Londres – O Brasil ficou estacionado pelo terceiro ano consecutivo em 31º lugar no Global Soft Power Index 2025, ranking que classifica as nações por seu nível de influência internacional sem uso de poderio bélico ou militar. Os EUA seguem no topo da lista, e a China ficou em segundo lugar, desbancando o Reino Unido.

Elaborado pela consultoria britânica Brand Finance e apresentado nesta quinta-feira (20) em Londres, o índice é resultado de uma pesquisa com mais de 170 mil entrevistados de mais de 100 países para avaliar a percepção sobre todos os 193 estados-membros das Nações Unidas com base em 55 métricas, uma metodologia semelhante à aplicada para avaliar marcas.

Com pontuação de 48,8 sobre 100 pontos possíveis, a “marca Brasil” segue bem avaliada como potência esportiva e cultural – é o lar das pessoas mais divertidas do mundo, de acordo com o relatório – mas “desafios de governança” continuam a impedir que o país avance em influência global, embora mantendo a liderança em soft power na América Latina.

Argentina e México perderam soft power em 2025 

Argentina e México aparecem respectivamente em 42º e 43º, mas ambos recuaram no ranking em comparação a 2024.

A Argentina caiu quatro posições e o México duas posições. Esses declínios são em grande parte motivados por pontuações mais baixas em Governança, Educação e Ciência e Futuro Sustentável, embora as duas nações e também o Brasil  continuem a pontuar alto em Familiaridade, classificando-se em 12º, 19º e 6º, respectivamente.

Os  EUA mantiveram sua posição no topo do ranking com uma pontuação recorde, de 79,5 em 100.

Ranking soft power 2025

Mais uma vez, segundo a Brand Finance, o país lidera nos indicadores de familiaridade e influência, três dos oito pilares do Soft Power, e está em primeiro lugar em 12 dos 35 atributos de marca nacional.

Ao mesmo tempo, a reputação dos EUA foi atingida, caindo quatro posições para a 15ª posição globalmente. 

E a governança, um pilar fundamental que sustenta a reputação de uma nação, revelou um declínio notável de quatro posições para a 10ª, provavelmente devido a tensões políticas internas e à natureza polarizadora da campanha presidencial, que estava em andamento durante o período da votação e terminou com a vitória de Donald Trump. 

China avança sobre o Reino Unido em influência

Já a China se consolidou com segunda nação mais influente do mundo, ultrapassando pela primeira vez a Grã-Bretanha e ficando em 2º lugar com uma pontuação de 72,8 em 100 — sua posição mais alta de todos os tempos.

Desde 2024, a nação asiática registrou crescimento estatisticamente significativo em seis dos oito pilares do Soft Power e em dois terços dos atributos medidos, decorrentes de esforços estratégicos, incluindo projetos do Cinturão e Rota, um foco maior na sustentabilidade, marcas nacionais mais fortes e reabertura pós-pandemia para visitantes.

David Haigh, presidente da Brand Finance, destacou o empenho da China e criticou a performance britânica. 

“A China investiu pesadamente no aprimoramento de seu Soft Power, e agora estamos vendo o resultado, pois ela está classificada acima do Reino Unido pela primeira vez nos seis anos em que a Brand Finance lançou o Global Soft Power Index.

As classificações de 2025 refletem os esforços sustentados da China para aprimorar sua atratividade econômica, exibir sua cultura e impulsionar sua reputação como uma nação segura e bem governada. O Reino Unido precisa se manter atualizado e o estabelecimento do UK Soft Power Council é um passo na direção certa.”

Brasil: governança e segurança afetaram percepção de soft power em 2025

A reputação do Brasil como uma potência esportiva é inegável, de acordo com a Brand Finance, liderando o ranking global de “líderes no esporte”, em grande parte graças ao legado duradouro no futebol, jogadores de classe mundial e grandes torneios internacionais.

Além do esporte, o país continua sendo uma potência cultural, ocupando a 15ª posição no pilar Cultura e Patrimônio. Eventos icônicos como o Carnaval, o alcance global crescente dos gêneros musicais brasileiros e uma forte indústria do turismo aumentam seu apelo internacional, diz o estudo. 

O povo também é amplamente reconhecido internacionalmente, com o Brasil apontado como o lar das pessoas mais “divertidas” do mundo e ocupando a 9ª posição por ser percebido como “amigável”.

No entanto, a nação está em 76º lugar em Governança, com percepções particularmente baixas para ‘altos padrões éticos e baixa corrupção’ (133º globalmente) e ‘seguro e protegido’ (152º globalmente).

A instabilidade política persistente, juntamente com preocupações sobre crime e transparência, continuam sendo obstáculos para fortalecer a confiança e a credibilidade internacionais, constatou a Brand Finance. 

Eduardo Chaves, Diretor da Brand Finance no Brasil, avalia que a influência cultural e esportiva do Brasil é inegável, moldando percepções globais por meio do futebol, música e festivais que capturam a imaginação do mundo.

No entanto, percepções sobre governança e segurança representam obstáculos para uma posição melhor em soft power.

“A oportunidade está em reforçar a confiança e a estabilidade, ao mesmo tempo em que continuamos a aproveitar os pontos fortes culturais que tornam o Brasil tão influente no cenário mundial.”

O exemplo de El Salvador

El Salvador é destacado como exemplo: foi o país que mais cresceu em 2025, subindo 35 posições, para o 82º lugar, com um aumento de +3,2 pontos na sua pontuação de Soft Power.

De acordo com a Brand Finance, o resultado reflete uma redução significativa da violência e dos homicídios por gangues, melhorando a percepção de país  “seguro e protegido” e “politicamente estável e bem governado”.

El Salvador também avançou em Negócios e Comércio – sua decisão de 2021 de aceitar o Bitcoin como moeda legal, embora controversa, atraiu atenção significativa.

Como evoluiu o soft power dos países 

O Índice de 2025 revela uma divergência crescente no potencial de Soft Power entre as nações, com as mais fortes – como a China – avançando mais rápido, enquanto as mais fracas – como Kiribati – ficam ainda mais para trás. 

Os 10 primeiros da lista ganharam uma média de +0,9 pontos em suas pontuações de Soft Power, enquanto os 10 últimos tiveram um declínio acentuado de -3,0 pontos. O mesmo é verdade em segmentos mais amplos – dentro dos 100 primeiros, as pontuações aumentaram em +0,3 em média, enquanto os 93 países restantes caíram em -1,2.

Segundo os autores do estudo, isso reflete  uma lacuna crescente onde os ganhos das nações líderes geralmente ocorrem às custas de outras.  

O país menos influente do mundo é São Vicente e Grenadines, no Caribe, que marcou apenas 24,5 pontos em 100 possíveis.