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Fim da checagem da Meta: linha do tempo mostra como o jornalismo foi minado na plataforma de Zuckerberg em 10 anos

Mark Zuckerberg Meta

Mark Ziuckerberg (foto: Instagram)

O fim da checagem de fatos na Meta, empresa dona do Facebook, WhatsApp, Instagram e Threads, marca mais um capítulo na batalha contra o jornalismo iniciada há pelo menos 10 anos pela plataforma de Mark Zuckerberg.

O anúncio feito pelo bilionário em 7 de janeiro foi recebido como alarmante por entidades de imprensa em todo o mundo, que temem o declínio da qualidade da informação em todas as redes sociais da Meta.

Para a Federação Internacional de Jornalistas, as mudanças podem “corroer ainda mais a confiança pública nas mídias sociais e de notícias como fontes de verdade”, além de abrirem “caminho para desinformação generalizada e discursos de ódio”.

Zuckerberg encerra checagem na Meta em aceno a Trump

Em vídeo publicado no Facebook, Zuckerberg informou a todos de dentro da rede e fora dela que uma nova era começava para a Meta.

O programa de checagem de fatos da empresa e as diversas parcerias com veículos fact-checking de todo o mundo foram encerrados. No estilo X de Elon Musk, a plataforma agora terá “notas da comunidade” escritas pelos próprios usuários para identificar mentiras e distorções.

Além disso, a política sobre tópicos como imigração, gênero e sexualidade foram alteradas e as restrições sobre esses temas, afrouxadas. Conteúdos sobre política voltarão a ter destaque nos feeds, o que tinha sido minimizado nos últimos anos.

As mudanças da Meta vieram na esteira da eleição de Donald Trump, que inicia em 20 de janeiro um novo mandato de quatro anos nos Estados Unidos.

Para a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), o alinhamento do discurso de Zuckerberg com o presidente republicano é apenas o ápice de uma longa guerra contra o jornalismo no Facebook.

Em uma linha do tempo, a RSF reconstruiu os principais momentos desse embate que ameaça o “direito fundamental do acesso online a informações confiáveis”, como definiu a entidade.

2015: “Amigos” ganham mais espaço no feed

Há dez anos, o Facebook faz sua primeira alteração no algoritmo para promover mais o conteúdo produzido por “amigos” dos usuários e menos os das páginas oficiais de empresas, marcas e, claro, da imprensa.

2016: Checagem vem após fake news impulsionarem Trump

Às vésperas da eleição, novas mudanças destacam ainda mais o conteúdo de “amigos e familiares” dos usuários. Segundo a RSF, a desinformação explodiu no Facebook com as alterações.

Pesquisa do BuzzFeed News de novembro daquele ano mostra que as fake news relacionadas às eleições dos EUA superaram as informações produzidas por veículos jornalísticos na rede social.

A crítica da opinião pública fez o Facebook anunciar o programa de checagem de fatos em dezembro de 2016.

2018: Páginas perdem ainda mais espaço

Conteúdos produzidos por empresas, marcas e veículos de mídia perdem ainda mais visibilidade e alcance em mudança anunciada pelo próprio Zuckerberg Segundo ele, usuários estavam se queixando que viam mais conteúdo de páginas do que de perfis de amigos e familiares.

2021: Facebook ‘escapa’ à lei de mídia na Austrália

A Austrália é pioneira na aprovação de uma lei que redistribui receitas de publicidade de plataformas para veículos de comunicação.

Pouco antes, porém, o Facebook tentou barrar a medida banindo perfis e páginas de empresas de mídia. Em menos de uma semana, o governo australiano cedeu à chantagem e a rede social suspendeu as restrições.

Com a lei em vigor, o Facebook ficou isento de pagamento a veículos jornalísticos.

2021: Conteúdo político é ‘escondido’

Em fevereiro de 2021, o Facebook deu ainda menos impulsionamento para conteúdos político, social e eleitoral.

Com isso, a visibilidade de conteúdo jornalístico cai drasticamente na rede: estudo publicado em 2024 pelas empresas Chartbeat e Similarweb mostra que houve uma queda de mais de 50% no tráfego para sites de imprensa desde 2018.

2023: Meta age em várias frentes contra o jornalismo

Canadá

Seguindo o exemplo da Austrália, o Canadá também aprovou uma lei para que as plataformas de mídia social paguem veículos jornalísticos pelo uso de seus conteúdos.

Em resposta, a Meta bloqueou páginas de veículos de imprensa canadenses do Facebook e do Instagram. Até a publicação deste texto, pessoas que acessam as redes sociais do Canadá não conseguem visualizar ou compartilhar notícias nas plataformas.

Califórnia

Em outro front, a Meta ameaça o estado da Califórnia com a mesma punição imposta aos canadenses: se uma lei de redistribuição de receita para veículos jornalísticos for aprovada, páginas de mídia serão bloqueadas na região.

Fim do Facebook News

Com a crescente onda de regulação na Europa, a Meta anunciou o fim da aba Facebook News no Reunido Unido, França e Alemanha em dezembro de 2023.

Em abril de 2024, o serviço foi encerrado também nos EUA e Austrália.

2024: Fim do CrowdTangle

O CrowdTangle era uma ferramenta de monitoramento do próprio Faceboo que permitia acessar informações sobre a visibilidade e performance dos conteúdos de páginas, incluindo de veículos de imprensa, na plataforma.

Em 2024, a ferramenta foi substituída pela Content Library. A RSF aponta que o fim do CrowdTangle privou pesquisas e jornalistas de “um meio crucial de avaliar a desinformação” no Facebook.

2025: A era Trump-Musk

Em discurso alinhado com Trump e numa ação que imita a adotada por Elon Musk no X, Zuckerberg anuncia o fim da checagem de fatos na Meta e a chegada das “notas de comunidade” escritas pelos próprios usuários.

“Em outras palavras, Zuckerberg está ‘Muskificando’ suas plataformas de mídia social e reforçando o caos de informações”, afirma a RSF.

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