O Dia Internacional da Mulher, 8 de março, é um momento de celebração das conquistas femininas e de reflexão sobre os desafios que ainda persistem, incluindo aqueles que afetam diretamente as mulheres jornalistas.

Além das batalhas comuns a todas as mulheres em busca de igualdade e aceitação em diversas áreas, as profissionais que se dedicam a documentar a verdade, frequentemente em cenários perigosos, são diretamente expostas a ameaças físicas, políticas e digitais.

De acordo com a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), 104 jornalistas foram assassinados em 2024, sendo 12 mulheres, o que representa 11,5% do total de mortes.

No fim do ano, 520 jornalistas estavam presos em todo o mundo, e cerca de 13% desse total eram mulheres. Isso representa 67 mulheres jornalistas encarceradas no ano passado.

Esses números refletem um aumento significativo em relação aos anos anteriores, destacando os riscos crescentes enfrentados por mulheres na profissão, especialmente em contextos de repressão política e conflitos.

Um caso recente é o da jornalista ucraniana Victoria Roshchyna, de 27 anos, que morreu em 2024 em uma prisão na Rússia mais de um ano depois de ter sido capturada em um território ocupado e ter sido mantida incomunicável desde então.  

Mulheres jornalistas pagam preço alto em regimes repressivos

No Afeganistão,  as mulheres foram praticamente banidas da profissão desde que o Talibã retomou o controle do país. Muitas enfrentam ameaças constantes, assédio e restrições severas, como a obrigatoriedade de cobrir o rosto em transmissões de TV.

Em várias províncias, não há mais mulheres jornalistas trabalhando devido à repressão e ao medo. 

No Irã, as mulheres jornalistas enfrentam uma repressão severa. Em 2024, 12 estavam presas, muitas delas por cobrirem protestos relacionados à morte de Mahsa Amini.

Entre os casos mais emblemáticos estão Nilufar Hamedi e Elahe Mohammadi, que foram presas por reportarem sobre os protestos e enfrentam acusações graves, como conspiração contra a segurança nacional.

A China lidera como o país com o maior número de jornalistas presos, com 125 detidos em 2024, incluindo mulheres como Zhang Zhan. 

A jornalista-cidadã que documentou a situação do coronavírus em Wuham continua presa cinco anos depois do início da pandemia. 

Ameaças físicas e digitais

No mundo contemporâneo, onde a informação é tanto um bem precioso quanto alvo de controle, mulheres jornalistas cobrindo temas sensíveis frequentemente se tornam alvos de regimes opressivos, grupos violentos e campanhas de desinformação.

A ameaça não se restringe às ruas; no ambiente digital, ataques misóginos e ameaças de violência física se somam a uma constante pressão emocional.

O assédio cibernético é particularmente significativo sobre jornalistas que cobrem os direitos das mulheres e a violência baseada em gênero, segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em um comunicado em referência ao Dia Internacional da Mulher. 

A entidade afirma que esses ataques on-line fazem com que muitos repórteres se autocensurem, temendo retaliação por seu trabalho, o que diminui a cobertura dessas questões e ameaça o direito do público a informações confiáveis sobre o assunto.

Jornalistas que cobrem questões de gênero são alvo

Quase 60% dos jornalistas de mais de 110 países pesquisados pela RSF para o relatório“Jornalismo na Era #MeToo” disseram conhecer pelo menos um jornalista que foi vítima de assédio cibernético devido ao seu trabalho sobre esses tópicos.

O estudo destacou alguns casos notórios de perseguição, incluindo na América Latina, onde jornalistas que cobrem os direitos reprodutivos são alvo de campanhas cibernéticas violentas.

Um deles é o de Jovanna Mariám Garcón, uma jornalista de Guatemala que trabalha no canal on-line feminista Ruda , que recebeu ameaças anônimas, incluindo ameaças de estupro, nas mídias sociais depois de cobrir o Dia Internacional do Aborto Seguro.

Noventa e três por cento dos entrevistados da pesquisa da RSF disseram não ter conhecimento de nenhum perpetrador sendo condenado por um ataque contra um jornalista que trabalha com direitos das mulheres, questões de gênero ou violência baseada em gênero.

Acões para combater assédio a mulheres jornalistas

Para combater a impunidade persistente, a RSF fez várias recomendações destinadas  autoridades judiciais, plataformas digitais, redações e governos nacionais em todo o mundo para ajudar a acabar com os ataques direcionados.

Entre elas está a ação enérgica das plataformas contra ameaças anônimas e campanhas de assédio coordenadas e repetidas por “fábricas de trolls”, implementando todas as medidas para remover conteúdo e suspender contas prescritas pela lei aplicável e dedicando recursos apropriados à moderação humana.