O governo de Donald Trump abriu nova crise com a grande imprensa ao vetar acesso de jornalistas da Associated Press (AP) a eventos oficiais porque a agência de notícias decidiu não se referir ao Golfo do México como Golfo da América.
A Casa Branca informou à AP que seu jornalista credenciado seria impedido de comparecer à assinatura de um novo decreto pelo presidente Trump na terça-feira (11) devido à discordância sobre a nomenclatura. No mesmo dia, um segundo repórter da AP foi proibido de entrar em um evento na Sala Diplomática da Casa Branca.
Em nota e em carta dirigida ao governo dos EUA, a editora executiva da AP, Julie Pace, descreveu a medida como “alarmante”, argumentando que punir a agência por seu jornalismo e limitar o acesso do público a notícias independentes viola a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que garante o direito de liberdade de expressão. Pace afirmou que a Casa Branca “está restringindo o acesso da imprensa ao Salão Oval com base no conteúdo da AP”.
Trump e o Golfo do México ou da América?
O decreto de Trump renomeando o Golfo foi assinado no dia 9 de fevereiro durante um sobrevoo do avião presidencial, em um esforço para reconhecer “este recurso econômico e sua importância crítica para a economia da Nação e seu povo”, de acordo com a presidência dos EUA.
O manual de redação da AP, que é usado por muitos outros veículos de notícias, foi então atualizado para orientar os redatores, determinando que referências ao corpo de água a leste do México deveriam manter seu título histórico de Golfo do México.
A AP reconheceu o novo nome escolhido por Trump, mas explicou que decidiu manter o uso do nome original devido ao alcance internacional de seu conteúdo, reproduzido por veículos de notícias de todo o mundo.
Apesar da ordem de Trump, outros países e organizações internacionais não precisam reconhecer a mudança de nome. O Serviço Geológico dos EUA adotou oficialmente o “Golfo da América”.
A Apple e o Google Maps também passaram a chamá-lo por esse nome nos EUA, mas mantiveram a nomenclatura histórica para quem acessa suas plataformas a partir de outros países.
Reações ao veto à AP: ‘mesquinharia’
A organização de defesa da liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras (RSF) está entre as que condenaram o ato do governo Trump contra a AP, apontado como “flagrante violação da Primeira Emenda”.
A RSF exigiu que a agência de notícias não seja impedida de cobrir as atividades na sede do governo dos EUA.
“O nível de mesquinharia demonstrado pela Casa Branca é tão incrível que quase esconde a gravidade da situação. Um presidente em exercício está punindo um grande veículo de notícias por sua escolha de palavras protegida constitucionalmente. Donald Trump vem pisoteando a liberdade de imprensa desde seu primeiro dia no cargo”, disse Clayton Weimers, diretor da RSF para os EUA.
Eugene Daniels, jornalista do site de notícias Politico e presidente da White House Correspondents’ Association, disse que “a ação da administração federal de proibir um repórter da Associated Press de acompanhar um evento oficial aberto à imprensa é inaceitável”.
O incidente entre a Casa Branca e a AP é consistente com outros esforços recentes para limitar o acesso da imprensa a eventos oficiais e instalações.
O Pentágono, sob o comando da Secretaria de Defesa, desalojou oito organizações de notícias de seus postos de trabalho, substituindo-os por sites conservadores e de direita.
Ao mesmo tempo, a Casa Branca convocou blogueiros e influenciadores a se credenciarem para os briefings oficiais, o que foi visto como uma tentativa de privilegiar canais favoráveis ao presidente.
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