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Jornalistas do Sul Global adotam a IA, mas temem seus riscos, revela pesquisa da Thomson Reuters Foundation

Robô inteligência artificial com mãos no teclado de notebook

Imagem gerada por IA /

Londres – Um novo relatório publicado pela Thomson Reuters Foundation (TRF) confirmou que a inteligência artificial (IA) está transformando o jornalismo em países em desenvolvimento e em economias emergentes, com mais de 80% dos jornalistas utilizando ferramentas de IA em seu trabalho.

Apesar dessa alta taxa de adoção, no entanto, mais da metade dos jornalistas expressam preocupações éticas sobre o impacto da IA no setor jornalístico.

As principais preocupações são com a possibilidade de erosão da criatividade e da reportagem original, com a diminuição das habilidades de pensamento crítico, e com o risco de aumento da desinformação.

A pesquisa, que entrevistou mais de 200 jornalistas em mais de 70 países, incluindo o Brasil, revela que, apesar do uso generalizado de IA, há uma preocupante ausência de políticas claras nas redações.

Apenas 13% dos participantes relataram ter uma política oficial de IA em seus locais de trabalho, enquanto a maioria (79,1%) opera sem diretrizes específicas.

Essa falta de orientação deixa os jornalistas navegando na adoção da IA por conta própria, muitas vezes sem o devido treinamento ou apoio de suas empresas.

A maioria (57,6%) dos que usam IA são autodidatas.

Como a inteligência artificial está sendo mais usada no jornalismo

Entre os usuários de IA, as principais funções para as quais a tecnologia está sendo utilizada incluem a melhoria de conteúdo, tradução, pesquisa e inspiração, análise de dados e verificação de fatos.

Ferramentas como o ChatGPT são amplamente utilizadas, agilizando tarefas e processos. No entanto, as preocupações éticas permanecem, com os jornalistas receosos sobre a possibilidade de plágio e desinformação, bem como a perda do toque humano no jornalismo.

As preocupações sobre os vieses da IA são igualmente significativas. Muitos modelos de IA são treinados com dados em inglês de fontes ocidentais, o que pode levar a sistemas com vieses, além de exacerbar as divisões digitais existentes, salienta o estudo. 

Para os jornalistas do chamado Sul Global, que engloba países em desenvolvimento, essa questão é particularmente relevante, pois a precisão das ferramentas de IA em idiomas locais pode ser limitada.

Impacto da IA sobre empregos e funções

Além das preocupações éticas e de viés, a pesquisa da Thomson Reuters constatou que muitos jornalistas também estão apreensivos sobre o impacto da IA no emprego e nas habilidades. 

Há o temor de que ela possa substituir jornalistas humanos, levando à perda de empregos e à deterioração de habilidades jornalísticas fundamentais.

Ao mesmo tempo, alguns reconhecem o potencial da IA para melhorar a eficiência e a qualidade da produção jornalística, desde que usada de forma ética e responsável.

A pesquisa aponta uma divisão entre os jornalistas sobre o futuro da IA no jornalismo, com muitos vendo-a como uma ferramenta que pode melhorar o trabalho, enquanto outros estão preocupados com seus riscos.

Em resposta, os jornalistas expressaram o desejo de regulamentação, diretrizes éticas e treinamentos em IA específicos para o jornalismo.

Recomendações para a IA no jornalismo

O relatório conclui com recomendações para diferentes grupos de interessados, incluindo jornalistas, redações, formuladores de políticas, financiadores e desenvolvedores de plataformas.

Jornalistas são incentivados a investir em seu próprio domínio da IA, experimentar ferramentas e entender as implicações éticas.

Redações são aconselhadas a estabelecer políticas claras e oferecer treinamento, enquanto formuladores de políticas devem criar estruturas regulatórias que protejam o jornalismo, equilibrando inovação e responsabilidade.

No geral, o relatório da TRF destaca a complexidade da relação entre IA e jornalismo, apontando que, se usada com cuidado e estratégia, a IA pode se tornar um catalisador para fortalecer e melhorar o jornalismo, em vez de ser uma fonte de danos e disrupção. 

O estudo completo pode ser visto aqui

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