Londres – O jornalista ambiental cambojano Chhoeung Chheng, de 63 anos, morreu no dia 7 de dezembro em consequência de ferimentos a bala sofridos dois dias antes. Ele foi alvejado quando cobria uma operação de transporte ilegal de madeira.
O governo da província de Siem Reap prendeu um suspeito, que admitiu ter atirado no jornalista depois de ter sido fotografado duas vezes removendo madeira de uma reserva natural.
Chheng entra para a lista de vítimas de ataques contra profissionais de imprensa que tentam defender o meio ambiente e acabam sendo vítimas de violência, uma lista que não para de crescer.
O Brasil contribuiu com ela há dois anos, quando o inglês Dom Philips foi assassinado na Amazônia junto com o indigenista Bruno Pereira.
Riscos para os que praticam o jornalismo ambiental
Jornalistas ambientais estão cientes dos riscos envolvidos em seu trabalho, e dados mostram que o perigo é real.
Um estudo da Universidade Deakin, na Austrália, revelou que 39% dos mais de 800 profissionais entrevistados em 102 países já sofreram ameaças relacionadas à cobertura ambiental.
Entre as formas de violência relatadas destacam-se agressões verbais, mencionadas por mais da metade dos entrevistados, seguidas pela violência física, que afetou 10% dos jornalistas.
Além disso, quase um terço deles (29%) enfrentou assédio jurídico, uma estratégia cada vez mais usada para dificultar investigações e reportagens.
Embora as ameaças não sejam exclusivas de países com menor liberdade de imprensa, contextos repressivos agravam a situação. No Camboja, por exemplo, a repressão à mídia é comum, como aponta a organização Repórteres sem Fronteiras.
A impunidade dos agressores intensifica o problema, forçando muitos jornalistas a abandonar pautas importantes.
O estudo da Universidade Deakin revelou que 45% dos profissionais entrevistados engavetaram reportagens na última década devido a temores relacionados à segurança.
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O cenário no Brasil: assédio online é a ameaça mais comum
No Brasil, o índice de jornalistas ameaçados por matérias ambientais é equivalente à média global, com 39% relatando algum tipo de intimidação. Uma constatação preocupante no país anfitrião da COP30, que será realizada em novembro de 2025 em Belém.
O assédio online é a forma mais comum de intimidação enfrentada pelos profissionais de imprensa no País, de acordo com a pesquisa da universidade australiana.
Além disso, 22% dos jornalistas ameaçados relataram terem sido abordados diretamente por pessoas envolvidas em atividades ilegais sobre as quais estavam reportando.
Apesar de o índice brasileiro ser inferior ao registrado em países como o Sri Lanka, onde 80% dos jornalistas enfrentaram ameaças diretas, a situação está longe de ser tranquila.
Comparado à Alemanha, onde nenhum jornalista entrevistado relatou ameaças relacionadas à cobertura ambiental, o Brasil ainda enfrenta um longo caminho para garantir a segurança de seus profissionais de imprensa.
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