O estado de Guanajuato, no México, foi palco de dois assassinatos de jornalistas em um curto período de doze dias em março, acentuando a perigosa situação de violência contra a imprensa no país e particularmente nesta região.

Ambos os jornalistas dirigiam veículos de notícias independentes locais, um padrão nas mortes de profissionais da mídia no México e também em outros países da América Latina.

O caso mais recente ocorreu em 14 de março, quando Raúl Irán Villarreal Belmont, diretor do meio de comunicação digital Observatorio Ciudadano, foi assassinado em San Luis de la Paz. Seu corpo, crivado de balas, foi encontrado horas após seu sequestro por um grupo armado.

Apenas doze dias antes, em 2 de março, outro jornalista foi assassinado em Guanajuato: Kristian Uriel Martínez Zavala, de 28 anos, que também dirigia uma página de notícias no Facebook, foi morto a tiros junto com seu motorista.

Segundo a Unesco, ele já havia estado sob proteção após receber ameaças relacionadas ao seu trabalho, situação que se repete no México com outros jornalistas assassinados recentemente. 

Violência contra a imprensa local mexicana em Guanajuato

De acordo com a Repórteres Sem Fronteiras, a região de Guanajuato é considerada uma das mais perigosas do México para jornalistas, assolada por um confronto violento entre o Cartel da Nova Geração de Jalisco e o Cartel de Santa Rosa de Lima.

Villarreal Belmont era conhecido por seu trabalho investigativo e era uma voz proeminente na região, tendo recebido repetidas ameaças por suas reportagens.

Suas investigações frequentemente expunham a corrupção na administração do prefeito Rubén Urías.

Dias antes de sua morte, em 11 de março, ele havia denunciado um caso de fraude envolvendo um líder empresarial local e funcionários do governo no Observatorio Ciudadano, uma página de notícias do Facebook que ele fundou e dirigiu, inclusive pedindo publicamente queixas coletivas e justiça.

Além de seu trabalho jornalístico, Villarreal Belmont também estava envolvido na política, tendo concorrido ao conselho municipal em 2024 e à prefeitura em 2021 pelo partido Movimiento Ciudadano.

RSF cobra investigação completa e independente

A semelhança nos perfis das vítimas – jornalistas que atuavam em plataformas digitais independentes e cobriam questões locais – levanta sérias preocupações sobre a liberdade de imprensa na região.

A RSF lamentou profundamente o assassinato de Villarreal Belmont e instou o Ministério Público do Estado de Guanajuato a garantir uma investigação completa e independente sob o Protocolo Unificado para Crimes Contra a Liberdade de Expressão.

A organização enfatizou que a violência contra a imprensa no México continua a ceifar vidas e que a impunidade por esses ataques está alimentando a crise.

Artur Romeu, diretor da RSF América Latina, pediu urgentemente ao governo mexicano que implemente medidas concretas e eficazes para proteger os jornalistas e levar os perpetradores desses crimes à justiça.

O México ocupa uma posição preocupante no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF de 2024, estando em 121º lugar entre 180 países e territórios, e continua sendo o país mais perigoso para jornalistas fora de zonas de guerra.