Londres – No mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, um nova pesquisa do Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo, da Universidade de Oxford, lança luz sobre a persistente disparidade de gênero na liderança editorial em veículos jornalísticos ao redor do mundo, com pouco avanço de mulheres  rumo ao topo das organizações de mídia. 

A pesquisa, que analisou 240 grandes veículos de notícias online e offline em 12 mercados diferentes em cinco continentes, incluindo o Brasil, revela que, embora as mulheres representem, em média, 40% dos jornalistas nesses mercados, apenas 27% dos cargos de chefia editorial são ocupados por elas. 

A situação no Brasil é particularmente preocupante. A presença feminina na liderança editorial caiu de 22% em 2020 para 21% em 2025, colocando o país na 9ª posição entre os 12 mercados analisados.

O Brasil também apresenta uma das maiores disparidades entre a proporção de mulheres jornalistas e aquelas que alcançam cargos de liderança: uma diferença de 28 pontos percentuais.

Essa sub-representação lança uma sombra sobre os progressos alcançados em outras áreas e levanta questões sobre as barreiras que impedem as mulheres de ascenderem a posições de poder e influência nas redações, apesar de ter havido uma pequena melhoria em relação a 2024, quando 24% dos chefes principais eram mulheres. 

Estudo avaliou disparidade de gênero no jornalismo de 12 países

O estudo, intitulado “Liderança Editorial: Análise de Gênero no Jornalismo Global  Globais, analisou a distribuição de gênero dos principais editores em uma amostra estratégica de 240 grandes veículos de notícias online e offline em 12 mercados diferentes em cinco continentes.

Os mercados incluídos foram Quênia e África do Sul na África; Hong Kong, Japão e Coreia do Sul na Ásia; Finlândia, Alemanha, Espanha e Reino Unido na Europa; México e EUA na América do Norte; e Brasil na América do Sul.

Para cada mercado, foram considerados os dez principais veículos de notícias offline (TV, impresso e rádio) e os dez principais veículos de notícias online em termos de uso semanal, conforme medido no Reuters Institute Digital News Report 2024.

A coleta de dados foi realizada no final de janeiro e início de fevereiro de 2025.

Os principais editores de cada veículo foram identificados por meio de páginas da web oficiais, comunicados de imprensa e cobertura de notícias, complementados por outras informações públicas, como contas de mídia social profissional.

Disparidades Globais: Reino Unido Lidera, Coreia do Sul Preocupa

A pesquisa revela disparidades de gênero significativas no jornalismo entre os países analisados. O Reino Unido se destaca como o país com a maior proporção de mulheres em cargos de chefia editorial (46%), seguido pelos Estados Unidos e África do Sul (38%).

O estudo mostra diferenças significativas entre os países. O Reino Unido lidera com 46% das chefias editoriais ocupadas por mulheres, seguido por EUA e África do Sul, ambos com 38%.

No outro extremo, a Coreia do Sul registra apenas 7% de mulheres na liderança editorial, sendo o pior resultado do levantamento.

O México, penúltimo da lista, tem 23% de mulheres em cargos de chefia, e  registra também uma das maiores disparidades entre a proporção de mulheres trabalhando como jornalistas e a proporção de mulheres em cargos de liderança editorial. 

O Japão apresentou a maior flutuação no número de mulheres em cargos de liderança editorial no último ano,  com aumento de 17 pontos percentuais, subindo de 8% em 2024 para 25%. 

Situação de gênero no jornalismo x desigualdades na sociedade

A análise indica que a sub-representação feminina na liderança jornalística não está diretamente ligada à desigualdade de gênero na sociedade.

O estudo não encontrou correlação entre o Índice de Desigualdade de Gênero da ONU e a proporção de mulheres em cargos editoriais de alto escalão.

Isso sugere que há barreiras específicas no setor, como normas de gênero arraigadas e ambientes de trabalho predominantemente masculinos. 

O estudo do Reuters Institute reforça que desigualdades estruturais no jornalismo dificilmente desaparecerão sem esforços ativos. E salienta que empresas jornalísticas que não são incentivadas a enfrentar essa questão têm menos propensão a dedicar recursos para mudá-la.

A pesquisa destaca a importância de iniciativas para impulsionar a equidade de gênero e garantir que mais mulheres alcancem posições de liderança nas redações.

O estudo completo pode ser visto aqui.