Londres – Cinco anos se passaram desde que o mundo mergulhou no caos da pandemia de Covid-19, um drama registrado em imagens poderosas e emocionais que foram destaque nos principais concursos internacionais de fotografia nos dois primeiros anos da crise do coronavírus.
Embora as primeiras notícias sobre um vírus desconhecido na China tenham surgido em dezembro de 2019, foi em 11 de março de 2020 que a realidade brutal se impôs, com a Organização Mundial de Saúde declarando oficialmente o surto como uma pandemia.
Nos meses seguintes, as fotos da Covid capturaram o medo, a dor, mas também a esperança e a solidariedade que surgiram em meio ao sofrimento. Fotógrafos profissionais e amadores documentaram não apenas o horror, mas também os gestos de união e resiliência que marcaram essa crise histórica.
Fotos da Covid premiadas em concursos globais
A foto da Covid vencedora do principal prêmio de fotojornalismo internacional em 2021, o World Press Photo, foi feita em 2020 no Brasil pelo dinamarquês Mads Nissen no Lar Viva Bem, em São Paulo, em 5 de agosto daquele ano.
Este foi o primeiro abraço que Rosa Luzia Lunardi, de 85 anos, recebeu em cinco meses. O carinho foi feito pela enfermeira Adriana Silva da Costa Souza graças à “Cortina do Abraço”, idealizada para criar uma barreira para o vírus.
Brasil em destaque nas fotos do Covid Latam
O coletivo Covid Latam, formado por 18 fotógrafos da América Latina, incluindo brasileiros, ganhou o prêmio FotoEvidence Book Award do World Press Photo 2021, com suas fotos que documentaram os efeitos da pandemia no cotidiano das comunidades mais vulneráveis da região, suas crises e o aprofundamento das desigualdades sociais.
Nesta foto publicada no The New York Times, moradores do Edifício Copan batem panelas em protesto contra a gestão da Covid presidente Jair Bolsonaro, em 18 de março de 2020.
No dia anterior, havia sido confirmada a primeira morte de um brasileiro pela Covid-19, num hospital da cidade de São Paulo. Três meses depois, o Ministério da Saúde mudou a data da primeira morte para 12 de março, mas na mesma capital paulista.
O flagrante mostra o protesto marcante da ONG Rio de Paz no 11 de junho de 2020. Cruzes foram fincadas na praia de Copacabana, a mais famosa do Rio de Janeiro, para homenagear os brasileiros mortos pela Covid-19, que àquela altura já somavam 40 mil.
Esta vista aérea mostra a imensidão de covas abertas no cemitério paulista de Vila Formosa, que se tornou internacionalmente conhecido após a explosão de mortes no Brasil.
A escavação de sepulturas em série se tornou uma prática comum no local, que na ocasião presenciava 40 enterros por dia. A chegada da pandemia se acelerou e deu visibilidade a um local que já estava marcado pela tragédia.
Siena International Photo Awards : categoria só para fotos da Covid
Um dos principais concursos do mundo teve em 2021 uma categoria exclusiva para fotos da Covid.
1º Lugar – Aniversário, por Brais Lorenzo Couto, Espanha
Os funcionários da casa de repouso San Carlos de Celanova comemoram o aniversário de Elena Pérez, 98, duas semanas depois que ela sobreviveu ao coronavírus. Nove residentes morreram nesta casa de repouso e mais de 40 testaram positivo para a Covid-19.
2º lugar – Noite na época da pandemia, por Ares Jonekson, Indonésia
Em um final de tarde de outubro, no Cemitério Público Pondok Ranggon, vários agentes funerários estão fazendo uma pausa com seus smartphones. Durante este período de pandemia, eles enterraramde 30 a 40 vítimas de Covid-19 todos os dias.
3º lugar – A vida em uma lágrima, por Rodrigo Cabrita, Portugal
Uma doença rara e perigosa associada à Covid-19 levou Francisco, 13 anos, a ser internado na UTI do Hospital D. Estefânia, em Lisboa, com uma patologia que já tinha causado mortes.
Os sintomas começaram a se manifestar intensamente e, desde as manchas vermelhas iniciais nas mãos até a insuficiência renal e respiratória, a doença progrediu rapidamente. Dias depois de ser intubado, ele respondeu positivamente à terapia.
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Wellcome Photography Award 2021: ‘Combatendo Infecções’
O prêmio da fundação de saúde Wellcome também abriu uma categoria somente para fotos da covid-19 ou de dificuldades adicionais criadas pela pandemia, que ganhou o nome de Combatendo Infecções.
1º lugar – O Tempo do Coronavírus, por Aly Song – China
Em Wuhan, China , onde a pandemia começou, voluntários desinfetam em abril de 2020 o Grande Teatro Qintai. Eles trabalham para a equipe Blue Sky Rescue, a maior ONG humanitária da China.
Categoria Combatendo Infecções – Série
1º lugar – Mulher Trans: Entre Cor e Voz, por Yoppy Pieter – Indonésia
A série ‘Mulher Trans: Entre cor e voz’ retrata os muitos obstáculos que enfrentados na Indonésia, que vão da dificuldade em encontrar emprego ao acesso a cuidados de saúde. E que se agravaram com a Covid-19.
Mira (nome fictício) é uma trabalhadora do sexo em Jacarta. Com as restrições da Covid ela não pode mais trabalhar na rua, e passou a fazê-lo pela internet. “Não tenho opção e preciso trabalhar para pagar o aluguel e o sustento”, diz ela.
Lilis (centro) foi fotografada por Pieter quando fazia um teste de HIV em Serpong, South Tangerang. Ela está acompanhada por Aurel (à esquerda), da Pelita Tangsel, uma organização que ajuda mulheres trans a ter acesso aos serviços de saúde quando elas não têm a documentação oficial exigida.
Darni mostra sua carteira de identidade, que está com seu antigo nome, Darno, e expirou em 2012. Estima-se que 70% das mulheres trans em Jarkarta não têm carteiras de identidade válidas, que são necessárias para ter acesso a serviços governamentais como educação, suporte financeiro e saúde – inclusive para a Covid-19.
Mama Yuli senta-se com Mama Dona apoiada em seu joelho. Como líder do Fórum de Comunicação de Transgêneros da Indonésia, Mami Yuli se dedica a lutar pelos direitos das mulheres trans. Durante a pandemia, ela distribuiu apoio financeiro à sua comunidade, com contribuições provenientes de indivíduos e igrejas.
Fotos da Covid no International Photography Award (IPA)
O concurso premiou fotos da Covid em várias categorias em 2021.
Categoria Família
1º lugar – Luto incomparável, por Samuel Rrajkumar
Membros da família de Vijay Raju, que morreu devido à Covid-19, choram durante sua cremação na aldeia de Giddenahalli nos arredores de Bengaluru, Índia, em 13 de maio de 2021.
Na Índia, as infecções por coronavírus ultrapassaram os 24 milhões de pessoas. Todo o país testemunhou milhares morrendo diariamente devido à falta de instalações médicas, falta de oxigênio e um número esmagador de infecções crescentes por hora. O resultado é uma visão triste de voluntários conduzindo enterros e cremações 24 horas por dia.
Categoria Vida no confinamento
1º lugar – Audiência no tribunal da cozinha, por Liz Hingley
Um advogado trabalhando em casa durante o lockdown número dois em Londres, 2020. Alguns juízes do Reino Unido solicitaram que os advogados se vestissem com terno e gravata para as audiências judiciais pelo zoom.
Categoria Isolamento
1º lugar – Distanciamento Social, por Jason Au, Hong Kong
Em uma tarde de domingo durante o ano pandêmico de 2020, vários grupos de habitantes de Hong Kong sentados sozinhos ou em pares foram capturados na imagem. Eles passavam o fim de semana sob a claraboia do átrio de um shopping.
Categoria Tecnologia
1º As vídeochamadas são as novas visitas durante a pandemia, graças à tecnologia, por Carles Ramos
Uma enfermeira aproxima um tablet durante uma vídeo chamada com as filhas de um paciente hospitalizado.
Fotos da Covid no BPPA Press Photographer of the Year
A série vencedora em 2021, de autoria do britânico radicado em Nova York Adam Gray, foi composta fotos da Covid na cidade americana que viveu um dos mais graves surtos de coronavírus do mundo. As imagens exploram o drama humano da doença e dos profissionais de saúde.
News Photo Awards
O Sacramento, por Ilya Pitalev, Rússia
“O sacramento”, por Ilya Pitalev, agência Rossiya Segodnya (Sputnik), da Rússia, retratou o padre Ioann visitando Anna Odinokova, de 81 anos, que estava sofrendo os efeitos do coronavírus em sua casa em Moscou, em maio de 2020.
Projeto Depois de Abril, Cuba
Não foi um concurso, com vencedores e prêmios. Ao criar o projeto colaborativo Depois de Abril, em junho de 2020, dois meios de comunicação independentes de Cuba tiveram como objetivo capacitar e estimular fotógrafos amadores e profissionais a documentar de forma criativa e humana o isolamento social imposto pelo coronavírus.
Grife Covid, por Randy B.
Para o autor da foto, o nome Covid na máscara de um adolescente em uma rua deserta em Havana remeteu às peças de grife usadas pelos jovens que enchiam as animadas ruas da cidade antes da pandemia. Nenhuma marca teve tanta exposição nos últimos meses.
Lacuna, por Gabriela Molina
O desespero do confinamento foi traduzido por Molina em uma imagem forte e dramática, de alguém que está prestes a afundar. “Estar trancada em casa às vezes é como olhar para um poço sem fundo”, disse.
Mudança, por Anniet Forte
Uma cena tão normal, a de um caminhão sendo descarregado, passa a ser vista de outra forma. Forte utilizou-a para simbolizar a ansiedade criada pela quarentena. “Você olha pela janela e tenta entender o que mudou, mas o mundo continua o mesmo.”
Anjos de Mármore, por Raimel Fernandez
No meio da crise da Covid-19, Fernandez conheceu essas estátuas de anjos. E enxergou nas manchas causadas pela deterioração uma lágrima escorrendo do rosto de um deles.