Imagens da triste realidade das consequências da guerra em Gaza para uma criança com a vida transformada, da desafiadora jornada de migrantes da China em sua jornada para a América do Norte e do impacto humano das secas históricas na Amazônia foram as grandes vencedoras World Press Photo 2025, que acaba de anunciar a Foto do Ano e as duas imagens finalistas. 

A foto eleita pelos jurados como a melhor do ano retrata um menino de nove anos que perdeu os dois braços em um bombardeio em Gaza e foi feita para o New York Times. A autora é a palestina Samar Abu Elouf. 

A imagem e as outras duas finalistas do principal concurso de fotojornalismo no mundo foram escolhidas por um júri formado por profissionais de vários país, incluindo do Brasil, entre as 42 premiadas nas etapas regionais, que por sua vez haviam sido selecionados entre mais de 59 mil trabalhos. 

Foto do ano do World Press Photo retrata sofrimento infantil

Mahmoud Ajjour, de nove anos, foi atingido enquanto fugia de um ataque israelense na Cidade de Gaza em março de 2024. Uma explosão cortou um de seus braços e mutilou o outro.

A fotógrafa deixou Gaza em dezembro de 2023 e mora no mesmo complexo de apartamentos em que Mahmoud passou a viver com a família, em Doha (Qatar), para onde muitos palestinos que viviam na região da guerra foram levados. 

Ela passou a documentar alguns dos poucos gravemente feridos que conseguiram tratamento médico. 

Lucy Conticello, Diretora de Fotografia do Le Monde e presidente do júri global do concurso, disse: 

“O menino está de frente para uma janela e uma luz quente brilha sobre ele, lançando uma sombra suave em um lado de seu rosto. Sua tenra idade e belas feições contrastam com sua expressão melancólica. Você então percebe com um choque que ele está sem os braços.”

Menino palestino sem braços foto do ano no World Press Photo 2025
WPP 2025 / Foto: Samar Abu Elouf

A guerra em Gaza teve um impacto desproporcional nas crianças. A ONU estima que, em dezembro de 2024, Gaza tinha o maior número de crianças amputadas per capita em qualquer lugar do mundo.

O júri comentou que a fotografia representa o preço de longo prazo da guerra, dos silêncios que perpetuam a violência e o papel do jornalismo na exposição destas realidades.


Travessia noturna

A outra foto escolhida pelo júri do World Press Photo como uma das três melhores do ano é de autoria do americano John Moore, da Getty Images. 

Ele registrou migrantes chineses tentando se aquecer sob a chuva fria depois de cruzarem a fronteira entre os EUA e o México, em março de 2024.

Migrantes chineses em travessia noturna rumo aos EUA, foto premiada no World Press Photo
WPP-2025Contest-SouthAmerica- Foto: John Moore

A imigração não autorizada da China para os EUA aumentou  nos últimos anos devido a uma série de fatores, incluindo a economia em dificuldades no país asiático,  as perdas financeiras após políticas rígidas para zerar os casos de covid-19 e o incentivo de tutoriais nas redes sociais chinesa ensinando como cruzar a fronteira. 

Para os jurados, a imagem retrata as realidades complexas da migração na fronteira, que é muitas vezes minimizada e politizada no discurso público nos Estados Unidos.

O júri comentou que o estilo, que lembra uma cena sobrenatural, aliada à ternura entre pais e filhos, convida à reflexão e evoca questões sobre as incerteza.

“Numa única imagem o fotógrafo transmite imensa vulnerabilidade e resiliência.”


Secas na Amazônia

O fotógrafo Musuk Nolte (Peru/México), em um trabalho para a Panos Pictures e Fundação Bertha, retratou um jovem levando comida para sua mãe que mora na aldeia de Manacapuru. A aldeia já foi acessível por barco, mas por causa da seca, ele agora precisa caminhar dois quilômetros ao longo do leito seco do Solimões.

Jovem anda em leito de rio seco na Amazônia, finalista como Foto do Ano no World Press Photo
WPP-2025Contest– Foto: Musuk Nolte

O rio Amazonas está experimentando níveis recordes de água baixa devido à seca severa intensificada pelas mudanças climáticas. Esta crise ecológica ameaça a biodiversidade, perturba os ecossistemas e afeta as comunidades locais que dependem dos rios para sobreviver.

À medida que as secas se intensificam, muitos residentes enfrentam a difícil escolha de abandonar suas terras e meios de subsistência para áreas urbanas, mudando o tecido social desta região permanentemente.

É um exemplo de como os efeitos das alterações climáticas, que tantas vezes podem ser abstratos ou difíceis de representar, se revelam como uma realidade tangível e concreta que molda o futuro das comunidades vulneráveis estreitamente ligadas ao mundo natural.

O World Press Photo justificou a escolha da imagem como fundamental para destacar a seca sem precedentes na Amazônia e seu profundo impacto nas comunidades.