Londres – Um novo relatório do Reuters Institute for the Study of Journalism revelou uma preocupante “inércia na percepção climática”, definida como “uma estagnação nas visões públicas, atitudes e envolvimento com questões e informações climáticas ao longo do tempo, apesar da crescente urgência da crise”.
O estudo analisou o consumo de notícias e atitudes em relação às mudanças climáticas no Brasil, França, Alemanha, Índia, Japão, Paquistão, Reino Unido e EUA, por meio de entrevistas conduzidas pelo Instituto Ipsos em novembro de 2024.
Globalmente, segundo o estudo, apenas a metade dos entrevistados acompanha notícias sobre o clima semanalmente, resultado semelhante ao de 2022, quando eventos climáticos extremos ainda não estavam sendo registrados – ou noticiados – com a frequência atual e a crise não parecia tão grave.
Brasil e mudanças climáticas
O Brasil se destaca na pesquisa em diversos aspectos.
- Alta preocupação: Juntamente com os entrevistados da França, Paquistão e Índia, os brasileiros ouvidos pelo Ipsos demonstraram consistentemente altos níveis de preocupação com o impacto das mudanças climáticas no planeta e nas pessoas. Em 2024, 88% dos brasileiros expressaram essa preocupação.
- Experiência com eventos climáticos extremos: Uma parcela significativa dos brasileiros relata ter vivenciado ondas de calor (76%), secas (55%) e inundações severas (56%). Esses números são superiores à média dos outros países pesquisados.
- Impacto na saúde: Quase 69% dos brasileiros acreditam que as mudanças climáticas estão tendo um grande impacto na saúde de si mesmos, de suas famílias e de seus concidadãos.
Fontes de notícias sobre o clima
A mídia continua sendo a principal maneira pela qual as pessoas acessam informações sobre mudanças climáticas – à frente de documentários, mídias sociais e comunicação interpessoal.
O estudo aponta que as notícias sobre clima e informações são mais consumidas através da televisão (31%) e sites ou aplicativos de notícias online (24%). O formato de vídeo é o preferido pelo público.
No entanto, o nível de confiança na imprensa é outro motivo de preocupação. Apenas 50% dos entrevistados disseram confiar nas informações da mídia sobre as mudanças climáticas – um número que também mudou pouco em relação a 2022 (52%).
Os cientistas são de longe a fonte mais confiável de informações sobre mudanças climáticas (74%), bem como a fonte mais visível na cobertura de notícias, de acordo com a pesquisa.
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Desinformação sobre a crise do clima segue em alta
Em relação à desinformação, 25% dos entrevistados relataram ter visto informações falsas ou enganosas sobre o clima semanalmente, um número parecido com o de 2022 (27%).
As pessoas associaram a desinformação climática a uma variedade de fontes diferentes, com políticos e partidos políticos (12%), governo (11%), celebridades (10%) e ativistas (10%) no topo da lista.
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COP e o grande público: distância e desconhecimento
Outra revelação importante do estudo do Instituto Reuters é o real impacto das reuniões da COP, a Conferência das Partes da ONU sobre mudança climática, na conscientização e informação do público a respeito da crise ambiental.
O estudo do Instituto Reuters não encontrou evidências de que a última edição do encontro, realizado em Baku em 2024, tenha ampliado o acesso a notícias e informações sobre as mudanças climáticas.
Uma parcela considerável do público entrevistado globalmente (14%) nunca ouviu falar da COP, enquanto 21% reconhecem que “ouviram falar, mas não sabem nada sobre isso”.
No entanto, a maioria (61%) afirma saber pelo menos um pouco sobre COP – embora apenas 9% digam que sabem ‘muito’.
O Brasil demonstra mais familiaridade com COP, que acontecerá este ano em Belém, em comparação com outros países, com uma proporção considerável de entrevistados relatando que “conhecem um pouco” (34%) ou “conhecem uma quantidade moderada” (30%) sobre o assunto.
Clima nas notícias: os pontos positivos
Embora o relatório destaque muitas causas de preocupação, como salientam os autores, há diversos pontos positivos sobre o papel da mídia.
O primeiro positivo abrangente é que a maioria das pessoas está preocupada com o agravamento da crise climática e – dado que a mídia de notícias é a fonte mais amplamente utilizada de informações climáticas – isso certamente deve ter sido moldado, pelo menos em parte, pela extensão e caráter da cobertura da mídia da mídia sobre o assunto, diz o estudo do Reuters.
O segundo é que as pessoas têm uma visão geralmente favorável de como o jornalismo tem coberto eventos climáticos extremos.
Isso se demonstrou especialmente verdadeiro nas entrevistas quando se trata de fornecer informações em tempo real – o que pode significar a diferença entre a vida e a morte em alguns casos extremos – mas também quando se trata de motivar as pessoas a tomar medidas preventivas.
O relatório completo pode ser visto aqui.