Londres – O relatório “Journalism and Technology Trends and Predictions 2025” do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, com base em uma pesquisa com 326 líderes digitais de 51 países e territórios, incluindo o Brasil, apresenta um panorama do futuro do jornalismo em 2025, explorando os desafios e as oportunidades que o setor enfrenta.
Os autores destacaram a frase de Elon Musk, “Você é a mídia agora”, para ilustrar a desconfiança crescente na imprensa tradicional e a ascensão das mídias alternativas e influenciadores, enfatizando a necessidade de o jornalismo buscar novas formas de se conectar com o público e construir confiança.
O relatório revela um paradoxo: enquanto a confiança no futuro do jornalismo diminui, a maioria dos líderes de mídia se mostra otimista em relação aos seus próprios veículos.
Crise de Confiança e a Busca por Relevância
Apenas 41% dos entrevistados se dizem confiantes no futuro do jornalismo, uma queda significativa em relação aos 60% registrados em 2022. Essa crise de confiança se deve a uma série de fatores, incluindo:
- Ataques de políticos hostis: O relatório cita o caso de Donald Trump, que durante sua campanha ameaçou cancelar licenças de transmissão de redes de TV por “cobertura injusta” e prender jornalistas que se recusassem a revelar suas fontes.
- Legislações restritivas à liberdade de imprensa: Diversos países têm implementado leis que dificultam o trabalho dos jornalistas, restringindo o acesso à informação e criminalizando a publicação de certas informações.
- A ascensão de mídias alternativas e influenciadores: A crescente influência de personalidades e influenciadores no ecossistema de notícias, principalmente entre o público mais jovem, tem desviado a atenção da mídia tradicional, muitas vezes vista como elitista e distante da realidade.
O Brasil é destacado como país como um exemplo da crescente influência de personalidades e influenciadores no consumo de notícias, principalmente em temas políticos, através de plataformas como YouTube e Instagram.
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Oportunidades e Reinvenção: A Adaptação à Era Digital
Apesar do pessimismo generalizado, 56% dos líderes de redações se mostram confiantes em relação às perspectivas de seus próprios negócios. Esse otimismo se baseia em:
- Crescimento das assinaturas digitais: Com a diminuição do tráfego proveniente de redes sociais e a crescente desconfiança em relação ao conteúdo gratuito, muitos veículos têm investido em modelos de assinatura, buscando construir uma base de leitores fiel e disposta a pagar por conteúdo de qualidade.
- Diversificação de receitas: A busca por novas fontes de financiamento, como crowdfunding, filantropia, eventos e licenciamento de conteúdo para plataformas de IA, tem se intensificado, na tentativa de reduzir a dependência da publicidade tradicional.
- Inovação em produtos e formatos: O desenvolvimento de novos produtos, como podcasts, vídeos, jogos e conteúdo interativo, visa atrair novas audiências, especialmente os mais jovens, que se mostram cada vez mais desinteressados nos formatos tradicionais de notícias.
A Inteligência Artificial: ferramenta poderosa e disruptiva
O relatório dedica grande atenção à inteligência artificial (IA), que se apresenta como uma força disruptiva, mas também como uma ferramenta poderosa para o jornalismo.
Disrupção na busca online: A IA generativa, utilizada por plataformas como Google e OpenAI para gerar respostas diretas às buscas dos usuários, ameaça reduzir o tráfego para sites de notícias. A remuneração justa pelo uso do conteúdo jornalístico por essas plataformas é uma grande preocupação.
O Brasil tem sido palco de críticas por parte de organizações como a Aos Fatos, que apontam no documento do Reuters para a falta de acordos com empresas locais, favorecendo agências internacionais.
IA na Redação: A IA generativa também tem o potencial de transformar o jornalismo de dentro para fora, auxiliando em tarefas como:
- Edição e produção de conteúdo: Ferramentas de IA podem ajudar na criação de títulos, resumos, traduções e até mesmo na geração de textos completos a partir de dados brutos.
- Verificação de fatos e combate à desinformação: Algoritmos podem ser utilizados para identificar informações falsas e tendenciosas, auxiliando na checagem de fatos e na produção de conteúdo mais preciso.
- Personalização e recomendação de conteúdo: A IA pode ser utilizada para oferecer aos leitores uma experiência mais personalizada, recomendando conteúdo relevante de acordo com seus interesses.
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Novos Desafios, Novas Abordagens
O relatório aponta para a necessidade de o jornalismo se adaptar às novas demandas e aos novos hábitos de consumo de informação.
Combatendo a Fadiga de Notícias: A cobertura constante de eventos negativos, como guerras, crises políticas e desastres naturais, tem gerado um fenômeno conhecido como “fadiga de notícias”. Para combater esse problema, o Instituto Reuteres sugere:
- Formatos inovadores: Experimentar com novos formatos, como vídeos curtos, animações e infográficos, que podem tornar o conteúdo mais atraente e acessível.
- Histórias humanizadas: Dar mais destaque às histórias de pessoas comuns impactadas pelos eventos, criando uma conexão emocional com o público.
- Jornalismo positivo: Equilibrar a cobertura negativa com histórias inspiradoras e construtivas, que ofereçam esperança e soluções para os problemas do mundo.
Gerenciando Talentos: A competição por talentos qualificados, como jornalistas, cientistas de dados e desenvolvedores, é um desafio para o setor. O relatório sugere:
- Novas estratégias de recrutamento: Buscar talentos em áreas não tradicionais, como tecnologia e design, e oferecer programas de treinamento para desenvolver habilidades específicas para o jornalismo.
- Melhores condições de trabalho: Oferecer salários competitivos, benefícios atrativos e oportunidades de crescimento profissional, para reter os melhores talentos.
O Futuro do Jornalismo: Incerto, mas Repleto de Possibilidades
O relatório “Journalism and Technology Trends and Predictions 2025” do Instituto Reuters pinta um quadro desafiador, mas também inspirador para o futuro do jornalismo. A crise de confiança, a disrupção tecnológica e a mudança nos hábitos de consumo de informação exigem que o setor se reinvente.
A IA generativa pode ser uma ferramenta poderosa para a inovação, mas seu uso responsável é fundamental, diz o estudo.
A colaboração com plataformas, a busca por novos modelos de negócio, a aposta em novos formatos e a valorização dos talentos são essenciais para garantir a relevância e a sustentabilidade do jornalismo.
O documento completo pode ser visto aqui.
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