O WhatsApp divulgou nesta sexta-feira (31) que usuários do aplicativo de mensagens foram alvos de um spyware desenvolvido pela empresa israelense Paragon Solutions, incluindo jornalistas e membros da sociedade civil.
Um jornalista investigativo italiano, Francesco Cancellato, editor-chefe do site de notícias Fanpage, foi o primeiro a se manifestar publicamente, confirmando ter recebido uma notificação do WhatsApp informando que seu dispositivo móvel foi comprometido.
Cancellato foi um dos mais de 100 usuários que foram alvos do spyware. O WhatsApp, de propriedade da Meta, não divulgou as localizações exatas dos alvos, mas informou que eles estavam espalhados por mais de vinte países, incluindo nações da Europa, e que estavam sendo notificados individualmente.
Spyware israelense usado no WhatsApp dispensa clique em links
O spyware da Paragon, conhecido como Graphite, é classificado como “zero-click”, o que significa que ele se instala no dispositivo alvo sem a necessidade de que o usuário clique em links ou anexos maliciosos.
Acredita-se que o spyware seja entregue por meio de chats em grupo, nos quais os alvos são adicionados sem permissão, sendo infectados por arquivos PDF.
Uma vez instalado, o software permite acesso remoto ao dispositivo, possibilitando a coleta de dados como mensagens, e-mails, fotos e histórico de navegação, sem o conhecimento do usuário.
A Paragon, empresa fundada pelo ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak, vende o Graphite para agências governamentais, que o utilizam sob a justificativa de combater o crime e prevenir ataques.
O Citizen Lab, um grupo de pesquisa de internet, está investigando o caso para detalhar melhor os ataques.
O jornalista espionado pelo Paragon
Francesco Cancellato publicou reportagens investigativas expondo cânticos fascistas e antissemitas de membros da ala jovem do partido de extrema-direita da primeira-ministra Giorgia Meloni.
Essas reportagens tiveram grande repercussão na Itália e na Europa, levando a críticas ao partido de Meloni.
A descoberta de que Cancellato foi alvo de spyware levanta preocupações sobre a possibilidade de que sua exposição de figuras políticas tenha levado ao direcionamento de vigilância.
Ele disse estar realizando uma análise técnica de seu dispositivo para avaliar a extensão do ataque e tentar identificar quem ordenou a espionagem.
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Riscos para jornalistas alvo de ferramentas spyware
A revelação do uso do spyware da Paragon levanta preocupações sobre a proliferação de tecnologias de vigilância e sua utilização para espionar jornalistas e ativistas.
A empresa se descreve como provedora de ferramentas baseadas em ética para combater ameaças, mas as alegações do WhatsApp sugerem o contrário.
Outras empresas israelenses, como a NSO Group (criadora do Pegasus), também têm sido acusadas de vender softwares de espionagem para governos, que os utilizam para monitorar pessoas.
O WhatsApp interrompeu o vetor utilizado para comprometer os usuários e informou as autoridades sobre o ocorrido.
A investigação do Citizen Lab e as ações legais subsequentes poderão esclarecer melhor a extensão dos ataques e a responsabilização dos envolvidos.
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