Londres – Um novo relatório do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford, traz dados preocupantes sobre a diversidade na mídia.

A análise de 100 grandes veículos de notícias em cinco países (Brasil, Alemanha, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos) revelou que apenas 17% dos 70 principais líderes dessas organizações são pessoas negras ou não brancas. Nos EUA, esse grupo inclui também asiáticos e latinos.

O percentual representa uma queda de seis pontos em relação aos 23% registrados no ano anterior e marca o maior recuo desde o início da coleta de dados, em 2020, quando a proporção era de 18%.

Brasil segue sem editores negros nas principais redações

Publicado no Dia Internacional Contra a Discriminação Racial (21 de março), o estudo revelou que pelo quinto ano consecutivo nenhuma das organizações jornalísticas analisadas no Brasil tem uma pessoa negra no cargo de editor principal.

Essa falta de representatividade é ainda mais preocupante em um país onde 57% da população se identifica como negra, segundo o Instituto Reuters.

Alemanha e Reino Unido também enfrentam déficit de diversidade na mídia

Para chegar aos resultados, os pesquisadores selecionaram os dez maiores veículos de notícias online e os dez maiores offline em cada um dos cinco mercados, com base nos dados do Digital News Report 2024 do Reuters Institute.

Em alguns casos, um único profissional lidera mais de um veículo do mesmo grupo de jornalismo.

A falta de diversidade racial na liderança da mídia não é exclusividade do Brasil.

Na Alemanha, por exemplo, nenhum dos veículos analisados tem um editor principal negro desde 2021, apesar do histórico de migração do país.

No Reino Unido, a situação piorou em 2025: após atingir 7% de representatividade em 2024, o país voltou ao patamar de 2020, sem nenhum editor negro nos veículos pesquisados.

Nos EUA, inclusão sob risco com políticas anti-DEI de Trump

Nos Estados Unidos, a proporção de editores principais não brancos caiu para 15% em 2025, uma queda expressiva em relação aos 29% do ano anterior.

Apesar disso, os EUA ainda se mantêm à frente de Alemanha e Reino Unido em termos de diversidade racial na liderança da mídia, embora essa tendência possa mudar com as políticas anti-DEI do governo Donald Trump.

Nesta sexta-feira (28), a Disney recebeu uma notificação da agência reguladora de comunicações dos EUA (FCC) informando que será alvo de uma investigação por suas políticas de diversidade, que foram tornadas ilegais pelo atual governo.

Entre as empresas do grupo está a rede de televisão ABC.

Mesmo na África do Sul, diversidade na mídia está em declínio

Mesmo na África do Sul, onde a diversidade racial na liderança editorial é maior, houve queda. O país, que continua liderando com 63% de editores principais negros, viu essa proporção diminuir em relação aos 71% registrados em 2024 e aos 80% em 2023.

Com exceção da África do Sul, todos os países analisados apresentam uma porcentagem de editores não brancos muito abaixo da representatividade desses grupos na população geral.

Mulheres também enfrentam barreiras na diversidade na mídia

O cenário se torna ainda mais desanimador diante de outro relatório recente do Instituto Reuters, que apontou desafios semelhantes em relação à diversidade de gênero nas lideranças editoriais.

Globalmente, apenas 27% dos cargos de chefia são ocupados por mulheres.

No Brasil, a situação é ainda mais preocupante: a participação feminina na liderança editorial caiu de 22% em 2020 para 21% em 2025.