A batalha judicial pela sucessão do império do magnata Rupert Murdoch, dono da Fox News e News Corp., ganhou mais um capítulo nesta semana – e com um revés nada favorável para o bilionário de 93 anos.

Uma decisão judicial divulgada pelo The New York Times na segunda-feira (9) barrou a tentativa de Murdoch de mudar o fundo fiduciário da família para favorecer o filho preferido, Lachlan, e dar a ele o controle total da emissora de TV conservadora e de um império de jornais e canais de TV. 

A mudança no trust da família iria praticamente retirar o poder de decisão dos outros filhos de Murdoch – James, Elizabeth e Prudence – em questões relacionadas ao império midiático fundado pelo patriarca, e evitar que mudassem a orientação política e ideológica. 

Murdoch e filho agiram de ‘má-fé’ no caso da sucessão, diz oficial

A decisão obtida pelo NYT mostra que o comissário de sucessão responsável pelo caso da família Murdoch foi pragmático ao rejeitar a ação do magnata.

O comissário Edmund J. Gorman Jr. disse que tanto pai quanto filho agiram de “má-fé” ao tentarem alterar as regras de sucessão que previam a divisão igual do controle das empresas de Murdoch entre os quatro filhos mais velhos após a morte de Rupert.

Gorman chegou a chamar o plano de “charada cuidadosamente elaborada” com o objetivo de “consolidar permanentemente os papéis executivos de Lachlan

Murdoch” dentro do império “independentemente dos impactos que tal controle teria sobre as empresas ou os beneficiários” do trust familiar, conforme relato do NYT.

Ao jornal, o advogado que representa Murdoch pai e filho declarou que eles ficaram “decepcionados” com a decisão e pretendiam recorrer.

Os irmãos do outro lado da briga, por sua vez, comemoram a preservação do fundo fiduciário e disseram que, agora, esperam o “fortalecimento” e a “reconstrução” dos relacionamentos entre “todos os membros da família”.

‘Sucession’ da vida real: entenda a disputa da família Murdoch

Se a briga dos Murdoch pareceu uma história familiar, é porque provavelmente serviu de inspiração para a série “Sucession”, um dos maiores sucessos recentes da HBO.

Na vida real, porém, a disputa não é por dinheiro, já que Rupert Murdoch não tinha intenção de mexer na participação dos filhos nas empresas nem herança.

O interesse do magnata era garantir que o viés conservador da Fox News e dos outros veículos sob seu domínio – como The Wall Street Journal, The New York Post e alguns dos principais jornais e canais de televisão da Austrália e Grã-Bretanha – se mantivessem mesmo após sua morte.

A tentativa de Rupert Murdoch de mudar as regras do trust começou oficialmente em setembro e corre sob segredo de justiça.

Sob o argumento da política editorial, Murdoch alegou que a concentração de poder nas mãos de Lachan seria benéfica para os negócios do grupo, era baseada em boa-fé, e traria vantagens para todos os herdeiros. 

Mas também faz perder, e esse pode ser um argumento dos filhos que não aceitaram ser mandados para escanteio.

A Fox teve que pagar a fortuna de US$ 785 milhões para colocar fim a um processo movido pela empresa de urnas eletrônicas Dominion, acusada por ela de uma suposta fraude que teria “roubado” a vitória de Trump. 

Quem viu Succession lembra como Logan Roy transitava nos meios políticos e tinha linha direta com o presidente da República.

Assim provavelmente é Rupert Murdoch, que não faz o tipo que esnoba um presidente só por não gostar das ideias dele. 

A julgar pelo intenção de mudar o trust para garantir um sucessor à sua imagem e semelhança, entretanto, ele mostrou que continua acreditando no estilo Fox News de fazer jornalismo e influenciar a sociedade – seja por ideologia ou por achar que mesmo pagando uma multa aqui outra ali, no fim das contas a audiência, os lucros e o poder compensam.

Só que o resultado da tentativa cria uma nova situação, em que a Fox News pode deixar de ser alinhada ao conservadorismo e a Donald Trump depois que o bilionário sair de cena.