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Alerta laranja de chuvas fortes faz lembrar tragédia no RS: fotógrafo premiado revela bastidores de sua imagem icônica

Foto premiada mostra caiaque indo resgatar pessoas no centro de Porto Alegre durante enchentes

LondresO alerta laranja emitido pelo Inmet devido ao risco de  chuvas intensas em várias regiões do Brasil reacende a preocupação com eventos climáticos extremos. Entre as tragédias recentes, as enchentes que devastaram Porto Alegre em 2024 ainda estão na memória de muitos.

Esse desastre foi registrado pelo olhar atento do fotógrafo Gerson Turelly, cuja imagem de um socorrista solitário navegando pelas ruas alagadas foi premiada pela Royal Meteorological Society como a melhor na categoria Mudança Climática de 2024. 

Foto de enchente em Porto Alegre após chuvas intensas de 2024

Diferente de fotos que mostram o sofrimento das vítimas, a obra de Turelly capturou um momento de calmaria inquietante: os prédios refletidos na água parada, criando um efeito visual impactante. A cena transmite a magnitude do evento sem recorrer ao choque direto.

Uma imagem que eternizou o impacto das enchentes

A escolha da imagem pelo júri e pelo público reforça o papel da fotografia na conscientização ambiental.

Os jurados comentaram como a imagem mostra “passado, presente e futuro”: inundações sempre existiram e exigiram adaptação, mas à medida que as mudanças climáticas aumentam a intensidade das chuvas, elas se tornam ainda mais comuns, demandando soluções como a prevenção dos riscos.

Para Turelly, que também leciona fotografia, os registros visuais são ferramentas poderosas de mobilização, mas não precisam sempre focar na tragédia para gerar impacto

Além de documentar as enchentes, o fotógrafo também se engajou na reconstrução: ele doou uma cópia assinada da imagem premiada para um leilão beneficente em apoio a uma ONG que atuou no resgate e suporte às vítimas.

Em tempos de alerta laranja, as reflexões do fotógrafo que registrou efeito das chuvas intensas no Sul

As mudanças climáticas continuam a trazer desafios, e eventos como o risco de chuvas intensas que motivaram o atual alerta laranja são um lembrete de que a prevenção e a conscientização são essenciais. Fotografias como a de Turelly ajudam a manter essa discussão viva e a inspirar ações concretas. 

O fotógrafo contou os bastidores da imagem e refletiu sobre o poder da fotografia para sensibilizar a sociedade. 

Gerson Turelly
Fotografei o que vi e senti

“A foto premiada foi feita no cruzamento de duas ruas muito movimentadas do Centro. Mas as únicas pessoas que estavam ali naquele momento eram socorristas. Um voluntário vestiu o colete, entrou em seu caiaque e seguiu em direção à área onde as águas eram mais profundas para levar itens essenciais a pessoas que ainda lá permaneciam.

Naquele momento percebi que ali estava a cena que contava um pouco da história de tudo: lugar histórico, lugar de movimento (placas de trânsito, parada de ônibus, muitos prédios), inundação inacreditável e bravura dos voluntários. Fotografei o que vi e o que senti.”

Foto premiada ajudou a manter o assunto na pauta

“A fotografia, entre tantas das suas “missões”, tem a de informar e a de lembrar, criar memória.  

A imprensa tem conseguido dar voz a todos as partes envolvidas na situação. Mas é preciso continuar “batendo na tecla”. Até porque o “assunto” [mudança climática] já faz parte do nosso cotidiano, como a economia e a política.”

O futuro precisa de registros trágicos e redentores…

“No Brasil, como em todos os países, há uma parte da imprensa que é mais sensacionalista e outra mais cuidadosa em relação à exposição de pessoas após acontecimentos trágicos.

Também como em muitos outros lugares do mundo, grande parte do público dá atenção às cenas mais trágicas, nas quais as pessoas têm sua dignidade comprometida, inclusive compartilhando essas cenas.

Por um lado, entendo que seja importante ter o registro de tudo, da cena mais trágica à cena mais redentora em meio à tragédia. O futuro precisa desses registros.”

... mas ‘inundar’ com cenas trágicas pouco colabora para o entendimento dos fatos

“Por outro lado, entendo que inundar os noticiários, a internet e as redes sociais com cenas trágicas pouco colabora para um verdadeiro entendimento dos fatos. Isso acaba por impactar mais ainda as pessoas atingidas pela tragédia.

Mostrar insistentemente famílias em prantos por perderem suas moradias após tragédias como chuvas intensas tanto pode provocar compaixão como provocar pensamentos perigosos, como “essas famílias erraram em construir casas nesses lugares”.

Enquanto isso, a discussão sobre os reais problemas acaba ficando de lado.”


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