Londres – Um novo relatório publicado pelo Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) nesta quarta-feira confirmou o ano de 2024 como recordista em jornalistas mortos durante o trabalho ou vítimas de crimes relacionados à prática profissional: pelo menos 124 fatalidades foram registradas em 18 países, um aumento de 22% em relação a 2023.
Foi o ano mais mortal para repórteres e profissionais da mídia desde que o CPJ começou a manter registros, há mais de três décadas. A organização atribui o recorde ao aumento de conflitos interacionais, de turbulências políticas e de criminalidade em todo o mundo.
Segundo a organização de defesa da liberdade de imprensa, o aumento global em assassinatos foi em grande parte impulsionado pela guerra Israel-Gaza, responsável por 85 mortes de jornalistas (82 deles palestinos). Todas foram resultantes de ataques do exército israelense.
O vídeo do CPJ mostra manifestações e ressalta o alto número de mortes de freelancers em 2024, sobretudo em Gaza.
Sudão e Paquistão tiveram o segundo maior número de jornalistas e profissionais de mídia mortos em 2024, com seis cada.
No Sudão, uma guerra civil devastadora deixou milhares de mortos e milhões de deslocados. Embora o Paquistão não tenha registrado nenhuma morte de jornalista desde 2021, a agitação política no país estimulou um aumento nos assassinatos.
“Hoje é o momento mais perigoso para ser jornalista na história do CPJ”, disse a CEO do CPJ, Jodie Ginsberg.
“A guerra em Gaza não tem precedentes em seu impacto sobre jornalistas e demonstra uma grande deterioração nas normas globais sobre proteção de jornalistas em zonas de conflito, mas está longe de ser o único lugar onde jornalistas estão em perigo. Nossos números mostram jornalistas sob ataque em todo o mundo.
O aumento nos assassinatos de jornalistas é parte de uma tendência mais ampla de amordaçar a mídia globalmente. Esta é uma questão que deveria preocupar a todos nós — porque a censura nos impede de abordar a corrupção e a criminalidade, e de responsabilizar os poderosos.”
Jornalistas mortos deliberadamente por seu trabalho
Pelo menos 24 jornalistas em todo o mundo foram mortos deliberadamente por causa de seu trabalho em 2024, constatou o CPJ.
Em Gaza e no Líbano, a organização de liberdade de imprensa documentou 10 casos em que jornalistas foram assassinados pelos militares israelenses, “desafiando as leis internacionais que definem jornalistas como civis durante o conflito”.
Os 14 assassinatos de jornalistas restantes em 2024 ocorreram no Haiti, México, Paquistão, Mianmar, Moçambique, Índia, Iraque e Sudão.
Freelancers, que relatam as notícias com menos recursos e com risco considerável para sua própria segurança, representam mais de 35% (43) de todos os assassinatos.
Em 2024, 31 casos foram de palestinos relatando de Gaza, onde a mídia internacional continua impedida de reportar do território palestino Oocupado, exceto por viagens raras e escoltadas organizadas pelos militares israelenses.
O CPJ e outras organizações de liberdade de imprensa têm pressionado Israel e o Egito a liberarem o acesso de jornalistas internacionais como parte do cessar-fogo em andamento.
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México segue com o país mais perigoso para jornalistas nas Américas
Na América Latina e no Caribe, o México registrou cinco assassinatos em 2024, mantendo sua posição como um dos países mais perigosos do mundo para jornalistas.
O CPJ encontrou falhas persistentes nos mecanismos do México que supostamente protegem jornalistas.
Vários profissionais sob proteção têm sofrido ataques, com registro de mortes mesmo sob escolta policial.
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A ilegalidade do Haiti o diferencia dos demais países, de acordo com o CPJ, pois as gangues agora reivindicam abertamente a responsabilidade pelos assassinatos de jornalistas, onde dois assassinatos ocorreram em meio à violência desenfreada em 2024.
O Oriente Médio e o Norte da África continuaram sendo a região com o maior número de jornalistas e profissionais da mídia mortos em 2024, respondendo por mais de 78% (97) do total global.
Em meio às transições após a queda de Bashar al-Assad em 8 de dezembro, a Síria registrou a morte de quatro jornalistas, marcando o retorno dos ataques mortais no país. A Síria tem um dos piores registros de impunidade de crimes contra jornalistas.
Como parte de seu relatório, o CPJ fez uma série de recomendações para melhorar a segurança dos jornalistas e responsabilizar as pessoas pelas mortes deles, incluindo a criação de uma força-tarefa investigativa internacional focada para acabar com a impunidade.
Em 2025, os assassinatos de jornalistas continuaram em ritmo acelerado, com pelo menos seis jornalistas e profissionais da mídia mortos nas primeiras semanas do ano.
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