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É guerra: Associated Press processa Casa Branca por retaliação em disputa sobre nome ‘Golfo da América’

Donald Trump na Casa Branca

Donald Trump em evento aberto à imprensa na Casa Branca (foto @POTUS)

A agência de notícias Associated Press decidiu encarar a briga com Donald Trump em torno da obrigatoriedade de usar o nome Golfo da América para se referir ao Golfo do México, entrando com um processo judicial sob a alegação de que restringir o acesso de seus repórteres como reação à recusa viola o direito à liberdade de expressão.

A ação foi protocolada na sexta-feira (21) no Tribunal Distrital dos EUA em Washington, contra a chefe de gabinete da Casa Branca, Susan Wiles, o vice-chefe de gabinete, Taylor Budowich, e a secretária de imprensa, Karoline Leavitt.

Dois dias antes, o presidente havia confirmado em uma coletiva de imprensa que a AP seguiria banida de coletivas e voos no Air Force One junto com outros jornalistas até voltar atrás em sua decisão de continuar usando o nome Golfo do México. 

Organizações de liberdade de imprensa, jornalistas e outros veículos de comunicação saíram em defesa da AP. Esta semana, cerca de 40 empresas jornalísticas assinaram uma carta organizada pela Associação de Correspondentes da Casa Branca, instando a Casa Branca a reverter sua política contra a AP.

Entre os signatários estavam até veículos como Fox News Channel e Newsmax, onde muitos dos comentaristas são apoiadores de Trump.

Em nota, a Newsmax diz entender a frustração do presidente pelo que avalia como “injustiças cometidas pela mídia”, mas defendeu o direito da AP, como organização privada, de usar a linguagem que deseja em suas reportagens.

A AP informou que seus jornalistas ainda têm permissão para entrar na área da Casa Branca, mas foram excluídos do “pool” de profissionais que cobrem eventos em espaços menores, como o Salão Oval, a residência de Mar-A-Lago e o avião presidencial. 

Golfo do México ou da América: por que somente a Associated Press?

Embora outros veículos de imprensa também tenham mantido a nomenclatura Golfo do México, em alguns casos adicionando à frase o novo nome válido apenas nos EUA, Susan Wiles confirmou em um email para a AP que a agência de notícias foi alvo porque a política foi formalizada em seu manual de redação, usado por muitos jornalistas, acadêmicos e estudantes em todo o mundo. 

A AP argumenta que o caso representa um “esforço inconstitucional da Casa Branca para controlar a narrativa”, neste caso, não mudando seu estilo de “Golfo do México” para “Golfo da América”, seguindo o decreto assinado pelo presidente após a posse. 

Quando informou que manteria a denominação Golfo do México, a AP salientou que seu conteúdo é distribuído em todo o mundo, enquanto o decreto de Trump vale apenas para os EUA. 

No processo, a AP vai além e defende que “a imprensa e todas as pessoas nos Estados Unidos têm o direito de escolher suas próprias palavras e não serem retaliadas pelo governo”.

E afirma que “o ataque direcionado à independência editorial da AP e à capacidade de coletar e relatar notícias atinge o cerne da Primeira Emenda”, pedindo ao Tribunal que remedie a situação imediatamente para garantir o acesso de seus jornalistas.

Trump e a imprensa: tensão nas primeiras semanas do novo governo 

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) está entre as entidades condenaram a decisão da Casa Branca de bloquear o acesso da Associated Press (AP) a eventos oficiais, apontada como a ação mais recente da briga histórica de Donald Trump com a grande imprensa.

A CEO do Comitê para a Proteção de Jornalistas, Jodie Ginsberg, afirmou que a medida segue um padrão de difamação e punição da imprensa por parte do governo Trump, considerada “inaceitável”.

“Retaliar a AP – uma das principais provedoras mundiais de notícias baseadas em fatos – por seu conteúdo enfraquece o compromisso declarado do presidente dos EUA com a liberdade de expressão […].”

A ONG, sedida em Washington, manifestou preocupação com a sequência de atos contra a imprensa adotados pelo governo Trump nas primeiras semanas de volta ao cargo, incluindo a suspensão da ajuda internacional a veículos de jornalismo e ações judiciais. 

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