Londres – Em um caso que ilustra os perigos enfrentados por profissionais de imprensa que cobrem questões ambientais, o jornalista britânico Gerald Flynn, do premiado veículo de notícias sobre meio ambiente Mongabay, foi impedido de retornar ao Camboja pelas autoridades de imigração após uma viagem à Tailândia.
Flynn mora e trabalha no Camboja desde 2019 e atuou como presidente do Overseas Press Club do Camboja entre 2023 e 2024.
O jornalista foi forçado a embarcar em um voo de volta para Bangkok no dia 3 de janeiro, apesar de viver legalmente no país há cinco anos e de ter pedido a renovação de seu visto de jornalista no prazo determinado pelo governo.
As autoridades cambojanas alegaram que seu visto de permanência era falso e o baniram “permanentemente” de retornar ao país.
Veto à entrada de jornalista de meio ambiente após documentário
Essa ação ocorreu após Flynn ser destaque em um documentário da rede de TV France24, em novembro de 2024, em que questionou a eficácia do projeto de compensação de carbono do Camboja, o Southern Cardamom REDD+.
Tanto o Ministério do Meio Ambiente do Camboja quanto a Wildlife Alliance, responsável pelo projeto, criticaram o documentário, classificando-o como “fake news” e alegaram o uso de imagens antigas, sem detalhar erros específicos.
O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) condenou veementemente a proibição da reentrada de Flynn.
Shawn Crispin, representante do CPJ para o Sudeste Asiático, afirmou que essa atitude demonstra a disposição das autoridades cambojanas em abafar reportagens independentes sobre questões ambientais do país.
Crispin também ressaltou que o Camboja precisa de mais jornalistas fiscalizadores como Flynn, e não menos, para salvar suas florestas, alertando que “predadores da imprensa” estão silenciando repórteres ambientais “tão rápido quanto as florestas estão sendo destruídas”.
A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também se manifestou, condenando a decisão do governo cambojano de incluir o jornalista em uma lista negra após ele ter exposto um caso de desmatamento.
A organização criticou a atitude do governo, enfatizando os riscos enfrentados por jornalistas que investigam crimes ambientais no Camboja.
Desde 2012, a RSF documentou onze violações dos direitos de jornalistas especializados em questões ambientais, classificando o país entre os mais perigosos para esses profissionais de mídia.
Em dezembro, Chhoeung Chheng, jornalista ambiental do Kampuchea Aphivath, foi assassinado enquanto fazia uma reportagem sobre o transporte ilegal de madeira em um santuário na província de Siem Reap.
O caso de Gerald Flynn levanta sérias preocupações sobre a liberdade de imprensa no Camboja, que ocupa a 151ª posição entre 180 países no Global Press Freedom Index da Repórteres Sem Fronteiras.
Organizações de defesa da liberdade de imprensa exigem que o governo cambojano respeite os direitos dos jornalistas de realizar seu trabalho sem medo de represálias.
Leia também | Visibilidade das mudanças climáticas na imprensa vem diminuindo no mundo desde 2021, mas cresce na América Latina