6,2%) e militar por uma causa (5,8%) são outras motivações apontadas pelos influenciadores.

A brasileira Amanda da Cruz Costa é um exemplo dessa tendência. A influencia usa suas redes para dar visibilidade à questão climática, com foco em jovens, pessoas negras e periféricas:

“Eu diria que sou mais um ativista do que uma criadora de conteúdo. [As redes sociais] são uma forma de trazer mais visibilidade à causa.”

Influenciadores espalham desinformação sem perceber

Apesar de serem conhecidos como “influenciadores”, uma pesquisa da Unesco descobriu que são poucos os que, de fato, se consideram assim: apenas 19% dos criadores se enxergam como influentes em suas redes.

Mesmo sem se identificarem como influentes, os criadores de conteúdo frequentemente coletam informações com seus seguidores.

Por isso, o estudo buscou identificar os critérios usados ​​pelos influenciadores na hora de divulgar conteúdos que eles consideram relevantes:

  • 42% dos entrevistados disseram que usam “o número de ‘curtidas’ e ‘compartilhamentos’ que uma postagem recebida” nas mídias sociais como principal indicador de que o conteúdo é confiável;
  • 21% reunidos conteúdos que foram postados por amigos ou especialistas que eles consideram confiáveis;
  • 19% afiliados com base na confiança do autor sobre o assunto;

“Jornalistas podem ser uma ajuda valiosa para criadores de conteúdo digital verificarem a confiabilidade de suas informações”, destaca a Unesco.

A cooperação entre esses dois grupos, no entanto, ainda é rara.

Grandes veículos de notícias são a terceira fonte de informações mais comum para os influenciadores (36,9%), que injetam em sua própria curaria em primeiro lugar (58,1%), seguidos de suas próprias pesquisas e entrevistas (38,7% ).

A parceria de jornalistas e influenciadores pode fazer a imprensa voltar a ser uma fonte primária de notícias nas redes – já que, no mundo online, a contrapartida está associada à visibilidade.

Influenciadores desconhecem normas e regulamentos das redes

A pesquisa da Unesco também expõe um desconhecimento generalizado sobre normas e regulações das redes para criadores de conteúdo.

A maioria dos influenciadores (59%) não está familiarizada ou só ouviu falar de padrões internacionais para a produção de conteúdo digital. A agência da ONU destaca a gravidade disso: 

“Essa lacuna pode colocar os criadores de conteúdo digital em incerteza jurídica, expondo-os a processos e condenações em alguns países.

Também os impede de reivindicar seus direitos quando eles próprios são vítimas no ambiente online.”

Não é incomum influenciadores serem alvos de assédio online ou discurso de ódio — 32,3% já foram vítimas desse último. Mas somente 20,4% relataram às plataformas, revela a pesquisa.

A influenciadora brasileira Clara Avebuck descreve o Instagram como um “pesadelo” para a moderação de conteúdo, o que facilita ataques e dificulta a remoção de posts ofensivos.

“O Instagram não vê o discurso de ódio porque é um algoritmo. É difícil falar com uma pessoa. É o algoritmo que decide”, afirma.

Para a Unesco, a pesquisa revela que os influenciadores precisam de suporte e treinamento para continuarem produzindo com segurança, responsabilidade e credibilidade.

Acesse o relatório na íntegra neste link.

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