Londres – A jornalista italiana Cecilia Sala, que estava detida no Irã desde 19 de dezembro, foi libertada e embarcou em um avião em Teerã rumo à Itália na manhã desta quarta-feira “graças ao intenso trabalho nos canais diplomáticos e de inteligência”, informou em nota o governo italiano. 

O anúncio foi feito por volta das 11h30 (horário local). A primeira-ministra Giorgia Meloni expressou “gratidão a todos aqueles que contribuíram para tornar possível o regresso de Cecília, permitindo-lhe voltar a abraçar a sua família e colegas”, mas não mencionou se houve algum acordo envolvendo troca de prisioneiros. 

Sala, que estava no Irã com visto de imprensa, escreve para o diário italiano Il Foglio e apresenta um podcast de notícias. Ela foi mantida em confinamento solitário na prisão de Evin, conhecida por abrigar opositores do regime iraniano sob condições consideradas desumanas.

Segundo o jornal La Reppublica, o diretor da Aise, a Agência Externa de Informação e Segurança, Giovanni Caravelli , teria ido pessoalmente a Teerã para buscá-la.

A jornalista de 29 anos é uma figura conhecida na Itália, com quase meio milhão de seguidores no Instagram e participações regulares em programas de entrevistas.

Ela cobriu temas como a guerra na Ucrânia, a crise na Venezuela e o conflito entre Israel e o Hamas. Sala tem trabalhos publicados em diversos veículos de comunicação, incluindo o Il Foglio e a Chora Media, produtora de seu podcast, Stories. 

Ela é autora de vários livros, incluindo L’incendio. Reportage su una generazione tra Iran, Ucraina e Afghanistan, abordando temas como o patriarcado, a liberdade das mulheres e a situação política no Irã.

Troca de prisioneiros não confirmada 

O caso ganhou contornos de uma possível troca de prisioneiros. Sala foi presa dias depois de os Estados Unidos e a Itália prenderem dois cidadãos iranianos por violações de exportação relacionadas a um ataque mortal a militares americanos.

Após tentativas discretas de negociação diplomática terem fracassado, Roma endureceu o tom com o Irã na semana passada, convocando o embaixador iraniano e exigindo a libertação imediata da jornalista italiana presa.

A rede de TV Iran International, que funciona a partir de Londres e é uma das poucas fontes independentes de notícias sobre o Irã, revelou na última sexta-feira que Teerã deixou claro a Roma que a liberdade de Cecilia Sala dependeria da libertação pela Itália de um iraniano “preso a mando de Washington”, citando fontes familiarizadas com as negociações.

O Irã, disse a fonte, está preparado para libertar Sala “por motivos humanitários” se o governo italiano desistisse do processo de extradição contra Abedini e conceder sua libertação da sombria prisão de La Opera, em Milão.

Mas nenhum detalhe sobre as especulações foi confirmado ou comentado. 

Jornalista em condições precárias na prisão do Irã

De acordo com relatos da mídia italiana, Sala descreveu em um telefonema para seus pais as condições precárias de sua detenção nos primeiros dias. Ela teria dormido no chão, sem colchão, com apenas dois cobertores, e recebia comida por uma fresta na porta.

Itens de higiene levados por autoridades consulares italianas e até uma máscara para bloquear a luz acesa continuamente no cárcere, uma forma de minar a resistência dos presos, não teriam sido entregues a ela. 

Mas ontem, em novo telefonema, ela informou aos pais que as condições haviam melhorado e que recebera os itens de higiene. 

O caso coloca em evidência as tensões diplomáticas entre os dois países e levanta questões sobre a liberdade de imprensa e os direitos humanos no Irã.

O país ocupa a 176ª posição entre 180 países no Índice de Liberdade de Imprensa da Repórteres Sem Fronteiras em 2024.

Desde o início dos protestos “Mulher, Vida, Liberdade” em 2022, 79 jornalistas foram presos no Irã.