Desde a última terça-feira (15), milhares de pessoas ao redor do mundo estão trocando programas e séries movimentadas pela paz de um reality show inusitado: “A Grande Migração dos Alces”, uma live exibida pela TV pública da Suécia em que os “brothers” são alces selvagens.
A transmissão, que ocorrerá até 4 de maio durante 24 horas por dia, é feita pelo streaming SVT Play e pode ser assistida de qualquer país, permitindo acompanhar ao vivo o nado dos animais cruzando o rio Ångerman, no nordeste da Suécia, a 300 km de Estocolmo.

Criado em 2019, o programa se tornou um fenômeno de audiência no canal sueco, atraindo um milhão de espectadores naquele ano. Em 2024, o ‘reality’ alcançou nove milhões de espectadores, que se encantam com os alces e outros personagens que tentam roubar a cena, como ursos, raposas e aves.
O “Big Brother dos Alces” virou um exemplo da chamada slow TV — programações lentas, sem roteiros nem efeitos especiais, abrindo espaço para conteúdos que desacelerem ao invés de estimular.
Mas é uma superprodução, com quase 19 quilômetros de cabos, 26 câmeras remotas, sete câmeras noturnas e um drone. A ‘trilha sonora’ é tranquilizante, com o ruído de aves e das águas do rio.
O clipe da SVT mostra cenas da migração filmadas no ano passado.
Uma equipe de até 15 profissionais se reveza na sala de controle em uma cidade próxima, produzindo o reality sem interferir na migração.
Migração dos alces ocorre desde era do gelo
A transmissão da SVT exibe a migração dos alces euro-asiáticos (Alces alces) — que desde a última era glacial esperam a chegada da primavera a cada ano para cruzar a nado o rio Ångerman, ainda em fase de degelo.
O fenômeno de migração faz parte de um ciclo anual da espécie. Do outro lado das águas, eles trilham até campos ao norte, com solos renovados após o inverno.
Este ano a SVT teve que iniciar as transmissões uma semana mais cedo, em decorrência do calor que antecipou o degelo do rio e, consequentemente, a chegada dos animais.
Espectadores comemoram as aparições na live
A premissa da live de transmitir a migração dos alces é simples, mas virou uma obsessão para os fãs na Suécia e ao redor do mundo.
Isso porque os protagonistas do programa não estão sempre em cena, o que gera ainda mais antecipação sobre os “flagras”. Para os mais impacientes, a linha do tempo abaixo da imagem indica os pontos onde alguma animal apareceu e as travessias do dia.
Alces, considerados os “reis da floresta” pelos escandinavos, podem chegar a 2m de altura e pesar até 450 quilos. No entanto, são gigantes tímidos e solitários, o que torna vê-los na vida real um fenômeno raro.
A SVT mantém um contador ao vivo de quantos alces conseguiram atravessar o rio — que, por si só, também é um fenômeno raro de flagrar ao vivo. Qualquer ruído ou surpresa para os animais é motivo suficiente para fazê-los dar meia-volta e nadar para o outro lado.
Apesar da timidez, as câmeras intercalam com imagens e sons da vida selvagem, mostrando também atividades da fauna local, como patos botando ovos, cisnes se alimentando no rio, raposas e corujas perambulando.
Até intrusos maiores, como um urso marrom devorando uma carcaça, dão as caras na transmissão e aproveitam para fazer uma ‘ponta’ no reality animal.
Durante a transmissão, o público reage com emojis ao movimento dos animais, “aplaudindo” quando eles conseguem finalmente realizar a travessia.
Até a manhã deste domingo (20) 46 alces atravessaram o rio Ångerman, muitas vezes entre pedaços de gelo boiando sobre as águas, com direito a uma bela “sacudida” no final para se secarem bem antes da entrada na floresta de pinheiros.
Como assistir
Não é preciso cadastro. As cenas são exibidas 24 dias, com câmeras alternadas comandadas pela equipe da SVT.
Confira no streaming da rede sueca.
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Live de migração dos alces é exemplo de ‘slow TV’
Mais do que a mera transmissão da migração dos alces pelos rincões da Suécia, a live também é um exemplo bem-sucedido da chamada “slow TV” — programas sem montagens adicionais para prender o espectador.
Neles, não há cortes, efeitos de som ou recursos visuais extras. O público assiste apenas às imagens e sons captados pelas câmeras.
Oficialmente, a primeira transmissão de slow TV ocorreu em 2009, pela TV pública norueguesa NRK. Na ocasião, a emissora exibiu um minuto a minuto de uma viagem de trem de sete horas pelo sul da Noruega.
À Euronews, Annette Hill, professora de mídia e comunicação na Universidade de Jönköping, na Suécia, explica que parte da graça deste modelo de programas como A Grande Migração dos Alces está em sua autenticidade.
“Tornou-se um fenômeno de uma forma estranha, emocionante, porque não acontece nada de catastrófico, nada de espetacular. Mas algo muito bonito ocorre naquele momento, minuto a minuto”, conta ela ao veículo.
Produções que permitem que o público simplesmente relaxe diante de alces, raposas e patos possuem respaldo científico.
Uma publicação recente na revista Nature Communications indica que a exposição à ambientes de natureza — mesmo que virtuais — tem efeitos positivos na redução de dores.