Londres – Após tentativas discretas de negociação diplomática terem fracassado, Roma endureceu o tom com o Irã, convocou o embaixador iraniano e exigiu a libertação imediata da jornalista italiana Cecilia Sala, presa em Teerã desde 19 de dezembro.

A jornalista, que estava no Irã com visto de imprensa, escreve para o diário italiano Il Foglio e apresenta um podcast de notícias, segue em confinamento solitário na prisão de Evin, conhecida por abrigar opositores do regime iraniano sob condições consideradas desumanas. 

O caso ganha contornos de uma possível troca de prisioneiros. Sala foi presa dias depois de os Estados Unidos e a Itália prenderem dois cidadãos iranianos por violações de exportação relacionadas a um ataque mortal a militares americanos.

Um deles, Mohammad Abedini, está detido em Milão sob acusações de fornecer tecnologia de drones para as forças armadas iranianas.

A rede de TV Iran International, que funciona a partir de Londres e é uma das poucas fontes independentes de notícias sobre o Irã, revelou nesta sexta-feira que Teerã deixou claro a Roma que a liberdade de Cecilia Sala depende da libertação pela Itália de um iraniano “preso a mando de Washington”, citando fontes familiarizadas com as negociações.

O Irã, disse a fonte, está preparado para libertar Sala “por motivos humanitários” se o governo italiano desistir do processo de extradição contra Abedini e conceder sua libertação da sombria prisão de La Opera, em Milão.

Embaixador do Irã convocado pelas autoridades italianas 

A Itália convocou o embaixador iraniano em Roma, Mohammad Reza Sabouri, em duas ocasiões para discutir a situação da jornalista italiana presa no Irã. 

O ministro das Relações Exteriores italiano, Antonio Tajani, classificou a prisão de Sala como “inaceitável” e afirmou que o governo está “trabalhando com grande discrição para resolver esse problema extremamente complexo”.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, convocou uma reunião com Tajani, o ministro da Justiça, Carlo Nordio, e os chefes dos serviços de inteligência da Itália para discutir o caso.

Quem é a jornalista italiana presa no Irã

Cecilia Sala, de 29 anos é uma figura conhecida na Itália, com quase meio milhão de seguidores no Instagram e participações regulares em programas de entrevistas.

Ela cobriu temas como a guerra na Ucrânia, a crise na Venezuela e o conflito entre Israel e o Hamas.

Sala tem trabalhos publicados em diversos veículos de comunicação, incluindo o Il Foglio e a Chora Media, produtora de seu podcast, Stories. 

Ela é autora de vários livros, incluindo L’incendio. Reportage su una generazione tra Iran, Ucraina e Afghanistan.

Seus trabalhos abordam temas como o patriarcado, a liberdade das mulheres e a situação política no Irã.

Jornalista em condições precárias na prisão do Irã

De acordo com relatos da mídia italiana, Sala descreveu em um telefonema para seus pais as condições precárias de sua detenção. Ela estaria dormindo no chão, sem colchão, com apenas dois cobertores, e recebendo comida por uma fresta na porta.

Itens de higiene levados por autoridades consulares italianas e até uma máscara para bloquear a luz acesa continuamente no cárcere, uma forma de minar a resistência dos presos, não teriam sido entregues a ela. 

A detenção de Sala tem gerado grande repercussão na Itália, e o governo italiano tem sido pressionado a agir para garantir sua libertação.

O caso coloca em evidência as tensões diplomáticas entre os dois países e levanta questões sobre a liberdade de imprensa e os direitos humanos no Irã.

O país ocupa a 176ª posição entre 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa da Repórteres Sem Fronteiras em 2024.

Desde o início dos protestos “Mulher, Vida, Liberdade” em 2022, 79 jornalistas foram presos no Irã.