O cenário no leste da República Democrática do Congo (RDC) tornou-se ainda mais perigoso para os jornalistas, que agora enfrentam um ambiente de crescente censura e ameaças de morte devido à escalada do conflito na região registrada nos últimos dias.
O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) relata que o aumento da violência, impulsionado pelos avanços do grupo rebelde M23, está provocando um aumento significativo de atos de intimidação e restrição à liberdade de imprensa.
As autoridades governamentais, em paralelo, têm adotado medidas para controlar a narrativa dos acontecimentos, acusando jornalistas de apoiar o terrorismo ao reportar sobre o avanço dos rebeldes, diz o CPJ.
Escalada do conflito no Congo agravou ameaças ao jornalismo
O conflito agrava uma situação que já era crítica: a República Democrática do Congo ocupa o 124º lugar no Global Press Freedom Index da organização Repórteres Sem Fronteiras, que lista 180 nações.
A censura imposta pelo governo da RDC é severa e inclui a suspensão de importantes meios de comunicação. A emissora Al Jazeera foi suspensa por 90 dias após transmitir uma entrevista com um líder do M23, sob a alegação de que a entrevista “desestabilizou as instituições da república”.
Além disso, de acordo com a organização de defesa da liberdade de imprensa, o governo cancelou o credenciamento dos repórteres da Al Jazeera e ameaçou outros meios de comunicação.
O Conselho Superior para a Comunicação Audiovisual (CSAC) também ameaçou suspender emissoras francesas como Radio France Internationale (RFI), France 24 e o programa africano da TV5Monde por noticiarem os avanços dos rebeldes.
De acordo com o Comitê, essas ações refletem uma estratégia de controle de informação semelhante à usada por outros governos em áreas de conflito, buscando reprimir reportagens de interesse público.
Jornalistas da RDC ameaçados de morte
Ameaças de morte têm forçado jornalistas a viver em constante medo e até mesmo a se esconder. O CPJ detalha que pelo menos três jornalistas receberam mensagens ameaçadoras após reportarem os avanços do M23.
Jonas Kasula, do Labeur Info, e Jonathan Mupenda, da Molière TV, foram forçados a se esconder após receberem mensagens de texto ameaçando suas vidas e mencionando sua presença em Bweremana.
As mensagens indicavam que seus movimentos estavam sendo monitorados. Em uma das mensagens, foi dito:
“No dia 31 [de dezembro] você estava em Bweremana com seu colega Jonathan, tínhamos todas as possibilidades de acabar com suas vidas. Mas saiba que controlamos todos os seus movimentos e assim que chegarmos a Goma, saiba que o seu destino será selado.”.
Daniel Michombero, jornalista freelancer, também recebeu ameaças através de redes sociais, sendo acusado de divulgar “notícias falsas” e sugerindo que ele fugisse para Ruanda.
Em 2021, Michombero e sua esposa já haviam sido atacados em sua casa por homens uniformizados após ele ter reportado críticas locais à resposta das autoridades a uma erupção vulcânica.
No Congo, uso de táticas comuns em conflitos
As táticas de censura empregadas pelo governo da RDC assemelham-se às usadas por outros governos para controlar a narrativa em conflitos, desde a Rússia até a região do Sahel, na África.
O CPJ aponta que durante a guerra Israel-Gaza, a Al Jazeera foi banida por autoridades israelenses, e governos militares em Mali e Burkina Faso suspenderam meios de comunicação por reportagens sobre abusos por suas forças armadas.
Em Niger, o governo militar suspendeu a BBC por alegar que a emissora estava minando o moral das tropas.
A chefe do CPJ para a África, Angela Quintal, enfatiza que a escalada do conflito no leste da RDC piorou drasticamente as condições para os jornalistas que tentam cobrir os eventos.
Ela ressalta a importância de que todas as partes envolvidas no conflito priorizem a segurança dos jornalistas, garantindo seu direito de reportar livremente.
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