No mรชs em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Instituto Reuters e a Repรณrteres Sem Fronteiras (RSF) estรฃo lanรงando luz sobre os persistentes desafios enfrentados pelas mulheres jornalistas.

Esses desafios nรฃo apenas afetam as profissionais individualmente.

Eles tambรฉm prejudicam a sociedade como um todo, sobretudo ao impactar a cobertura sobre questรตes de gรชnero e direitos das mulheres.

Mulheres no jornalismo: ciberataques e autocensura

Um dos maiores desafios รฉ o assรฉdio digital, que leva muitas jornalistas ร  autocensura, prejudicando o direito do pรบblico ร  informaรงรฃo.

Uma pesquisa da RSF revela que quase 60% dos jornalistas conhecem colegas que foram vรญtimas de ataques online em razรฃo do seu trabalho.

A impunidade agrava ainda mais esse cenรกrio, com 93% dos entrevistados afirmando nรฃo conhecer nenhuma condenaรงรฃo de agressores.

Essas ameaรงas virtuais frequentemente ultrapassam o mundo digital, afetando a seguranรงa fรญsica e a saรบde mental das jornalistas e de suas famรญlias.

Cobertura de gรชnero afetada

A cobertura de questรตes de gรชnero รฉ particularmente afetada, com jornalistas que escrevem sobre temas como direitos reprodutivos e violรชncia contra a mulher expostas a violentas campanhas de ciberassรฉdio e intimidaรงรฃo, incluindo ameaรงas de estupro e agressรตes fรญsicas.

Para mitigar esses problemas, a RSF sugere uma sรฉrie de medidas.

Os governos devem garantir a proteรงรฃo de jornalistas que abordam direitos das mulheres, criminalizar o assรฉdio digital e promover a igualdade de gรชnero nas redaรงรตes.

Alรฉm disso, a criaรงรฃo de comitรชs nacionais de seguranรงa e a nomeaรงรฃo de responsรกveis pela investigaรงรฃo desses crimes nas forรงas policiais sรฃo essenciais, assim como a aรงรฃo das plataformas digitais para combater ataques.

As redaรงรตes, por sua vez, devem instituir a funรงรฃo de editor de gรชnero, incentivar a participaรงรฃo em redes investigativas e oferecer treinamento sobre assรฉdio online, conforme recomendaรงรฃo da entidade.

Sub-representaรงรฃo feminina na lideranรงa

O Instituto Reuters tambรฉm aproveitou o dia 8 de marรงo para divulgar seu mapeamento anual sobre a presenรงa de mulheres na lideranรงa principal das maiores redaรงรตes de 12 paรญses, incluindo o Brasil.

E os resultados continuam preocupantes. Embora as mulheres representem 40% da forรงa de trabalho em jornalismo, elas ainda enfrentam barreiras para ascender a cargos de lideranรงa.

Globalmente, apenas 27% dos cargos de chefia editorial sรฃo ocupados por mulheres. No Brasil, a situaรงรฃo รฉ ainda mais alarmante, com a participaรงรฃo feminina na lideranรงa editorial caindo de 22% em 2020 para 21% em 2025.

O Brasil apresenta uma das maiores disparidades entre a proporรงรฃo de mulheres jornalistas e sua presenรงa como principais lรญderes das redaรงรตes, evidenciando normas de gรชnero arraigadas e ambientes de trabalho predominantemente masculinos.

O estudo do Reuters recomenda que as empresas jornalรญsticas implementem iniciativas que promovam a equidade de gรชnero, a fim de assegurar que mais mulheres alcancem o topo.

A proteรงรฃo da liberdade de imprensa e a valorizaรงรฃo das vozes femininas no jornalismo dependem da implementaรงรฃo dessas medidas.