O aumento das taxas de importação decretado por Donald Trump no chamado “Dia da Libertação” desencadeou uma crise política e econômica que abalou até mesmo a relação com seus aliados mais próximos – de grandes nomes do mundo corporativo que reprovaram as medidas até Elon Musk, um aliado incondicional chamado de gênio pelo presidente e igualmente contrário à guerra de tarifas com o mundo. 

Nesta terça-feira (8)  de abril de 2025, a tensão atingiu um novo patamar após uma série de postagens contundentes de Musk contra Peter Navarro, assessor comercial de Trump, chamado de “burro como um saco de tijolos” pelo empresário em sua conta na rede X, ex-Twitter. 

As críticas de Musk foram desencadeadas por declarações de Navarro feitas no dia anterior, em uma entrevista à CNBC, na qual ele defendeu as tarifas de importação e minimizou a importância das críticas de Musk, afirmando que ele era um mero montador de carros e não um fabricante, e que estava protegendo seus interesses comerciais. 

Trump e Musk: de gênio a opositor do aumento de tarifas que virou crise global

Essa tensão em nada lembra o clima de romance entre Trump e Musk, que mergulhou na campanha eleitoral pessoalmente e investiu uma pequena fortuna para ajudar o presidente a voltar à Casa Branca.

Há menos de seis meses, em novembro passado, Trump chamou Musk de “gênio” durante um discurso em Mar-a-Lago, destacando sua visão inovadora e nomeando-o para liderar o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE).

Com amplos poderes para cortar verbas e eliminar serviços, Musk foi saudado como o homem que traria eficiência ao governo.

O bilionário se tornou presença constante ao lado de Trump em eventos oficiais, o que refletia uma relação de proximidade.

Ele participou de coletivas de imprensa na Casa Branca, inclusive em uma ocasião memorável em que apareceu com seu filho nos ombros, evidenciando a dimensão pessoal de sua aliança.

Em outro gesto de apoio, Trump transformou o jardim da Casa Branca em um showroom temporário da Tesla em março de 2025, quando elogiou os carros da marca, descrevendo-os como “belos”, e até anunciou que compraria um modelo para si, tentando defender Musk de boicotes à marca relacionados ao seu papel no governo.

No entanto, essa aliança inicial com o governo foi afetada pela divergência de opiniões sobre as políticas econômicas, especialmente no que diz respeito à guerra das tarifas que Trump impôs, embora a Casa Branca tenha negado que o empresário perdeu prestígio. 

Tarifas: o divisor de águas na relação de Musk com governo Trump

A relação com o governo começou a se desgastar quando a política de tarifas de importação anunciada por Trump passou a afetar diretamente os interesses de Musk. 

Como líder de empresas que dependem de cadeias de suprimentos globais, Musk criticou abertamente as tarifas, alegando que elas prejudicariam mais as empresas americanas do que seus concorrentes estrangeiros.

Sua tentativa de convencer Trump a reconsiderar as tarifas e a zerar as taxas entre a Europa não teve sucesso, o que o levou a intensificar as críticas. 

Tensões públicas e o confronto com Navarro

As declarações provocativas de Peter Navarro, em uma entrevista à CNBC na terça-feira, exacerbam ainda mais as tensões e deixaram claro que Musk não é unanimidade dentro da administração, ainda que a porta-voz da Casa Branca tenha afirmado nesta terça-feira que a briga seria “coisa de garotos”, como forma de minimizar o caso. 

Em defesa das tarifas, o assessor comercial de Donald Trump afirmou que Musk era “apenas um montador de carros” e que dependia de peças importadas de países como China, Japão e Taiwan.

Ele também tentou minimizar a disputa, afirmando que “não há rixa” e que Musk apenas buscava proteger seus próprios interesses comerciais. No entanto, suas palavras inflamaram a situação, amplificando a tensão entre Musk e Trump em torno das políticas de tarifas.

Nesta terça-feira Elon Musk revidou, classificando Peter Navarro como “burro como um saco de tijolos” em referência a uma suposta falha na informação sobre o percentual de componentes importados nos carros da Tesla, acusando-o de espalhar informações “demonstravelmente falsas”.

Afastamento político:rumores de saída e o impacto nas alianças

Esse incidente não é o primeiro desgaste. Elon Musk se tornou uma figura tão polêmica que pode ter virado um passivo de imagem para o governo Trump, provocando especulações sobre uma possível saída antecipada da liderança do DOGE. 

Boicotes aos automóveis Tesla viraram um movimento organizado, “Tesla Takedown”.

Em Londres, ativistas criaram uma campanha colocando painéis nos espaços publicitários do transporte público com ataques a Musk e a Donald Trump, afetando também a imagem do presidente. 

Na semana passada, surgiram rumores na imprensa americana de que Musk deixaria seu cargo até o fim de abril, o que foi desmentido tanto por ele quanto pela Casa Branca.

No entanto, ambos confirmaram que sua posição como funcionário especial do governo tem um limite de 130 dias, e ele deve deixar o cargo “em breve.”

Mas derrotas judiciais revertendo demissões ou cortes de verbas, que têm se acumulado, também contribuem para a perda da magia de Elon Musk. 

O futuro da relação: de aliados a adversários nas políticas econômicas

Embora Trump ainda tenha elogiado Musk como um “patriota” e destacado suas contribuições, a relação entre os dois parece estar em um ponto de inflexão.

A parceria que começou com promessas de inovação e eficiência agora enfrenta o peso da tensão ideológica e das pressões políticas em torno das tarifas.

Enquanto isso, Elon Musk colhe em seus negócios os frutos das controvérsias em que se engajou, ao cortar serviços importantes como benefícios sociais e ajuda humanitária americana, vital para muitos países e projetos comunitários, bem como para o jornalismo independente. 

Há duas semanas, manifestações contra o empresário foram realizadas nos EUA e em vários países, na forma de boicotes aos automóveis Tesla, e isso pode ser mais um fator a comprometer a conveniência de sua permanência no governo Trump, agregando mais críticas do que elogios.