O lançamento em Washington (EUA) do documentário Becoming Katharine Graham, pouco antes do Dia Internacional da Mulher, colocou os holofotes sobre uma personalidade que marcou a história do jornalismo investigativo mundial em décadas à frente do lendário Washington Post

Fazendo jus à trajetória da personagem de nem sempre agradar aos poderosos, a pré-estréia do filme foi esnobada pela atual direção do jornal que ela comandou  até a venda para o empresário Jeff Bezos, dono da Amazon, que recentemente tem sido criticado por sua interferência na linha editorial da publicação em favor de teses defendidas por Donald Trump.

Becoming Katharine Graham, que foi exibido no Kennedy Center, narra a trajetória de uma mulher que, ao assumir o comando do The Washington Post em 1963, enfrentou desafios pessoais e profissionais para liderar um dos jornais mais respeitados do mundo.

O filme (não disponível ainda no Brasil) explora sua transição de uma figura tímida para uma das mais poderosas defensoras da liberdade de imprensa, especialmente durante momentos cruciais como a publicação dos Pentagon Papers e a cobertura do escândalo Watergate, que levou à queda do presidente Richard Nixon. 

Veja o trailer e conheça uma figura única na história do jornalismo e das conquistas femininas em setores dominados por homens. 

Katharine Graham não foi a primeira escolha do pai para liderar Washington Post

Katharine Meyer Graham, conhecida como “Kay”, nasceu em 1917 em Nova York, em uma família influente. Seu pai, Eugene Meyer, era um banqueiro e empresário que comprou o The Washington Post em 1933, quando o jornal estava à beira da falência.

Após a faculdade, trabalhou como repórter no San Francisco News e depois no jornal da família.  Em 1940, casou-se com Philip Graham. 

Refletindo as barreiras que as mulheres enfrentavam (e ainda enfrentam),  em 1946 o empresário passou o controle do jornal para a próxima geração, mas não para a filha que era jornalista.

O cargo de “publisher”foi entregue por Meyer a Philip Graham, que recebeu ainda dois terços da propriedade do jornal sob o argumento de que “nenhum homem deveria trabalhar para sua esposa”. 

Após a morte trágica de Philip em 1963, deixando-a sozinha com quatro filhos e um jornal para cuidar ou vender, Katharine assumiu o controle do Post, tornando-se uma das primeiras mulheres a liderar um grande veículo de comunicação nos Estados Unidos.

O jornal era considerado mediano na época, e ela e o transformou em uma potência do jornalismo investigativo.

Washington Post e o Watergate

Durante o escândalo de Watergate, sua decisão de apoiar os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, mesmo sob pressão política e ameaças legais, destacou sua coragem incomparável.

O filme mostra diálogos gravados em que o então presidente Nixon não esconde sua fúria contra Graham. 

Sob sua liderança, o The Washington Post passou por uma transformação significativa. Katharine foi fundamental na publicação dos Pentagon Papers em 1971, desafiando o governo dos EUA e defendendo a liberdade de imprensa.

Durante o escândalo de Watergate, ela apoiou os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, bem como o editor Ben Bradlee, mesmo sob intensa pressão política e ameaças legais. Essa decisão corajosa consolidou o papel do jornal como um defensor da verdade e da democracia.

O lema do Washington Post é “Democracy dies in darkness” (Democracia morre na escuridão). 

Graham quebrou barreiras como a primeira mulher CEO de uma empresa da Fortune 500 e recebeu o Pulitzer por seu livro de memórias, que oferece um relato íntimo de sua jornada e serviu como base para o documentário. 

Katharine Graham não apenas abriu portas para outras mulheres no jornalismo, mas também serviu como exemplo de liderança ética e visionária, um exemplo a ser lembrado no Dia Internacional da Mulher.

Em um momento em que a liberdade de imprensa enfrenta desafios globais, sua história lembra a importância de uma imprensa independente e comprometida com a verdade.