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Cinco anos de ‘infodemia’: como a desinformação sobre vacinas continua a afetar a saúde pública

Mulher tomando vacina contra a Covid-19

Foto: CDC / Unsplash

Londres – Cinco anos após a OMS (Organização Mundial de Saúde)  ter decretado a Covid-19 uma pandemia,  no dia 11 de março de 2020, a desinformação online continua a ser um desafio global, com efeitos duradouros sobre a saúde pública e a confiança nas vacinas.

Durante a pandemia, as redes sociais se tornaram um terreno fértil para a disseminação de informações falsas, desde teorias conspiratórias sobre a origem do vírus até alegações infundadas sobre os efeitos das vacinas. 

Esse fenômeno, muitas vezes chamado de “infodemia”, não apenas dificultou os esforços de combate à pandemia, mas também deixou um legado preocupante.

Relatórios publicados pela UNESCO em 2020 identificaram a disseminação de desinformação como uma “infodemia massiva”, destacando que informações falsas sobre tratamentos, vacinas e a origem do vírus tiveram impactos potencialmente fatais.

O impacto dessa “infodemia” pode ser sentido até hoje, como mostra a pesquisa “Epicovid 2.0”, apresentada pelo Ministério da Saúde do Brasil em 2024.

Segundo o estudo, 32,4% dos brasileiros que optaram por não se vacinar contra a Covid-19 citaram falta de confiança nas vacinas como motivo principal, enquanto 31% acreditavam que as vacinas poderiam causar danos à saúde. 

Esses números evidenciam como a desinformação gerada durante a crise da Covid-19 ainda influencia comportamentos e decisões, mesmo cinco anos após o auge da pandemia.

Desinformação 5 anos após Covid e sarampo nos EUA

Atualmente, os Estados Unidos enfrentam um surto de sarampo que já resultou em mais de 200 casos e pelo menos duas mortes, sendo que nenhuma das vítimas estava vacinada.

Este é o primeiro registro de mortes por sarampo no país desde 2015, e as autoridades de saúde alertam que o surto pode se expandir ainda mais.

A queda nas taxas de vacinação, impulsionada pela desinformação, é apontada como um dos principais fatores para o aumento dos casos. Informações falsas, como a ideia de que altas doses de vitamina A podem substituir a vacina, continuam a circular, dificultando os esforços de imunização.

Além disso, a nomeação de Robert F. Kennedy Jr. como secretário nacional de saúde por Donald Trump trouxe ainda mais atenção ao debate sobre desinformação e saúde pública. Kennedy alcançou notoriedade durante a crise da Covid-19, quando se posicionou como um dos críticos mais vocais das vacinas.

Ele liderou campanhas que questionavam a segurança e a eficácia das vacinas contra a Covid-19, promovendo teorias desacreditadas que associavam as vacinas a riscos graves.

Sua organização, Children’s Health Defense, ampliou significativamente seu alcance durante a pandemia, dobrando seus fundos e expandindo suas operações para outros países.

Agora, como figura pública de grande influência, suas ações e declarações continuam a gerar controvérsias e preocupações entre especialistas em saúde pública.

Influenciadores de saúde e o clima

Outro fenômeno preocupante é a transição de influenciadores de saúde, que ganharam notoriedade durante a pandemia, para a disseminação de desinformação em outras áreas da ciência, como o negacionismo climático.

De acordo com um estudo da ONG americana Institute for Strategic Dialogue, esses influenciadores começaram a explorar narrativas que misturam espiritualidade e teorias conspiratórias, um conceito conhecido como “conspiritualidade”.

Eles promovem ideias como a de que as mudanças climáticas são resultado de forças ocultas ou de “geoengenharia”, desviando o foco das evidências científicas.

Essa evolução demonstra como esses indivíduos se tornaram poderosos ao explorar a desconfiança nas instituições e expandir seu alcance para além da saúde pública.

Os impactos dessa crise de desinformação vão além da saúde individual. A queda nas taxas de vacinação ameaça a imunidade coletiva, aumentando o risco de surtos de doenças evitáveis.

Além disso, a desinformação enfraquece a confiança nas instituições de saúde e na ciência, dificultando a implementação de políticas públicas eficazes, tornando cada vez mais necessário investir em educação midiática, regulamentar a disseminação de informações falsas e promover campanhas de conscientização que reforcem a importância das vacinas e da ciência climática.

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